É até crível que a ex-senadora, já conhecida do eleitorado, apareça com percentuais mais altos do que Campos. Mas esta pesquisa feita ainda sob a comoção da tragédia contém contradições 'esquisitas'
por Helena Sthephanowitz publicado 18/08/2014 15:22, última modificação 18/08/2014 15:30
Ainda é cedo para a grande mídia festejar os números divulgados pelo Datafolha sobre a candidatura Marina
O Datafolha foi rápido no gatilho. Mal saíram as notícias da morte de Eduardo Campos, no mesmo dia 13 registrou pesquisa de intenções de votos com o nome de Marina Silva no lugar do candidato do PSB. Os questionários foram aplicados na quinta e sexta-feira (14 e 15), sob a comoção da tragédia.
A sondagem registrou Dilma Rousseff e Aécio Neves com números exatamente iguais à última pesquisa do Datafolha – 36% e 20%, respectivamente. Sequer oscilaram dentro da margem de erro. Marina Silva surge com 21%, em empate técnico com Aécio.
Se Marina não tirou votos de Dilma e Aécio, de onde vêm as intenções de votos nela bem maior do que os 8% que Campos tinha? Segundo o Datafolha, vieram dos votos nos chamados nanicos, que caíram de 8% para 5%, dos brancos e nulos, que caíram de 13% para 8%, e dos indecisos, que caíram de 14% para 9%.
É crível que Marina ostente percentuais mais altos do que Campos, porque ela já era mais conhecida e pelo menos parte dos 19,6 milhões de pessoas que votaram nela em 2010 poderiam votar de novo. Mas é preciso aguardar outras pesquisas, pois esta contém contradições esquisitas.
Primeiro, a aprovação do governo Dilma subiu 6 pontos, a rejeição oscilou para baixo, e as intenções de votos espontâneas na atual presidenta oscilaram para cima e, mesmo assim, o Datafolha registrou os mesmos 36% de intenções de voto na sondagem estimulada que Dilma tinha em julho.
Segundo, é estranho Marina retirar votos de candidatos "nanicos" e não retirar nenhum ponto de Aécio Neves dentro do eleitorado oposicionista.
Terceiro, na pesquisa espontânea, quando simplesmente pergunta em quem votará sem apresentar uma relação de nomes, Dilma aparece com 24% e Aécio com 11%, mais da metade do que tem na sondagem estimulada. Marina aparece com 5% na espontânea e quatro vezes mais na estimulada. Isso indica que as intenções de votos da petista e do tucano são mais firmes e, da candidata do PSB, mais incertas. Indica que o cidadão pesquisado pode estar respondendo ainda sem refletir o suficiente a respeito.
Quarto, o momento de comoção pela morte de um presidenciável e a superexposição de Marina no noticiário como fato novo nas eleições representam um ponto fora da curva em um momento favorável a ela.
Quinto, é duvidoso que Marina seja capaz de capturar tanto assim votos brancos e nulos dos que rejeitam partidos políticos. De 2010 para cá, Marina não usou seu capital para se engajar de fato na luta pela reforma política. Preferiu tentar, tardiamente, criar mais um partido próprio, dentro das regras atuais, inclusive defendendo vícios da velha política, como a infidelidade partidária e a portabilidade de fundo partidário.
Não conseguiu reunir assinaturas suficientes para criar seu partido, Rede Sustentabilidade, a tempo e, pragmaticamente, filiou-se ao PSB que, hoje, tem características de frente partidária, com quadros que vão da esquerda de Roberto Amaral a oligarquias de direita como a família Bornhausen de Santa Catarina.
À medida em que a dinâmica da campanha ocorrer com Marina candidata de uma frente de seis partidos convencionais (PHS / PRP / PPS / PPL / PSB / PSL), mantendo as coligações estaduais, e aparecendo em fotos com velhos caciques políticos, ela será capaz de capitalizar tanto assim os votos da antipolítica?
Sexto, Marina ainda não enfrentou a troca de chumbo que outros candidatos enfrentam. A ameaça de retirar Aécio Neves do segundo turno já provocou reações na mídia atucanada, como críticas a atos e gafes no velório de Campos, capacidade administrativa, questionamento sobre quem a sustenta e sobre algumas de suas opiniões acerca de meio ambiente, política econômica etc.
Se o Datafolha em sondagem de primeiro turno já traz desconfianças em sua validade, mais dúvidas despertam ao testar cenários de segundo turno. Marina e Dilma estariam em empate técnico, com vantagem para a primeira de 47% contra 43%. É no mínimo curioso Dilma subir de 36% para 43% enquanto Marina subiria de 21% para 47%. Para Marina subir tudo isso precisaria capturar todos os votos que iriam para Aécio Neves e em todos os nanicos e mais 1% de indecisos ou nulos no primeiro turno.
Outra inconsistência é o número de brancos/nulos/indecisos cair de 17% na sondagem de primeiro turno para 10% na de segundo turno. O número é contraditório. Quem diz não votar nem em Dilma, nem em Marina, nem em nenhum outro candidato no primeiro turno, não votaria em nenhuma das duas no segundo turno. Quem se diz indeciso no primeiro turno, nem adianta perguntar em quem votaria no segundo. Essas contradições baixam muito o valor científico de uma pesquisa que deveria representar uma amostra do eleitorado.
Houve uma verdadeira euforia na mídia oposicionista ao governo federal, desde o acidente, para pressionar o PSB a lançar Marina Silva e forçar haver segundo turno. A pesquisa em um momento inadequado, devido à comoção, parece interessar a este propósito. Mas nem precisava, pois Marina tornou-se a candidata natural do PSB, ainda que a contragosto de muitos, pois o partido não tem nenhuma outra liderança com projeção nacional. Só a própria Marina poderia inviabilizar seu nome, se colocasse obstáculos intransponíveis ao PSB .
Terça-feira (19) inicia a campanha eleitoral na TV. Pesquisas a partir do início de setembro, já decorridas duas semanas de propaganda televisiva, devem captar melhor a tendência do eleitor, tanto na eleição presidencial como na de governadores.
Mesmo assim, principalmente em alguns estados, até a hora de se fazer a pesquisa de boca de urna, espera-se haver mudanças de posições, porque as próprias pesquisas tem indicado pouco ou nenhum interesse nas eleições pela maioria do eleitorado, o que pode levar muitos a decidirem de fato seu voto na véspera do pleito.
Ainda é cedo para a grande mídia festejar os números divulgados pelo Datafolha sobre a candidatura Marina
O Datafolha foi rápido no gatilho. Mal saíram as notícias da morte de Eduardo Campos, no mesmo dia 13 registrou pesquisa de intenções de votos com o nome de Marina Silva no lugar do candidato do PSB. Os questionários foram aplicados na quinta e sexta-feira (14 e 15), sob a comoção da tragédia.
A sondagem registrou Dilma Rousseff e Aécio Neves com números exatamente iguais à última pesquisa do Datafolha – 36% e 20%, respectivamente. Sequer oscilaram dentro da margem de erro. Marina Silva surge com 21%, em empate técnico com Aécio.
Se Marina não tirou votos de Dilma e Aécio, de onde vêm as intenções de votos nela bem maior do que os 8% que Campos tinha? Segundo o Datafolha, vieram dos votos nos chamados nanicos, que caíram de 8% para 5%, dos brancos e nulos, que caíram de 13% para 8%, e dos indecisos, que caíram de 14% para 9%.
É crível que Marina ostente percentuais mais altos do que Campos, porque ela já era mais conhecida e pelo menos parte dos 19,6 milhões de pessoas que votaram nela em 2010 poderiam votar de novo. Mas é preciso aguardar outras pesquisas, pois esta contém contradições esquisitas.
Primeiro, a aprovação do governo Dilma subiu 6 pontos, a rejeição oscilou para baixo, e as intenções de votos espontâneas na atual presidenta oscilaram para cima e, mesmo assim, o Datafolha registrou os mesmos 36% de intenções de voto na sondagem estimulada que Dilma tinha em julho.
Segundo, é estranho Marina retirar votos de candidatos "nanicos" e não retirar nenhum ponto de Aécio Neves dentro do eleitorado oposicionista.
Terceiro, na pesquisa espontânea, quando simplesmente pergunta em quem votará sem apresentar uma relação de nomes, Dilma aparece com 24% e Aécio com 11%, mais da metade do que tem na sondagem estimulada. Marina aparece com 5% na espontânea e quatro vezes mais na estimulada. Isso indica que as intenções de votos da petista e do tucano são mais firmes e, da candidata do PSB, mais incertas. Indica que o cidadão pesquisado pode estar respondendo ainda sem refletir o suficiente a respeito.
Quarto, o momento de comoção pela morte de um presidenciável e a superexposição de Marina no noticiário como fato novo nas eleições representam um ponto fora da curva em um momento favorável a ela.
Quinto, é duvidoso que Marina seja capaz de capturar tanto assim votos brancos e nulos dos que rejeitam partidos políticos. De 2010 para cá, Marina não usou seu capital para se engajar de fato na luta pela reforma política. Preferiu tentar, tardiamente, criar mais um partido próprio, dentro das regras atuais, inclusive defendendo vícios da velha política, como a infidelidade partidária e a portabilidade de fundo partidário.
Não conseguiu reunir assinaturas suficientes para criar seu partido, Rede Sustentabilidade, a tempo e, pragmaticamente, filiou-se ao PSB que, hoje, tem características de frente partidária, com quadros que vão da esquerda de Roberto Amaral a oligarquias de direita como a família Bornhausen de Santa Catarina.
À medida em que a dinâmica da campanha ocorrer com Marina candidata de uma frente de seis partidos convencionais (PHS / PRP / PPS / PPL / PSB / PSL), mantendo as coligações estaduais, e aparecendo em fotos com velhos caciques políticos, ela será capaz de capitalizar tanto assim os votos da antipolítica?
Sexto, Marina ainda não enfrentou a troca de chumbo que outros candidatos enfrentam. A ameaça de retirar Aécio Neves do segundo turno já provocou reações na mídia atucanada, como críticas a atos e gafes no velório de Campos, capacidade administrativa, questionamento sobre quem a sustenta e sobre algumas de suas opiniões acerca de meio ambiente, política econômica etc.
Se o Datafolha em sondagem de primeiro turno já traz desconfianças em sua validade, mais dúvidas despertam ao testar cenários de segundo turno. Marina e Dilma estariam em empate técnico, com vantagem para a primeira de 47% contra 43%. É no mínimo curioso Dilma subir de 36% para 43% enquanto Marina subiria de 21% para 47%. Para Marina subir tudo isso precisaria capturar todos os votos que iriam para Aécio Neves e em todos os nanicos e mais 1% de indecisos ou nulos no primeiro turno.
Outra inconsistência é o número de brancos/nulos/indecisos cair de 17% na sondagem de primeiro turno para 10% na de segundo turno. O número é contraditório. Quem diz não votar nem em Dilma, nem em Marina, nem em nenhum outro candidato no primeiro turno, não votaria em nenhuma das duas no segundo turno. Quem se diz indeciso no primeiro turno, nem adianta perguntar em quem votaria no segundo. Essas contradições baixam muito o valor científico de uma pesquisa que deveria representar uma amostra do eleitorado.
Houve uma verdadeira euforia na mídia oposicionista ao governo federal, desde o acidente, para pressionar o PSB a lançar Marina Silva e forçar haver segundo turno. A pesquisa em um momento inadequado, devido à comoção, parece interessar a este propósito. Mas nem precisava, pois Marina tornou-se a candidata natural do PSB, ainda que a contragosto de muitos, pois o partido não tem nenhuma outra liderança com projeção nacional. Só a própria Marina poderia inviabilizar seu nome, se colocasse obstáculos intransponíveis ao PSB .
Terça-feira (19) inicia a campanha eleitoral na TV. Pesquisas a partir do início de setembro, já decorridas duas semanas de propaganda televisiva, devem captar melhor a tendência do eleitor, tanto na eleição presidencial como na de governadores.
Mesmo assim, principalmente em alguns estados, até a hora de se fazer a pesquisa de boca de urna, espera-se haver mudanças de posições, porque as próprias pesquisas tem indicado pouco ou nenhum interesse nas eleições pela maioria do eleitorado, o que pode levar muitos a decidirem de fato seu voto na véspera do pleito.
Rede Brasil Atual - Blog da Helena
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