"Ao invés do Moro se explicar à opinião pública, eles tentam, como ditadores, calar aqueles que denunciam. Eles não querem que a sociedade saiba das mentiras que eles contaram. O Glenn prestou um grande serviço à democracia brasileira", diz o ex-presidente
25 de janeiro de 2020
Glenn Greenwald e Lula (Foto: Ricardo Stuckert)
Da Rede Brasil Atual – O ex-presidente Lula está em Belo Horizonte para participar de uma série de atividades que marcam o primeiro ano do crime ambiental da Vale, em Brumadinho, na região metropolitana, que deixou 270 mortos. Esta é a primeira passagem de Lula pelo estado mineiro desde que foi solto. A repórter Edilene Lopes entrevistou ao vivo Lula no Jornal da Itatiaia, nesta sexta-feira (24).
Acompanhe:
Você teve medo de morrer na prisão?
Eu não penso na morte. Sinceramente, gosto da vida. Eu penso na vida, penso no dia de amanhã e no futuro, que é o que interessa à sociedade brasileira. Eu fiquei muito, muito chateado com a mentira do meu processo quando o ministro Barroso me proibiu de ser candidato.
Importante lembrar que eu fui preso porque me entreguei à Polícia Federal. Eu poderia ter saído do Brasil. Eu me entreguei porque eu precisava desmascarar o Moro e os procuradores da Lava Jato, e aqueles que mentiram e continuam contando mentira. Eu não vou fugir. Eu tinha certeza que eu poderia ser candidato, quando, de repente, o ministro toma a decisão de que eu não posso ser candidato. Fiquei chateado porque eu tinha crescido 16 pontos depois que me prenderam e eu queria fazer da prisão uma fotografia do Brasil que construímos, que foi o melhor período de inclusão social da história de 500 anos.
Me frustrou, mas me alimentava. Quanto mais havia coisas contra mim, mais me alimentava de resistir, brigar e lutar, que é o que eu vou fazer.
Você tem medo de voltar a ser preso?
Eu não tenho medo. Eu trabalho com a perspectiva porque eu sei o que eles querem, desde o impeachment da Dilma, eu sei o interesse que tem por trás de desmontar a indústria de engenharia e a Petrobras. É o interesse econômico, nas nossas empresas. O Ministério Público e a Justiça quebraram as empresas brasileiras. Você pode prender 50 empresários. Pode prender 50 políticos. O que não pode é destruir as empresas que geram empregos para o povo.
Você acha que sua condenação será anulada?
Já há uma unanimidade internacional entre juristas da minha inocência. Existe uma campanha massiva de suspensão de uma mentira. Eu posso ser condenado outra vez, e vou brigar e denunciar do mesmo jeito. Eu já provei minha inocência. Eu desafio o Moro, ele agora é ministro, eu desafio a força-tarefa da Lava Jato, a provar à sociedade brasileira um erro cometido por mim. Se provarem, eu pagarei. Mas enquanto não provarem um erro cometido por mim vou chamá-los de mentirosos.
O que acha da denúncia do Ministério Público contra Glenn Greenwald?
É o maior ato de perseguição a um jornalista que eu tenho conhecimento na história do Brasil. Ao invés do Moro se explicar à opinião pública, eles tentam, como ditadores, calar aqueles que denunciam. Eles não querem que a sociedade saiba das mentiras que eles contaram. O Glenn prestou um grande serviço à democracia brasileira.
Você será candidato em 2022 e acha que o ministro Sergio Moro estará na disputa?
Eu acho que o Moro quer estar (entre os candidatos). A denúncia contra mim é o pretexto mais forte que ele (Moro) já era político naquela época. Eu não sei se eu vou ser candidato porque eu tenho 74 anos, daqui três anos vou estar com 77, tem muita gente nova surgindo. A única coisa que eu quero é continuar tentando aumentar o nível de consciência da sociedade brasileira.
Nas eleições de 2018, a novidade era as pessoas dizem: “Eu não sou político”. O Bolsonaro conseguiu passar para a sociedade que depois de 28 anos de mandato ele não era político. Você viu o governador de Minas e Rio e você percebe que eles não estão preparados para o exercício de gestão pública.
Demissão do ministro da cultura
Ele deu uma declaração inadmissível. Espero que a Regina Duarte se preocupe com a cultura do Brasil.
Tragédia de Brumadinho
Quando eu estava na prisão, que passou aquela cena da barragem, a gente não acreditava que fosse um acontecimento no planeta terra. Parecia uma coisa de outro planeta. Um volume de lama, um desastre ecológico e, mais ainda, um verdadeiro genocídio com 259 pessoas que já foram encontradas. Eu acho que, certamente, houve descaso na fiscalização. E certamente alguém que cuida da manutenção sabia que tinha problema.
Acontece que quando as pessoas pensam apenas no lucro, as pessoas nunca querem gastar dinheiro. Permitem que aconteça uma coisa dessas para começar a levar mais a sério a questão ambiental e a fiscalizar melhor a mineração.
Tem que dar parabéns ao trabalho dos bombeiros. Cada pessoa que trabalhou no resgate merece uma homenagem profunda da sociedade brasileira. Eles merecem ser reconhecidos nacionalmente.
Brasil 247
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