quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Música rende homenagem a João Cândido, o Almirante Negro

A música "O Mestre-Sala dos Mares", de João Bosco e Aldir Blanc, composta nos anos 70, imortalizou João Cândido e a Revolta da Chibata. Como diz o samba, seu monumento estará para sempre "nas pedras pisadas do cais". O Vermelho reproduz, abaixo, a homenagem ao "Almirante Negro" e seus companheiros.

A letra da música teve que ser modificada várias vezes por conta da censura na época da ditadura militar. De acordo com Aldir Blanc, em depoimento reproduzido no site DHNet, "tivemos diversos problemas com a censura. Ouvimos ameaças veladas de que o Cenimar não toleraria loas e um marinheiro que quebrou a hierarquia e matou oficiais", diz o compositor.

Blanc conta que sua ida ao Departamento de Censura, por causa da música, o marcou profundamente. De acordo com ele, um sujeito lhe informou que ele estava substituindo, na letra de Mestre sala dos mares, palavras como revolta e sangue, mas o problema não era aquele: "O problema é essa história de negro, negro, negro...", disse o censor.

"Eu havia sido atropelado, não pelas piadinhas tipo tiziu, pudim de asfalto etc, mas pelo panzer do racismo nazi-ideológico oficial", relembra Aldir Blanc, contando que foi preciso "dar uma espécie de saculejo surrealista na letra para confundir. Metemos baleias, polacas, regatas e trocamos o título para o poético e resplandecente “O Mestre-Sala dos Mares”. Originalmente, o samba se chamava Almirante Negro ou Navegante Negro. Veja abaixo a letra da música e o vídeo no qual Elis Regina canta o samba na inauguração do Teatro Bandeirantes, em 1974.

Mestre sala dos mares

Por João Bosco e Aldir Blanc

Há muito tempo nas águas
Da guanabara
O dragão no mar reapareceu
Na figura de um bravo
Feiticeiro
A quem a história
Não esqueceu
Conhecido como
Navegante negro
Tinha a dignidade de um
Mestre-sala
E ao acenar pelo mar
Na alegria das regatas
Foi saudado no porto
Pelas mocinhas francesas
Jovens polacas e por
Batalhões de mulatas
Rubras cascatas jorravam
Das costas
Dos santos entre cantos
E chibatas
Inundando o coração,
Do pessoal do porão
Que a exemplo do feiticeiro
Gritava então
Glória aos piratas, às
Mulatas, às sereias
Glória à farofa, à cachaça,
Às baleias
Glórias a todas as lutas
Inglórias
Que através da
Nossa história
Não esquecemos jamais
Salve o navegante negro
Que tem por monumento
As pedras pisadas do cais.


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