Michel Temer indicou nesta sexta-feira o engenheiro Ivan Monteiro como novo presidente-executivo da Petrobras, no lugar a Pedro Parente, que pediu demissão nesta manhã, em meio a ataques à política de preços da estatal; em breve pronunciamento no Palácio do Planalto, Temer classificou a escolha de Monteiro como uma garantia de que o rumo da estatal será mantido e de que a companhia não estará sujeita a intervenções de Brasília
1 DE JUNHO DE 2018
BRASÍLIA/RIO DE JANEIRO (Reuters) - Michel Temer indicou nesta sexta-feira o engenheiro Ivan Monteiro como novo presidente-executivo da Petrobras, no lugar a Pedro Parente, que pediu demissão nesta manhã, em meio a ataques à política de preços da estatal.
A rápida definição buscou acalmar investidores após as ações da Petrobras caírem quase 15 por cento com a saída de Parente, atribuída a uma possível interferência do governo na estatal. O movimento das ações representou uma perda de valor de mercado de cerca de 45 bilhões de reais para a estatal.
Na Petrobras desde 2015, quando foi nomeado diretor financeiro pela então presidente Dilma Rousseff, Monteiro havia sido definido pelo conselho de administração da petroleira como presidente interino mais cedo nesta sexta-feira.
Em breve pronunciamento no Palácio do Planalto, Temer classificou a escolha de Monteiro como uma garantia de que o rumo da estatal será mantido e de que a companhia não estará sujeita a intervenções de Brasília.
"Continuaremos com a política econômica que nestes dois anos retirou a empresa do prejuízo e a trouxe novamente para o roll das mais respeitadas do Brasil e do exterior. Declaro também que não haverá qualquer interferência na politica de preços da companhia", afirmou.
Essa visão de continuidade foi aprovada por especialistas ouvidos pela Reuters, que veem Monteiro como bem qualificado para a função, enquanto fontes na Petrobras dizem que ele era o nome preferido da própria cúpula da estatal para o cargo.
"É um nome para acalmar os ânimos... foi da equipe de Parente, mas colocado antes pela Dilma. Se vai conseguir, veremos", apontou o ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo Helder Queiroz.
"Acho a escolha excelente", disse o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires.
O professor do Instituto de Economia da Energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Edmar de Almeida, foi na mesma linha. "É a solução mais adequada para reduzir o estrago. Ele representa uma esperança de manutenção do processo de recuperação econômica da empresa."
Dois executivos de grandes empresas de petróleo também elogiaram a indicação de Monteiro. Eles falaram sob a condição de anonimato, porque não têm autorização para abordar o assunto com a imprensa.
INDEPENDÊNCIA EM JOGO
O pedido de demissão de Parente foi atipicamente divulgado com o pregão aberto, o que levou a bolsa paulista B3 a inicialmente suspender as negociações das ações da companhia.
Na sequência, a petroleira divulgou a carta de demissão do executivo, na qual afirmou que sua permanência à frente da estatal "deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das alternativas que o governo tem pela frente".[nL2N1T30Y4]
A saída de Parente era exigida por sindicatos de trabalhadores da Petrobras e por políticos de oposição, que criticavam a alta dos preços dos combustíveis sob sua gestão, na qual a empresa passou a praticar reajustes até diários para seguir as cotações internacionais do petróleo e o câmbio.
Mas após pedir demissão, ele acabou criticado até por políticos da base do governo Temer, como o presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), que escreveu em sua conta no Twitter que o presidente da Petrobras "precisa reunir visão empresarial, sensibilidade social e responsabilidade política".
O secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Félix, negou que tenha havido pressão do governo para que Parente deixasse o cargo ou para que mudasse a política de preços da companhia.
Mas o ministério divulgou mais tarde uma nota em que diz ter iniciado ainda nesta sexta-feira um "debate público" sobre a criação de uma política de "amortecimento" dos preços dos combustíveis para consumidor.
A pasta adicionou, no entanto, que tal medida em avaliação seria "algo fora da política de preços da Petrobras" e também não afetaria outras empresas do setor. A ideia, segundo o ministério, é aliviar a volatilidade trazida pela variação do petróleo no mercado internacional e do câmbio.
Para o presidente da gestora de recursos Cabot Wealth Management, sediada em Massachussets, Robert Lutts, a mudança na direção da Petrobras gerou fuga de investidores estrangeiros, que agora ficarão mais cautelosos quanto ao futuro da estatal.
"A companhia tem algum trabalho a fazer— muito trabalho— para retomar a confiança junto aos acionistas. Quando você entra em uma situação dessas, tudo é suspeito", afirmou.
Por um lado, a escolha de Monteiro por Temer deve ajudar a aliviar esses temores, uma vez que frustrou expectativas de políticos do próprio partido do presidente, o MDB, pela nomeação de um nome político para a estatal.
Mas a pressão política sobre a companhia deve seguir forte, uma vez que 29 senadores assinaram um requerimento que pede a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre a política de preços da Petrobras. [nL2N1T31Z4]
Entre os nomes que apoiam a CPI estão parlamentares de partidos governistas, como os senadores Eduardo Braga (MDB-AM) e Maria do Carmo (DEM-SE). A criação da comissão exige ao menos 27 assinaturas.
Brasil 247
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