O professor de ciência política da UnB, Luis Felipe Miguel, alerta para o perigo das candidaturas avulsas. Ele diz: "é a porta aberta para a tabatização geral da política, em benefício de lemmans e hucks." Ele ainda diz: "Quem mais ganha (...) são as celebridades da mídia e os donos do dinheiro"
1 de janeiro de 2020
(Foto: Agência Câmara)
247 - O professor de ciência política da UnB, Luis Felipe Miguel, alerta para o perigo das candidaturas avulsas. Ele diz: "é a porta aberta para a tabatização geral da política, em benefício de lemmans e hucks." Ele ainda diz: "Quem mais ganha (...) são as celebridades da mídia e os donos do dinheiro."
O professor publicou a reflexão em seu Facebook:
"Áurea Carolina co-assina artigo hoje em defesa das candidaturas avulsas - chamadas, a meu ver cachorramente, de "candidaturas cidadãs". Por quê? Partidos não podem representar a cidadania?
O argumento é que esses candidatos, que se agrupariam em listas de avulsos, teriam melhores condições de representar minorias - mulheres, indígenas, LGBTs etc.
Ninguém nega que as estruturas partidárias em geral impõem obstáculos a integrantes de grupos minoritários. Mas a solução é implodir os partidos?
Quem mais ganha com a personalização da disputa e a ausência de compromissos programáticos abrangentes, que as candidaturas avulsas promovem? Não há dúvida: as celebridades da mídia e os donos do dinheiro.
É isso que nós queremos? Uma representação política tomada por artistas decadentes e marionetes de milionários?
A filiação partidária impõe compromisso ao candidato, faz com que ele responda publicamente por um projeto que o transcende. O controle das direções partidárias sobre a apresentação de candidaturas, com todos os problemas que tem, força negociações e é um freio às ambições dos detentores de visibilidade pública ou capital econômico.
Com as candidaturas avulsas, tudo isso, que no Brasil já é muito frágil, desapareceria de vez.
Os grandes ganhadores seriam as iniciativas de captura empresarial da política, tipo RenovaBR, Acredito, RAPS. É a porta aberta para a tabatização geral da política, em benefício de lemmans e hucks.
No Congresso, esse contingente de eleitos "soltos", comprometidos apenas com a própria carreira, desorganizaria de vez os trabalhos parlamentares - que têm os partidos como unidade fundamental.
Áurea Carolina deve saber do que está falando - afinal, tem formação em Ciência Política. É uma boa deputada, com registro consistente à esquerda. Mas esse entusiasmo com a candidatura avulsa é revelador de um mal que atinge uma parcela considerável de militantes da nova geração: personalismo excessivo, pouca disposição para o trabalho por excelência de construção coletiva que é o partido.
Este é o drama do PSOL. Cronicamente incapaz de cumprir seu "destino manifesto" - ser o sucessor do PT como porta-voz de uma esquerda anti-establishment e enraizada no movimento popular - parece sempre condenado a ser mais um guarda-chuva de porta-vozes de bandeiras progressistas do que propriamente um partido político."
Brasil 247
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