Postado em 23 ago 2014
por : Paulo Nogueira
Neca
Tivemos, nos últimos dias, diferentes amostras de entrevistas.
Um estilo agressivo foi usado por Bonner no Jornal Nacional. Perguntas incisivas, duras, em certos momentos impiedosas.
Um estilo quase oposto – domesticado, digamos assim – foi usado por Fernando Rodrigues, da Folha, para entrevistar a banqueira Neca Setúbal.
Há uma curiosa inversão de expectativas: a Globo costuma ser boazinha nas entrevistas e a Folha gosta de ser dura, por entender que isso é bom para sua imagem.
Numa demonstração recente disso, o jornalista Fernando Barros e Silva, da escola da Folha e hoje na Piauí, perguntou a Aécio no Roda Viva se ele é usuário de cocaína.
Em favor de Fernando Rodrigues, é preciso reconhecer que poucas coisas são mais complicadas para um jornalista do que lidar com banqueiros.
Os bancos são grandes anunciantes – e muitas vezes também grandes credores – das empresas de jornalismo.
Como diretor de redação da Exame, vivi uma situação exemplar.
O excelente jornalista José Fucs, editor de Finanças da revista, fez uma capa brilhante sobre os irmãos Safras.
O extraordinário talento dos Safras para fazer dinheiro estava lá, no texto de Fucs. Mas também o pavor sôfrego que os Safras inspiravam nos executivos do banco.
Era um dos piores lugares para você trabalhar. Executivos graduados e muito bem pagos se comportavam como meninos atemorizados diante dos patrões.
No dia do fechamento da revista, Roberto Civita ligou para a redação, o que era raríssimo. Queria saber se estávamos dando uma capa sobre os Safras.
Sim, estávamos. Pediu para ler, coisa ainda mais rara. Disse que logo devolveria a matéria.
Bem, jamais ela foi devolvida.
Tivemos que improvisar outra capa. Soube depois que um dos irmãos Safras telefonara para Roberto pedindo sua intervenção.
O Safra era um dos maiores credores da Abril, num momento particularmente complicado para a empresa na questão das dívidas.
É a vida como ela é nas redações.
Todo jornalista experiente sabe disso.
Fernando Rodrigues enquadra-se nesta categoria. Ele em certos momentos parecia quase um contínuo do Itaú, numa posição subserviente.
E Neca, inteiramente à vontade, parecia saber do poder que banqueiros têm sobre os jornalistas.
Como é um bom jornalista, Rodrigues perguntou se não haveria conflito de interesses na relação de Neca com Marina no caso de vitória desta.
Isto porque a Receita Federal cobra do Itaú quase 19 bilhões de reais por conta de dinheiro supostamente não recolhido na fusão com o Itaú.
Neca deixou escapar, automaticamente, uma careta de desagrado.
Depois, disse que não, que não havia conflito, já que ela não ocupa posição executiva no banco. Conflito, acrescentou ela, houve no passado quando seu pai, Olavo Setúbal, pertencia ao Conselho Monetário Nacional, que determinava as taxas de juros. (Naqueles dias, Roberto Marinho indicava a presidentes que iam beijar suas mãos em busca de apoio o ministro das Comunicações, que deveria arbitrar o mercado das emissoras.)
O assunto morreu ali.
Em outras circunstâncias, Fernando Rodrigues poderia ter dito: “Reparei que a senhora não gostou da menção aos quase 19 bilhões. Por quê?”
Mas não.
Era mais prudente parar por ali, Rodrigues sabia.
E então voltamos a Bonner.
Se um dia ele entrevistar Neca Setúbal, tenha certeza de uma coisa: seu tom vai ser muito diferente do que adotou nas sabatinas com os candidatos.
Tivemos, nos últimos dias, diferentes amostras de entrevistas.
Um estilo agressivo foi usado por Bonner no Jornal Nacional. Perguntas incisivas, duras, em certos momentos impiedosas.
Um estilo quase oposto – domesticado, digamos assim – foi usado por Fernando Rodrigues, da Folha, para entrevistar a banqueira Neca Setúbal.
Há uma curiosa inversão de expectativas: a Globo costuma ser boazinha nas entrevistas e a Folha gosta de ser dura, por entender que isso é bom para sua imagem.
Numa demonstração recente disso, o jornalista Fernando Barros e Silva, da escola da Folha e hoje na Piauí, perguntou a Aécio no Roda Viva se ele é usuário de cocaína.
Em favor de Fernando Rodrigues, é preciso reconhecer que poucas coisas são mais complicadas para um jornalista do que lidar com banqueiros.
Os bancos são grandes anunciantes – e muitas vezes também grandes credores – das empresas de jornalismo.
Como diretor de redação da Exame, vivi uma situação exemplar.
O excelente jornalista José Fucs, editor de Finanças da revista, fez uma capa brilhante sobre os irmãos Safras.
O extraordinário talento dos Safras para fazer dinheiro estava lá, no texto de Fucs. Mas também o pavor sôfrego que os Safras inspiravam nos executivos do banco.
Era um dos piores lugares para você trabalhar. Executivos graduados e muito bem pagos se comportavam como meninos atemorizados diante dos patrões.
No dia do fechamento da revista, Roberto Civita ligou para a redação, o que era raríssimo. Queria saber se estávamos dando uma capa sobre os Safras.
Sim, estávamos. Pediu para ler, coisa ainda mais rara. Disse que logo devolveria a matéria.
Bem, jamais ela foi devolvida.
Tivemos que improvisar outra capa. Soube depois que um dos irmãos Safras telefonara para Roberto pedindo sua intervenção.
O Safra era um dos maiores credores da Abril, num momento particularmente complicado para a empresa na questão das dívidas.
É a vida como ela é nas redações.
Todo jornalista experiente sabe disso.
Fernando Rodrigues enquadra-se nesta categoria. Ele em certos momentos parecia quase um contínuo do Itaú, numa posição subserviente.
E Neca, inteiramente à vontade, parecia saber do poder que banqueiros têm sobre os jornalistas.
Como é um bom jornalista, Rodrigues perguntou se não haveria conflito de interesses na relação de Neca com Marina no caso de vitória desta.
Isto porque a Receita Federal cobra do Itaú quase 19 bilhões de reais por conta de dinheiro supostamente não recolhido na fusão com o Itaú.
Neca deixou escapar, automaticamente, uma careta de desagrado.
Depois, disse que não, que não havia conflito, já que ela não ocupa posição executiva no banco. Conflito, acrescentou ela, houve no passado quando seu pai, Olavo Setúbal, pertencia ao Conselho Monetário Nacional, que determinava as taxas de juros. (Naqueles dias, Roberto Marinho indicava a presidentes que iam beijar suas mãos em busca de apoio o ministro das Comunicações, que deveria arbitrar o mercado das emissoras.)
O assunto morreu ali.
Em outras circunstâncias, Fernando Rodrigues poderia ter dito: “Reparei que a senhora não gostou da menção aos quase 19 bilhões. Por quê?”
Mas não.
Era mais prudente parar por ali, Rodrigues sabia.
E então voltamos a Bonner.
Se um dia ele entrevistar Neca Setúbal, tenha certeza de uma coisa: seu tom vai ser muito diferente do que adotou nas sabatinas com os candidatos.
Sobre o autor: o jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Diário do Centro do Mundo
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