Postado em 28 jul 2014
por : Paulo Nogueira
Alex
Uma amiga que fez parte, comigo, do Comitê Executivo da Abril me manda uma mensagem.
Ela está feliz, e orgulhosa, com a nomeação do novo presidente da Abril Mídia, Alexandre Caldini. Ele foi seu subordinado por algum tempo. A Abril Mídia é o coração da empresa: reúne as revistas do grupo.
Respondo a ela que também estou feliz por Alex. Alex é um dos casos raros que conheci na carreira de talento aliado a caráter.
É criativo, é fazedor – e é um sujeito bom e generoso, atributos típicos de espíritas como ele.
A Abril não poderia encontrar ninguém melhor que Alex, penso.
Contratei-o não uma, mas duas vezes na Abril. Primeiro, em meus dias de Exame, para comandar uma nova frente comercial que abríramos na revista, os informes publicitários.
Alex teve um desempenho extraordinário.
Depois, quando me tornei diretor superintendente da Abril, chamei-o para ser meu vice.
Outra vez, ele foi brilhante. Criou produtos de alta rentabilidade, como o CEO Meeting, um encontro de executivos de tecnologia promovido pela revista Info.
Não bastasse a competência e o caráter, Alex é um cara divertido. Ele gostava de contar uma história que vivera com o publicitário Nizan Guanaes.
Alex trabalhava numa empresa cuja agência de publicidade era a de Nizan. Era ele o interlocutor de Nizan para ver e aprovar, ou reprovar, as campanhas.
Alex várias vezes rejeitou ideias de Nizan, até que este disse que desistira do cliente – e de Alex.
“Meu pai morreu cedo”, explicou Nizan. “Estou chegando à idade em que ele morreu. Não quero passar o resto da minha vida enfrentando clientes e pessoas desagradáveis.”
Alex com certeza aprendeu uma lição ali, e a carregou para as novas posições que assumiria na vida.
Volto à amiga que expressou sua alegria com a indicação de Alex para a presidência da Abril.
Repito: compartilho a alegria. Mas sou tomado também por um sentimento de melancolia.
Poucas tarefas são mais amargas que presidir ao desmanche do que foi um império.
E esta é a missão de Alex.
A internet tornou obsoleto o produto que fez a grandeza da Abril, a revista – e não há nada que se possa fazer quanto a isso.
Para a Abril, isso significa virar uma fração do que foi. Revistas vão sendo fechadas, pessoas vão sendo demitidas. As receitas de publicidade caem, e as de circulação também.
O processo de desintegração é doloroso.
Peguei outro dia um exemplar da Veja. O papel era da pior qualidade possível, para economizar custo. Você via, ao ler uma página, sombras da página seguinte, tão fino era o papel.
A terceira capa – uma das áreas nobres da publicidade – não trazia nenhum anúncio real. Era a chamada “mídia interna” – publicidade da própria Abril.
Até algum tempo atrás, era uma situação absolutamente impensável. Em meus tempos de Veja e Exame, frequentemente os diretores de redação tinham que justificar em editoriais, perante os leitores, o copioso volume de páginas publicitárias.
Fiz isso várias vezes na Exame.
Os prognósticos não poderiam ser piores para a mídia tradicional. Recentemente, um estudo mostrou que os maiores anunciantes americanos imaginam que, dentro de cinco anos, 75% de seu orçamento de publicidade estarão na mídia digital.
Tudo isso quer dizer o seguinte: um executivo, por melhor que seja, não tem o poder de evitar a dissolução de uma grande empresa de mídia.
Pode, no máximo, retardar.
É este o caso de Alexandre Caldini e da Abril, e vem daí o sabor melancólico de sua nomeação para presidente da empresa.
Uma amiga que fez parte, comigo, do Comitê Executivo da Abril me manda uma mensagem.
Ela está feliz, e orgulhosa, com a nomeação do novo presidente da Abril Mídia, Alexandre Caldini. Ele foi seu subordinado por algum tempo. A Abril Mídia é o coração da empresa: reúne as revistas do grupo.
Respondo a ela que também estou feliz por Alex. Alex é um dos casos raros que conheci na carreira de talento aliado a caráter.
É criativo, é fazedor – e é um sujeito bom e generoso, atributos típicos de espíritas como ele.
A Abril não poderia encontrar ninguém melhor que Alex, penso.
Contratei-o não uma, mas duas vezes na Abril. Primeiro, em meus dias de Exame, para comandar uma nova frente comercial que abríramos na revista, os informes publicitários.
Alex teve um desempenho extraordinário.
Depois, quando me tornei diretor superintendente da Abril, chamei-o para ser meu vice.
Outra vez, ele foi brilhante. Criou produtos de alta rentabilidade, como o CEO Meeting, um encontro de executivos de tecnologia promovido pela revista Info.
Não bastasse a competência e o caráter, Alex é um cara divertido. Ele gostava de contar uma história que vivera com o publicitário Nizan Guanaes.
Alex trabalhava numa empresa cuja agência de publicidade era a de Nizan. Era ele o interlocutor de Nizan para ver e aprovar, ou reprovar, as campanhas.
Alex várias vezes rejeitou ideias de Nizan, até que este disse que desistira do cliente – e de Alex.
“Meu pai morreu cedo”, explicou Nizan. “Estou chegando à idade em que ele morreu. Não quero passar o resto da minha vida enfrentando clientes e pessoas desagradáveis.”
Alex com certeza aprendeu uma lição ali, e a carregou para as novas posições que assumiria na vida.
Volto à amiga que expressou sua alegria com a indicação de Alex para a presidência da Abril.
Repito: compartilho a alegria. Mas sou tomado também por um sentimento de melancolia.
Poucas tarefas são mais amargas que presidir ao desmanche do que foi um império.
E esta é a missão de Alex.
A internet tornou obsoleto o produto que fez a grandeza da Abril, a revista – e não há nada que se possa fazer quanto a isso.
Para a Abril, isso significa virar uma fração do que foi. Revistas vão sendo fechadas, pessoas vão sendo demitidas. As receitas de publicidade caem, e as de circulação também.
O processo de desintegração é doloroso.
Peguei outro dia um exemplar da Veja. O papel era da pior qualidade possível, para economizar custo. Você via, ao ler uma página, sombras da página seguinte, tão fino era o papel.
A terceira capa – uma das áreas nobres da publicidade – não trazia nenhum anúncio real. Era a chamada “mídia interna” – publicidade da própria Abril.
Até algum tempo atrás, era uma situação absolutamente impensável. Em meus tempos de Veja e Exame, frequentemente os diretores de redação tinham que justificar em editoriais, perante os leitores, o copioso volume de páginas publicitárias.
Fiz isso várias vezes na Exame.
Os prognósticos não poderiam ser piores para a mídia tradicional. Recentemente, um estudo mostrou que os maiores anunciantes americanos imaginam que, dentro de cinco anos, 75% de seu orçamento de publicidade estarão na mídia digital.
Tudo isso quer dizer o seguinte: um executivo, por melhor que seja, não tem o poder de evitar a dissolução de uma grande empresa de mídia.
Pode, no máximo, retardar.
É este o caso de Alexandre Caldini e da Abril, e vem daí o sabor melancólico de sua nomeação para presidente da empresa.
Sobre o Autor: o jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Diário do Centro do Mundo
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