sábado, 7 de março de 2015

O suposto esquema de Cunha para não ser visto no caixa 2 de sua campanha

SAB, 07/03/2015 - 13:51
ATUALIZADO EM 07/03/2015 - 14:01


Cunha teria na Petrobras um complexo esquema para financiar a sua campanha eleitoral de 2010, com diversas empreiteiras e lobistas


Jornal GGN - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), é alvo de um inquérito destinado a investigá-lo exclusivamente no Supremo Tribunal Federal. Com base nas delações premiadas do doleiro Alberto Youssef e indícios de documentos apreendidos em empreiteiras e levantados junto ao TSE, Cunha teria na Petrobras um complexo esquema de caixa 2 para financiar a sua campanha política, pelo menos de 2010, com diversas empreiteiras - UTC, Queiroz Galvão, Samsung, etc -, junto a diversos lobistas, e em duas áreas importantes da estatal (de Abastecimento e Internacional), elaborado sob cálculos para não deixar resquícios, e utilizando-se de pressão, ameaçando desbaratinar todo o esquema, em momentos de desagrado.

Em uma das constatações, Cunha teria se favorecido nas licitações para o aluguel de um navio plataforma, junto à área Internacional da Petrobras, comandada por Nestor Cerveró. Para que a Samsung vencesse o contrato, precisaria pagar uma quantia de propina a integrantes do PMDB, “notadamente o deputado federal Eduardo Cunha”, disse em depoimento, o doleiro Alberto Youssef.

O broker (quem intermediava as negociações, cargo, a priori, legal) neste acordo foi Julio Camargo, executivo da Toyo-Setal e da Mitsue. Era ele quem trabalhava para a Samsung, repassando os valores ao lobista Fernando Baiano que, segundo Youssef, representava o PMDB e o deputado Cunha junto à Petrobras.

Baiano era assim chamado Fernando Soares. De acordo com dados de Paulo Roberto Costa ao doleiro Youssef, Baiano seria o responsável por abrir o caminho de favorecimentos do PMDB com a estatal, tanto na Câmara, quanto no Senado. Teria sido graças ao PMDB, juntamente com o PP, que Paulo Roberto Costa, então diretor de Abastecimento da Petrobras, permaneceu no cargo. Assim, Costa não só garantia a propina dos contratos ao PP, como também ao partido do presidente da Câmara, e estendeu a influência aos contratos da área Internacional, por meio de Cerveró.

Segundo Youssef, Julio Camargo chegou a parar de receber a quantia da Samsung, depois que a empresa já começou a prestar os serviços, e o broker recorreu à Corte de Londres para receber as comissões que não foram pagas. Com a quebra no ciclo de repasses, Eduardo Cunha deixou de receber e, como resposta, abriu uma representação na Câmara, solicitando informações sobre as empresas de Julio: Mitsue, Toyo, junto à Petrobras. Diante da pressão, mesmo sem receber, o broker chegou a pagar um total R$ 6 milhões de reais, em espécie, por conta própria, a Baiano, durante os anos de 2012 e 2013.

Essas informações teriam sido transmitidas pelo próprio Julio Camargo ao doleiro Youssef. O doleiro, no entanto, nunca presenciou encontros do lobista Fernando Baiano com políticos do PMDB. Youssef contou, também, que pressionou Baiano, a pedido de Costa junto à Diretoria de Abastecimento, para receber os valores da Andrade Gutierrez para a campanha do PMDB de 2010. Youssef diz ter recebido da empresa três parcelas de R$ 500 mil cada.

“Embora não tenha como precisar neste momento se os valores mencionados nos termos em questão foram entregues diretamente ao Deputado Federal Eduardo Cunha, fato é que o colaborador Alberto Youssef reiterou, e com razoável detalhamento, que Eduardo Cunha era beneficiário dos recursos e que participou de procedimentos como forma de pressionar o restabelecimento do repasse dos valores que havia sido suspenso, em determinado momento, por Júlio Camargo”, escreveu o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Os valores foram constatados, em forma de doação, nos comitês de campanha do PMDB e do deputado Eduardo Cunha. Também há registros de repasses do comitê do PP a Cunha. Outro indício levantado pelo MPF é que o motorista de Youssef afirmou ter levado dinheiro, “duas ou três vezes”, à residência de Cunha, ainda sem tê-lo visto e sem a certeza de ser a casa do parlamentar. Youssef negou que disse que a casa era de Cunha, mas confirmou que eram repasses das empreiteiras UTC e OAS, direcionados ao caixa 2 do PMDB.


O MPF apurou e descobriu que a casa mencionada era de propriedade de Chico Reis, aliado do deputado estadual Jorge Sayeda Picciani, atual presidente do PMDB do Rio e que tem fortes ligações com Cunha. Uma planilha apreendida na empreiteira Queiroz Galvão também reitera o indício, trazendo o nome “Picciani”:


“Importante destacar, por oportuno, os vultosos valores recebidos por Eduardo Consentino da Cunha (em princípio como ‘doações oficiais’) de várias empresas que já se demonstrou estarem diretamente envolvidas na corrupção de parlamentares (especialmente em período prévio às eleições), reiterando-se que uma das formas de pagamento de propinas (anteriormente detalhado) era exatamente a realização de várias doações registradas ‘oficialmente’ aos Diretórios dos Partidos (que depois repassavam aos parlamentares)”, escreveu o procurador.

Cunha será investigado por crime de corrupção passiva qualificada. Em resposta, o deputado disse, ao Jornal da Band, não estar preocupado com as investigações. "Vamos rebater tudo porque estamos tranquilos neste processo", afirmou.


Jornal GGN

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