segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Notas sobre Serra, Dilma, Aécio, Polícia Federal, entre outros - Por Maurício Dias
Farsa 1
José Serra pegou carona na situação da Líbia para espalhar, no Twitter, o terror político contra os adversários. Lula é o alvo. Foi transformado em amigo de Kaddafi, um ditador chamado outrora de “O louco de Trípoli”. O reingresso de Serra no cenário, após a derrota eleitoral de 2010, tem sido um desastre. Teve um artigo e uma entrevista criticados, surpreendentemente, pelos seus próprios aliados. O ex-candidato tucano parece ter olvidado sua cálida recepção ao vice de Kaddafi, Ashamikh, quando governador de São Paulo.
Farsa 2
Em 2009, entretanto, no governo de São Paulo, Serra recebeu amistosamente, como era devido, o vice-primeiro-ministro da Líbia. Imbarek Ashamikh anunciou a disposição do governo Kaddafi de investir no Brasil muitos milhões de dólares. Esta é apenas mais uma prova de que Serra se desnorteou desde que, em campanha eleitoral no Rio, recebeu uma pancada na cabeça proveniente do impacto
de uma bolinha de papel. A consequência percebe-se agora: a vítima sofreu traumatismo moral.
Mineirismo
Dilma governa em silêncio. Em março, as primeiras pesquisas de opinião pública dirão o que pensa o brasileiro sobre o governo dela. A oposição, como se sabe, está inquieta. No fim de dezembro de 2010, pesquisa CNT/Sensus mostrou que 70% tinham expectativa positiva na soma do “ótimo” (27,7%) com o “bom” (41,5%).
Silêncio da caserna
A Operação Guilhotina realizada pela Polícia Federal, no Rio, prendeu policiais civis e militares e investiga agora se foi a própria polícia que matou, em 2010, o sargento do Exército Volber Roberto. Um relatório do Exército, produzido em 2006, ao qual o colunista teve acesso, mostra que os militares tinham informações sobre o comportamento criminoso do sargento. “(Ele) recolhe dinheiro de bancas do jogo do bicho” e “trabalha intermediando negociações entre criminosos e policiais.” O relatório sugere que o sargento deveria ser excluído do Exército diante da gravidade dos dados levantados. Não se sabe a razão dos superiores dele terem preferido abafar a história.
A flor e o espinho
Já brotaram espinhos na relação entre o senador Aécio Neves e o governador mineiro, Antonio Anastasia, onde, antes, havia somente flores.Anastasia não manteve o secretário de Esportes, Alberto Rodrigues, que Aécio nomeou apenas seis meses antes de deixar o governo.Era para Rodrigues ficar.
Maus hábitos
Os dias de carnaval, principalmente no Rio de Janeiro, expõem um dos aspectos dos costumes existentes no Brasil: fazer xixi na rua. O hábito nem é apenas resultado de urgência do consumo de cerveja nem é recente como se supõe, conforme testemunha a aquarela do francês Jean-Baptiste Debret, integrante da Missão Artística de 1816, oito anos após o desembarque de dom João VI no País. Não é nem mesmo “coisa de pobre”, como se costuma dizer, como desmente o ilustre fidalgo da gravura que se alivia da pressão da bexiga, sem constrangimento, protegido do sol pelo guarda-chuva sustentado pelo escravo.
História
De volta aos desaparecidos
Volta à cena, pela undécima vez, a questão dos desaparecidos durante a ditadura, iniciada em 1964, com a deposição do presidente João Goulart. O Ministério Público Militar Federal, no Rio, vai investigar o desaparecimento de cerca de 40 presos políticos que entraram e não saíram de unidades militares do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, onde foram, provavelmente, assassinados. Renova-se a esperança dos familiares de cumprir o ritual de enterrar seus mortos e, quiçá, identificar os responsáveis pelos crimes. Também pela undécima vez entram em julgamento informal as atrocidades cometidas durante os anos de chumbo, entre as décadas de 1970 e 1980, apesar da Lei da Anistia que protegeu os algozes fardados. “Esta é uma página da história do Brasil que não foi virada”, diz o advogado Wadih Damous, presidente da seccional fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil. Vai se chegar, em algum tempo, a meio século dessas ocorrências. O movimento de agora prova que a história não é como o lixo que se joga para baixo do tapete, para que o ambiente pareça limpo.
Mauricio Dias
Maurício Dias é jornalista, editor especial e colunista da edição impressa de CartaCapital. A versão completa de sua coluna é publicada semanalmente na revista. mauriciodias@cartacapital.com.br
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