POR FERNANDO BRITO · 16/07/2016
O brigadeiro Umit Dundar, escolhido chefe provisório das Forças Armadas durante a noite general Hulusi Akar, chefe do Exército turco, ser detido pelas forças do golpe, fez um pronunciamento, minutos antes das seis da manhã, dizendo que fracassou a tentativa de deposição militar do Governo do país.
Segundo o The Guardian , referindo-se a quatro golpes anteriores da Turquia nas últimas décadas, Dundar afirmou que “irreversivelmente se fechou o capítulo de golpes militares.”
“As pessoas tomaram as ruas e expressou seu apoio à democracia. Turquia exibiu uma cooperação histórica entre o governo e as pessoas. A nação nunca vai esquecer essa traição. A Turquia irreversivelmente fechou o capítulo de golpes militares “(…) Vamos continuar a servir o povo. Eu gostaria de agradecer a todos os partidos políticos e os meios de comunicação por seu apoio à democracia. Aqueles que traíram seu país não ficarão impunes”.
Dundar teria apresentado, segundo jornal, um balanço de 194 mortes: 41 policiais, dois soldados,47 civis e 104 pessoas descritas como “golpistas”. Há no site diversos vídeos, alguns bem fortes, de soldados sendo detidos por civis e policiais, vários deles sofrendo espancamento, mesmo depois de renderem-se e estarem dominados.
O primeiro contem imagens impressionantes de uma multidão avançando apara retomar o controle da ponte sobre o Bósforo e se lançando ao chão, quando são ouvidos disparos. Duram pouco, mas não se sabe ainda precisar o que produziram em mortos e feridos.
Várias testemunhas, ouvidas pelos jornais internacionais dizem que a reação popular só ocorreu depois que o presidente Recep Erdogan apareceu na televisão (veja o post anterior) e disse estar no comando do governo, apesar do aparente domínio golpista sobre Ancara e da detenção do seu comendante militar.
O CENÁRIO
Para ajudar a compreender o quadro na Turquia, transcrevo abaixo a tradução-resumo, feita pelo professor Nilson Lage, de um artigo no Asia Times:
O país vive o que pode ser descrito como “bolha de consumo” comparável à bolha do ponto-com do início do século e à bolha dos derivativos, em 2008, nos Estados Unidos: o crescimento do Produto Interno Bruto vem sendo mantido graças ao endividamento das pessoas em um nivel tal que não poderá ser sustentado por muito tempo.
Uma crise étnica aponta para a divisão do país. O crescimento acelerado da população de etnia curda, que aspira à independência, contrasta com a redução da natalidade entre os da etnia turca (turcos e aculturados): à medida que os hábitos ocidentais foram sendo introduzidos e as mulheres conquistaram posições de independência financeira, cresceu a rejeição à estrutura tradicional da família muçulmana nas principais cidades turcas e muita jovens optaram por não casar e não ter filhos: é o que mostram os dados. (Obs: há vários gráficos sobre isso no Asia Times)
O governo muçulmano moderado enfrenta a dupla oposição dos de religião mais tradicional e dos que aderiram ao modo europeu de vida. A politica de apoio disfarçado ao califado islâmico no Iraque e na Síria foi rompida, sob pressão da União Europeia e diante da crise dos refugiados – ruptura que se evidenciou em recente atentado de radicais muçulmanos em Ancara.
No plano político, a integração à Europa tende a reduzir o papel do Exército, que desde o golpe de 1980 ocupa espaço importante na vida turca. A resistência civil ao golpe deve-se, provavelmente, tanto à memória da melhoria das condições de vida em anos recentes quanto à motivação religiosa da base popular, de maioria muçulmana.
Tijolaço
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