quarta-feira, 18 de maio de 2011

A NOVA JUIZ DE FORA EXIBIDA PELA REDE RECORD É DE DAR MEDO!


Por Ivanir Yazbeck

Quem, na noite do último domingo, esteve atento às lições de como manter o corpinho em forma, e se penalizou com as sofridas malhações e dietas a que se submeteram as cobaias Zeca Camargo e Renata Ceribelli, no Fantástico, perdeu três exemplos de jornalismo mais sério e excitante exibidos pelo Domingo Espetacular, na Rede Record.

Na primeira reportagem, o repórter Marcelo Resende apresentou casos de automutilação de uns débeis mentais em busca de dinheiro a qualquer preço. Eles deceparam dedos das mãos ou dos pés para receberem seguros por acidente de trabalho, sob a orientação de um advogado de fundo de quintal, com conhecimentos de leis trabalhistas. Descobertas as tramóias por peritos médicos e investigadores policiais, ficaram sem os dedos e sem a grana. É ou não um demente quem se submete a sacrifícios do próprio corpo para embolsar algo em torno de cem mil reais? Então, a expressão débil mental é bem aplicada, embora os personagens da trama em nada denunciem á primeira vista serem anormais, e sim pessoas bastante espertas, que na cobiça por grana foram capazes de atos insanos como colocar a mão em uma moto serra.

A segunda reportagem foi a propósito do 13 de maio, dia da Abolição da Escravatura, há 123 anos. O repórter prometia revelar a verdadeira história dos escravos naquele período, gravada nos locais de onde partiam os navios negreiros de Angola rumo ao Brasil. Não acrescentou nenhuma novidade sobre o suplício dos negros na captura e enjaulamento como animais, depois nas travessias.amontoados em infectos porões de navios, quando um em cada três morria vítima dos maus tratos e doenças várias. Mas o foco da matéria não eram exatamente revelações inéditas, e sim tratar do apoio que a Igreja Católica deu ao comércio da escravidão.

De fato, o Vaticano não só admitia como estimulava o mercado de escravos da África para o Novo Mundo afinal, todos eram pagãos e pecadores, portanto, não mereciam piedade. Um documento assinado pelo papa Nicolau V, em 1455, concedia a Portugal o direito de subjugar quem não seguisse as determinações cristãs ditadas pelo Vaticano, fosse o indivíduo de qualquer raça ou cultura. A reportagem destaca um trecho numa edição antiga do livro com os célebres sermões do padre Antônio Vieira, onde se lê que pagãos deveriam servir como escravos para penitenciarem de seus pecados. O filósofo Santo Agostinho também dá a sua contribuição: Quem é vencido por outro povo, vira escravo deste. E assim, a matéria se alonga traçando paralelos das crueldades escravagistas com a religiosidade católica.

Descontado o oportunismo jornalístico, com as bênçãos da Igreja Universal do Reino de Edir Macedo, o certo é que a reportagem, bem apurada e documentada, mexeu com a sensibilidade dos espectadores, ainda que ao fim dela, seja destacado que a Igreja Católica em tempos recentes tenha pedido humildes desculpas pelas suas ações e omissões à época.

Mas, vamos agora ao que motivou estas mal traçadas, que a princípio podem parecer apenas um texto crítico sobre uma rotineira noite de mais um domingo televisivo. Enquanto Zeca Camargo e a tal Ceribelli, envoltos por uma auréola de narcisismo babaca, instruíam os espectadores do Fantástico sobre como se obtém um corpo sarado, eis que a nossa Princesa de Minas surge na Record com destaque na terceira grande reportagem da sua revista semanal. Em pauta: a guerra entre gangs de adolescentes e de jovens que vem assumindo proporções assustadoras e incontroláveis, não só nas metrópoles. Na introdução, são lembrados três recentes episódios de brutalidade praticados por gangs em São Paulo, Santos e Florianópolis. As três ações de crueldade e frieza foram gravadas por câmaras instaladas nas ruas. Dois rapazes morreram e um ficou inutilizado, numa cama, para sempre. Os linchamentos ocorreram por motivos banais, como uma paquera na hora errada, os três em bailes funks.

Fim do intróito, entra em cena, então, a Nova Juiz de Fora. Uma equipe de reportagem da Record passou duas semanas por aqui e gravou imagens impressionantes de gangs e declarações de guerra entre eles, moradores dos bairros/favelas Santo Antônio, Dom Bosco, Santa Luzia, Parque da Serra, Alto Grajaú, Jardim Natal, Jóquei Clube e Benfica. Foi a reportagem mais estarrecedora e esclarecedora sobre a violência em Juiz de Fora em todos os tempos. Jamais foi abordado em qualquer veículo da cidade jornal, revista, TV, rádio , em qualquer tempo, nada que se compare ao que a Record apresentou em cerca de 30 minutos sobre o lado sombrio da criminalidade em JF.

Cenas noturnas de jovens com os rostos meio encobertos por capuzes, as imagens desfocadas, o que lhes acentuava a dramaticidade, por imposição dos chefes das gangs e por causa da presença de menores, foram mostradas em vários momentos, em diferentes pontos, enquanto eram reproduzidos depoimentos dos bandidos justificando as ações e ameaças. O poderio bélico para os enfrentamentos: fuzis ponto 30, pistolas, granadas, faca, pedaço de pau, garrafas quebradas: Na hora da batalha, o que tiver à mão... É nóis, contra eles, e nóis manda ver! E nóis luta até a morte, tá ligado? Algumas denominações são reveladas em letreiros na tela: Grupo de Guerrilha, Bonde Mete-bala, Bonde dos Nike Fit.

A declaração de um sujeito, a cabeça envolta por um agasalho, apenas os olhos descobertos, encerra uma ameaça tenebrosa: O Centro da cidade é o nosso foco...

(Quem costuma fazer da Rua Halfeld, especialmente, ponto de encontro com velhos amigos, para dois dedos de prosa relaxada, tremeu nas bases ao imaginar a concretização da ameaça, quando aquele armamento acima citado seria utilizado. Exagero? Paranóia? Tomara que sim...)

Os enfrentamentos têm dia ou melhor, noite e hora marcadas sempre nos bailes funks. Através de orkuts e mensagens via e-mail, os cúmplices são convocados e os inimigos desafiados. Segundo o repórter, eles imitam os grandes traficantes cariocas nas estratégias, tanto na vendas de drogas, como nas guerras e revela que oito adolescentes já foram mortos de uns poucos meses para cá nas batalhas em defesa de territórios.

Cena seguinte: uma panorâmica exibe uma multidão que se aglomera na entrada e no interior de uma quadra, à beira do Rio Paraibuna, onde o funk come solto, à toda altura. É um sábado à noite. Em primeiro plano, uma viatura da PM estacionada, e quatro militares próximos dela apenas observam, impassíveis, o movimento em torno. Ocorre a seguinte pergunta: e se houver um estampido de tiro lá no meio da multidão, quando duas gangs se defrontarem? Haverá pânico, é certo, e o que farão esses poucos policiais? Arriscarão suas peles embrenhando-se no salve-se quem puder que certamente ocorrerá? Obviamente, eles procurarão refúgio e solicitarão reforços ao quartel, que num fim de semana está com o contingente reduzido ao mínimo. Quando chegarem, o estrago já terá sido feito e os “guerreiros” se enfrentando em ruas mais distantes e escapando para as suas áreas.

Corta para os depoimentos de três mulheres e dois homens: a primeira, comerciante, revela que a sua loja já foi assaltada cinco vezes, e que de nada adiantaram seus registros na polícia; a outra diz que sua vida correu risco em um fogo cruzado, ao retornar para casa, certa noite; a terceira é uma senhora de idade avançada, vizinha de um local onde se realizam bailes funks, quando é impedida de sair de casa e muito menos de descansar, por causa do barulho. Segue-se um morador de Benfica, de uns 25 anos, baleado por uma gang, porque namorou a pessoa errada, num conjunto residencial dominado por uma gang de traficantes. Ele sobreviveu, mas o pesadelo continuou com ameaças por telefones e recados. É a vez do pai que revela ter adquirido um revólver e passou a andar armado até que foi preso por porte ilegal. Ficou dois meses no xadrez. De nada adiantaram suas justificativas de ato preventivo contra as ameaças da gang.

Bem, agora é que vem o mais estarrecedor da reportagem, a partir do choque de opiniões de duas autoridades da área do Judiciário e da administração da Nova Juiz de Fora. O promotor de Justiça, Júlio Cesar, que atua em áreas do meio-ambiente, posturas municipais e ordem pública, pede a proibição dos bailes funks baseado na seguinte constatação: nessas grandes concentrações populares se faz a apologia, sem meias palavras, às drogas e à prática de sexo animalesco, incitações à violência e endeusamento de bandidos nas letras das músicas (músicas?). Bailes funks são nocivos á sociedade”, declara o promotor e é impossível discordar dele, após se verificar as cenas mostradas na longa reportagem da Record. O promotor tem toda razão quando diz que seria necessário um batalhão da PM presente no local e não apenas quatro policiais, como o que se viu nas cenas anteriores para vigiar e proteger os frequentadores e os moradores dos arredores por onde se espalham os reflexos da movimentação que o bailes funks provocam.

Surge na tela o close da secretária de Atividades Urbanas, Sueli Reis. Em nome da administração da Nova Juiz de Fora, ela descarta as providências pedidas pelo promotor com essa sábia sentença:

Trata-se de uma manifestação cultural. Cabe apenas ordenar como os bailes são organizados.

Ordenar eis a palavra ou o verbo-chave para se deter a criminalidade que se dissemina a partir dos bailes funks. Dessa forma, se pode imaginar dona Sueli assumindo o microfone no baile, pedindo silêncio aos funkeiros e funkeiras, para em seguida ordenar:

Olhai, pessoal, muito juízo, hein! Nada de fumar crack ou maconha, nem cheirar pó aqui na quadra. Moderação nas bebidas alcoólicas. Lembro que é proibida a presença de menores de 18 anos. Portanto, quem não tiver atingido a idade, por favor, retire-se, direto para casa, viu? Não é permitido o porte de armas de nenhuma espécie. Quem for apanhado com uma pistola haverá de se ver comigo, depois do baile. Levará um bom puxão de orelha. E mais: diminua o volume, o suficiente para se fazer ouvir apenas aqui no ambiente, que é pra não incomodar a vizinhança. Os velhinhos que moram aqui no bairro merecem todo a nossa consideração no sacrossanto recinto de seus lares.

Ordens dadas, ordens obedecidas, em seguida, dona Sueli agora ordena o som na caixa, e começa a dançar coisas como Vai lacraia, vai lacraia! Ou: Estupra, estupra a cachorra! Ou ainda: Pego meu trezoitão e mando ver! E dona Sueli subindo e descendo os quadris num rebolation formidável. Ao fim da manifestação cultural todos se confraternizam, e tomam o rumo de suas comunidades, numa boa. Os PMS se recolhem ao quartel, sem nenhuma ocorrência a registrar, com o sentimento do dever cumprido, impondo com a sua presença a sensação de tranqüilidade coletiva.

Agora, despertando para a realidade crua e cruel, dona Sueli Reis: a Nova Juiz de Fora que todos queremos não é a que se exibe em obras óbvias, como asfaltamento ou construção de um hospital e de casas populares, obras pagas com dinheiro federal dos PACs concebidos pelo cumpanhêro Lula e pela tia Dilma é sempre bom lembrar aos tucanos esse pormenor. A Nova Juiz de Fora que todos sonhamos deve priorizar sobretudo o respeito aos seus cidadãos, combatendo sem tréguas os marginais desafiadores, como essas gangs de bailes funks ou os indivíduos (vá lá o jargão policial – eles o merecem) mais aquinhoados que adoram se exibir bestamente a bordo de carros equipados com aparelhagens de sons azucrinantes infernizando o trânsito e a vida de todos, a qualquer hora do dia, da noite ou da madrugada, impunemente. È possível que dona Sueli considere esse comportamento como outra manifestação cultural a ser incentivada pela sua secretaria. Afinal, não se sabe de nenhuma atitude nem da sua secretaria nem da PM no sentido de impedir que esses boçais continuem desfilando suas vaidades hostilmente pelas ruas mais movimentadas, especialmente na naite. Claro que é impossível fazer a Boa e Velha Juiz de Fora retomar sua vocação de aprazível, acolhedora e segura, como está registrada na memória dos mais velhos e nas páginas de sua História. Mas, jogar na lata de lixo as suas tradições, e ignorar os princípios mais elementares de civilidade urbana, é entregar os pontos nessa guerra contra a bandidagem. E se a senhora, dona Sueli, insistir em frases ocas para a se eximir de suas obrigações em atitudes mais firmes para apagar o retrato de Juiz de Fora exibido na TV Record, o Movimento VIVA JF começará já uma campanha intitulada FORA SUELI! - e se esta não surtir efeito, passaremos à uma outra, denominada FORA CUSTÓDIO! pelo bem de Juiz de Fora.


Ivanir Yazbeck



2 comentários:

  1. Ridiculo o seu artigo.

    MAM

    ResponderExcluir
  2. Apesar de algumas poucas verdades, também concordo ridículo este artigo.
    A reportagem é sensacionalista, com provas visivelmente forjadas (note a conversa dos dois elementos onde o intitulado "01" ordena ao "02" que "desentoque" as armas, dentre elas fuzis e granadas. É conversa de NEXTEL, serviço que está anos luz longe de ser disponibilizado em Juiz de Fora) e vídeo e informações antigas. A Sueli Reis foi infeliz e os bailes funk devem ser extintos sim, mas esta reportagem foi absurdamente criada para dar ibope. Quem vive aqui sabe muito bem da realidade. Existe sim criminalidade e as famosas richas, mas o que foi exposto......é o ridículo do ridículo.

    ResponderExcluir