sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Na análise sobre o futuro governo Dilma, FHC prega a volta ao passado
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, outro que está de volta - se bem que nunca saiu, atuou à revelia dos tucanos que não o queriam na recente campanha presidencial - começou mal.
Em seminário de que participou em São Paulo, ele deitou falação por mais de uma hora sobre os governos do PT (o do presidente Lula, e o futuro, da presidenta Dilma Rousseff), a equipe econômica anunciada, os rumos da economia no ano que vem e a relação governo Dilma-Congresso.
Mas, começou mal. Nem bem ele fez os comentários sobre estimular o consumo sem levar em conta a oferta - propôs o famoso choque de demanda pregado pelos tucanos, com riscos de inflação - o Conselho Monetário Nacional (CMN) anunciou uma série de medidas para prevenir e desestimular o endividamento excessivo das famílias. Ou seja, nosso comando monetário tomou medidas na direção oposta à avaliação do ex-presidente.
Tanto ele quanto os críticos em geral do governo Lula continuam confundindo e misturando, a la Chacrinha, duas questões fundamentais em economia: o uso adequado, quando necessário, dos instrumentos da política fiscal e monetária com a política econômica em sentido geral, que é bem mais ampla.
Confusão à la Chacrinha
Na questão monetária e fiscal confundem, por exemplo, aumentar o superávit e reduzir os juros (ou mantê-los num patamar adequado para o crescimento econômico) com uma decisão de reduzí-los em determinadas conjunturas para estimular ou não o crédito, os investimentos e até mesmo o consumo.
Confundem deliberações nesta área com a política econômica em sentido geral, que é mais ampla e envolve os impostos, as políticas de tarifas e comercial, o crédito subsidiado (via bancos públicos, BNDES, BB, CEF e BNB), a política industrial e de inovação, a de investimentos, as prioridades de um governo, um projeto de desenvolvimento, o papel do Estado - enfim, as decisões político-econômicas mais amplas.
Na crise de 2008-09, por exemplo, como sempre havia dois caminhos - vários, até. Nosso governo optou por um e com decisão o executou: aumentou o crédito e diminuiu os juros. Agiu com firmeza na direção exatamente oposta à de FHC quando no governo nas crises anteriores.
Além disso, liberou os compulsórios dos bancos e as reservas, chamou a sociedade para investir e consumir - e não só para consumir, como muitos destacam - sustentou o nível de investimentos públicos e os gastos sociais, ampliou substancialmente as inversões no PAC 1 e lançou o PAC 2.
Desafios: câmbio, guerra comercial e contas externas
No Brasil, como em todo mundo, o crescimento econômico traz novos desafios. Os nossos, agora, são o câmbio, a guerra comercial e as contas externas. Mas o que conta, realmente, é que mudamos o modelo, crescemos para dentro com distribuição de renda, e retomamos a capacidade de investimento e o papel de fomento dos bancos públicos.
Em relação ao restante do mundo temos uma posição soberana, e não dependente como nos anos de tucanato. Integramos nossa economia à da América do Sul e temos política industrial e de inovação. Nossos investimentos privados e públicos em infraestrutura são uma realidade. Avançamos na Educação e vamos fazer as reformas política e tributária.
Não vamos descuidar das finanças públicas ou da inflação, mas não vamos adotar as políticas de antes de 2003, geralmente de interesse do capital financeiro e dos rentistas, e que não deram certo. Nem vamos nos submeter e aceitar passivamente, como no passado, repito, a guerra cambial ou medidas unilaterais como as adotadas pelos Estados Unidos ante a crise.
Vamos tomar todas as medidas para defender nossa economia e nossos interesses nacionais. É só esperar para ver.
Blog do Zé Dirceu
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