sábado, 16 de julho de 2016

A avaliação de Temer

O “povo” que não queria Dilma também rejeita Temer. Mas esse “povo” já não interessa mais à elite

por Marcos Coimbra — publicado 13/07/2016 04h48

Lula Marques/ AGPT
Quase dois meses após sua posse, Temer exibe alguns dos piores resultados obtidos por qualquer governante em nossa história

Por dois motivos, os números da popularidade de Michel Temer são relevantes. De um lado, muito dizem a respeito do momento em que vivemos e da situação à qual o País foi lançado com o processo de impedimento de Dilma Rousseff. De outro, ajudam a expor o modo como o poder é exercido em nossa sociedade. 

Quase dois meses após sua posse, Temer exibe alguns dos piores resultados obtidos por qualquer governante em nossa história. Na mais recente pesquisa CUT/Vox Populi,realizada entre os dias 7 e 9 de junho deste ano, apenas 11% dos entrevistados responderam que consideravam o governo “ótimo” ou “bom”. 

Vinte dias depois, o Ibope chegou a quase os mesmos números, em pesquisa para a Confederação Nacional da Indústria, mostrando que, entre 24 e 27 de junho, eram 13% os que avaliavam o governo de maneira positiva. Igual ao que outro levantamento, realizado no início de junho pelo MDA para a Confederação Nacional dos Transportes, havia indicado, apontando que não passavam de 11% as pessoas que tinham opinião favorável do governo. 

Chama atenção a semelhança entre esses números e os relativos às expectativas antes de seu começo. Em março, de acordo com o Datafolha, eram 16% os que imaginavam que Temer seria bom ou ótimo presidente. Em abril, a proporção manteve-se idêntica. 

Pode-se, portanto, dizer que o atual governo foi aguardado com pessimismo e recebido com ceticismo, e que está sendo avaliado positivamente por uma pequena parcela da população. Perto de oito em cada nove pessoas não o acham bom. Na pesquisa CUT/Vox Populi, cerca de 70% dos entrevistados querem uma nova eleição, ou seja, que Temer saia. 

Não seria justo comparar o interino aos presidentes eleitos. Todos, na altura dos dois meses, eram mais bem avaliados. Mas faz sentido lembrar o ocorrido com Itamar Franco, que chegou ao Planalto em condições semelhantes.

Segundo o Datafolha, as expectativas a seu respeito não eram elevadas: em setembro de 1992, apenas 18% supunham que o mineiro seria bom presidente. Em meados de dezembro, no entanto, pouco mais de dois meses depois da posse, os números da avaliação positiva já eram outros, chegando a 35%. Com tempo parecido, Temer patina em um terço disso e nada sugere que venha a superá-lo no horizonte discernível. 

Ao contrário. A agenda com que ele se comprometeu para obter o apoio do empresariado, da mídia e dos segmentos mais ricos da população tende a acentuar a desaprovação. Seu governo nasceu com imagem antipopular e a perspectiva de que limitará direitos e cortará investimentos nas áreas sociais. À medida que o tempo passar, o provável é que sua avaliação não suba, mesmo com acenos demagógicos como o recente aumento do Bolsa Família. 

Tampouco parece que vai beneficiar-se daquilo que ajudou Itamar a logo chegar a mais de um terço de boa avaliação: a comparação com o antecessor, que fez com que crescesse sem que tivesse que fazer nada, bastando que não fosse igual a Fernando Collor. Era o que se esperava que Temer conseguisse no contraste com Dilma, mas não é o que vem ocorrendo. Seria agora que ele deveria lucrar com esse “efeito comparação”, que é transitório e tende a se dissipar rapidamente (seis meses depois, Itamar já estava com metade da aprovação e continuou caindo). 

Temos hoje um presidente muito mal avaliado, em quem a sociedade não confia e que a maioria preferiria que saísse. Considerando os atributos de sua persona política, a natureza dos programas que pretende executar e as características de seus aliados e equipe, um presidente cuja avaliação dificilmente melhorará. 

O notável é que poucos, na elite política brasileira, se preocupam com isso. Passados dois anos em que o discurso das lideranças no Congresso, no Judiciário, no Ministério Público, na mídia e no empresariado abusou da ideia de que “o povo” queria a saída de Dilma, ninguém fala agora em “povo”. Tornou-se irrelevante o fato de “o povo” não querer Temer, que todas as pesquisas apontam, as mesmas que mostraram o desgaste de Dilma. A ideia serviu de pretexto para derrubar a indesejada, mas deixou de ser útil.

Nossas elites falam em “povo” quando lhes é conveniente. Ouvem-no quando repete o que mandam que diga. Quando não, é como se inexistisse. Sonham com uma democracia de aparências, onde o povo é mero espectador.


Carta Capital

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