segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
“PT e PSDB: Divergências Inconciliáveis”
Com o título " PT e PSDB: Por que as divergências são inconciliáveis" respondo na revista Interesse Nacional a artigo em que o professor de Filosofia da USP Renato Janine Ribeiro colocou na edição anterior da publicação (a 7ª) à questão que vai e volta, muitas vezes agita o debate político nacional: "Seria Possível uma Grande Coalizão no Brasil?".
Não é, não entre PT e PSDB, mostro em meu artigo. Diferenças e divergências político-programáticas nos distanciam e mostro que o nó górdio delas está na maneira como atuam e pensam os dois partidos em relação ao Estado e às classes historicamente desfavorecidas. É um distanciamento que se intensifica, radicalmente, a partir de 1994 quando os tucanos iniciaram sua fusão com a direita, na aliança com o então PFL (hoje DEM) formado pelos descendentes da ARENA, parceria que se estendeu por vários anos e perdura até os dias atuais, e na direção que eles imprimiram ao chegar à Presidência da República.
Uma vez no poder, o PSDB seguiu os ditames do Consenso de Washington, difundido no vácuo da Queda do Muro de Berlim e que prescrevia, para ficar só nos exemplos na área econômica: privatização das empresas estatais, para terem um Estado mínimo; a ilusão do câmbio fixo na paridade real-dólar; política de juros elevados, atraente ao capital especulativo; aumento da carga tributária, para sustentação da irrealidade do câmbio e dos juros; controle inflacionário a qualquer preço; terceirização da gestão pública; e corte dos gastos governamentais.
Já o PT e o presidente Lula, no momento em que chegaram à Presidência da República, começaram a implementar uma série de políticas públicas completamente diversas, patrocinando uma real retomada da agenda desenvolvimentista dentro de um projeto nacional, pré-ditadura militar, que deveria ter sido abraçado pelos tucanos, mas não foi.
Exatamente na economia o cuidado teve que ser ainda maior, pois era necessário enfrentar a crise herdada e desfazer, uma a uma, as armadilhas neoliberais introduzidas ano a ano no governo fhc. Foi a existência desse nosso projeto nacional de Brasil que, como todos sabem, demonstrou-se acertado. Viabilizamos um projeto em que o Estado recupera suas funções mais básicas de gestor e pode, de fato, atuar com firmeza onde é necessário.
Deixo claro, assim, que PT e PSDB tem visões completamente diferentes e buscam objetivos diversos também sobre as reformas necessárias no país. No caso da reforma política, que devia ser um tema suprapartidário, o PSDB revelou apego ao atual sistema político-eleitoral que estimula a corrupção, o caixa dois nas campanhas, a barganha por emendas parlamentares e nomeações pós-eleições, as licitações dirigidas e o desvio de dinheiro público.
Aprovado no Senado - inclusive com apoio do PSDB - a reforma política foi rejeitada na Câmara porque os tucanos simplesmente mudaram de lado. Sem a política (aliada a outras medidas), considerada a mãe de todas as demais reformas, não será possível aprimorar a administração pública, nem se adotar no país inovações e melhorias como a fidelidade partidária, o voto uninominal e o financiamento público nas campanhas.
Então, a não-aliança ou não-coalizão PT-PSDB não decorre de incapacidade de suas lideranças, ou do fato de disputarem por ambas as legendas terem nascido em São Paulo. Nâo ocorre porque ambas são completamente divergentes em suas concepções quanto a Estado, governo, políticas socio econômicas e ambientais. Tanto é verdade que a ausência de um projeto alternativo transformou os antigos defensores do neoliberalismo em verdadeiras birutas de aeroporto, que não sabem, hoje, sequer para onde sopra o vento.
Blog do Zé Dirceu
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