Nós – para usar a expressão de Graciliano Ramos – , desgraçados materialistas, frequentemente temos a tendência, no final da vida, de sermos pragmáticos e indulgentes com nossos pecados, tanto quanto intolerantes com pecados alheios.
Há os que, por terem sido remadores contra as marés de dias, anos, meses, anos e até décadas, se vêem agora como sócios remidos da existência, que deram a sua parte de sacrifícios e, agora, têm o direito de se refestelarem, confortáveis na preguiça do “politicamente correto” e do relativismo moral.
A política não é, lamento, a arte de deitar-se sobre a folha corrida de serviços prestados, daquelas que dão direito a alguém de ganhar um relógio e se recolherem.
Nem a de empoleirar-se sobre um muro, dizendo que vêem virtudes no vício e, por isso, tolerando-o.
Hoje, dois homens idosos postaram-se à porta da Polícia Federal de Curitiba, em defesa de outro, pouco mais jovem, aos seus 72 anos.
Adolfo Pérez Esquivel, Leonardo Boff e Lula.
Os três, por tudo o que fizeram, poderiam e mereciam estar agora descansando e vivendo confortavelmente os seus últimos anos , ao menos os de vida ativa.
Esquivel passou mais de um ano no cárcere e nas torturas da ditadura argentina; Boff perdeu suas ordens franciscanas, Lula perde agora seu direito de caminhar pelo seu país.
Será mesmo que perderam tanto?
Sobreviveram no mundo dos descartáveis.
Recolho do meu sempre inspirador Nilson Lage o lamento sobre a foto de Boff, com sua bengala, à sentado num banco à frente da PF:
À porta, um sábio espera.
Ideias não se caluniam, não se processam, não se supliciam.
Sempre tentam aprisionar ideias, mas só podem aprisionar homens. …
Acho que nem isso.
Porque as idéias tornam homens em algo maior que simples homens, os transformam em símbolos.
Tijolaço
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