POR FERNANDO BRITO · 28/07/2016
O jornalista Tales Faria, ontem, deu a melhor definição do que será a apreciação da defesa da presidente afastada Dilma Rousseff na comissão do impeachment: Defesa de Dilma vai falar para surdos.
Porque, disse ele, digo eu e dirá qualquer um, ” a maioria dos senadores já não presta qualquer atenção aos argumentos da defesa.”
A ordem é matar e quem vai confirmá-la sabe que participa de um assassinato político.
Pode ser – já eu duvido muito de tudo e muito mais ainda da mixórdia que se transformou a representação parlamentar – crises de consciência, mas é improvável.
E Dilma optou pelo papel digno, que pode ser um erro no momento mas sempre é um acerto na história.
Não li – seria impossível, são 536 páginas, que podem ser acessadas aqui – mas correndo os olhos separei um dos trechos finais que retrata esta indiferença e ressalta a dignidade de quem vai à morte sem súplicas ou sem por-se de joelhos:
Nesse momento, estas páginas são escritas para o julgamento que se trava no parlamento e também para a história. Ao serem lidas hoje e no futuro, os leitores darão o seu veredictum.
O julgamento que será feito pelo parlamento brasileiro dará a sua sentença. Ela poderá ser coincidente ou não com a sentença que, no futuro, será dada pela história.
Qualquer pessoa isenta que venha a compulsar estes autos não terá a menor dúvida acerca de qual será o veredictum histórico acerca deste processo de impeachment.
As acusações dirigidas contra a Sra. Presidenta da República, Dilma Rousseff, são pífias e manifestamente improcedentes. São meros pretextos retóricos utilizados para que ela seja retirada do mandato que lhe foi outorgado pelo povo brasileiro.
Os decretos de abertura de crédito suplementar são atos comuns praticados dentro de uma rotina que existe há mais de uma década. Desde a entrada em vigor da Lei de Responsabilidade Fiscal (2001), todos os governos os praticaram, com as mesmas características com que foram editados pela nossa atual Presidenta da República. Nunca nenhum técnico ou jurista levantou a mais leve suspeita de que seriam ofensivos à lei. O próprio Tribunal de Contas da União aprovou as contas dos Presidentes que os praticaram. Por isso, todos os pareceres técnicos que fundamentavam estes atos administrativos afirmavam que eram absolutamente válidos.
Foram, por isso, assinados pela Sra. Presidente da República, sem dolo ou mesmo culpa. Assinou o que todos os que a antecederam assinaram. Assinou amparada na opinião de todos de que aqueles atos não tinham nada de irregular ou ilícito. (…)
E, por isso, estas mesmas páginas responderão à pergunta feita logo ao início destas alegações: é possível um impeachment presidencial ser um golpe de Estado?
Sim, é possível, responderão as páginas deste processo. Demonstrarão para os cidadãos de hoje e para a história, independentemente do seu resultado, que é possível sim.
Basta que pessoas que temem as urnas se unam com pessoas que perderam nas urnas, unindo seus objetivos, à revelia do povo, para que se possamos montar a farsa de uma destituição ilegítima de um governo legítimo. Uma farsa que teme ser desvelada e por isso não aceita ser chamada pelo nome que melhor a identifica na linguagem dos povos: golpe de Estado”.
Creio que não estamos assistindo o martírio de uma inocente, mas o comportamento estóico de uma mulher digna.
São seis os votos que precisa e mais de 20 os ministérios que teria a oferecer como nacos de sua eventual volta ao Governo.
Mas a “cintura” que faltou a Dilma em seus cinco anos de governo é, agora, a espinha dorsal que não se dobra.
O velho Getúlio Vargas não desprezava a política.
Mas houve uma hora em que teve a coragem de dar-se um tiro no coração.
Tijolaço
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