quinta-feira, 14 de julho de 2016

Líder rebate críticas: “O PT não apoiou golpista algum”



14 de Julho de 2016

Tereza Cruvinel


Não só os governistas lambem as feridas da disputa pela presidência da Câmara. Os partidos de esquerda enfrentam uma enxurrada de críticas pelos apoios negociados nos dois turnos da eleição, como se tivessem determinado a vitória do governo Temer com Rodrigo Maia. Faltou unidade, mas mesmo unida, a esquerda não tinha a menor chance de levar um candidato seu ao segundo turno. Poderia ter levado o peemedebista dissidente Marcelo de Castro, mas ele foi atropelado pela artilharia palaciana. Uma avaliação correta exige que se distinga, para começar, as posições adotadas por PT, PC do B, Rede e PSOL nos dois turnos.

O mais criticado, naturalmente, vem sendo o PT, inclusive por lideranças do partido, como o senador Lindbergh Farias. O líder na Câmara, Afonso Florence, diz que há um misto de desinformação com erros de avaliação nestas críticas. “O PT não apoiou golpista algum. Apoiamos o Marcelo de Castro no primeiro turno. Ele não é golpista, é anti-Cunha e anti-Temer, mas foi derrotado pelo trator palaciano. No segundo turno, liberamos a bancada. Muitos de fato votaram no candidato Rodrigo Maia por entender que a prioridade era derrotar Cunha e o Centrão. Outros foram embora, deixando de votar, e alguns votaram em branco. O resto é confusão ou desinformação”, diz Florence, justificando sobretudo o apoio a Castro.

- No primeiro turno não apoiamos candidato golpista algum. Marcelo de Castro é um deputado progressista, um aliado do PT desde antes de chegarmos ao governo. Foi ministro de Dilma, votou contra o golpe, é anti-Cunha e contra a agenda neo-liberal de Temer. Inclusive contra a mudança no pré-sal, a emenda do teto com gasto público e a desvinculação de despesas com educação e saúde. Ele não tem culpa de seu partido ter optado pelo golpe. Nós o apoiamos mas o Planalto jogou pesado e o tirou do segundo turno. Esta foi a única decisão tomada e tenho convicção de que foi uma decisão correta, embora ele tenha sido derrotado. No segundo turno, os que votaram em Rodrigo Maia o fizeram não por ser menos pior, mas porque elegeram como prioridade derrotar o Rosso, que tentaria salvar o Cunha. Não creio que Maia fará isso nem que presidirá a Casa atropelando regimento e Constituição, como fazia o Cunha.

Este foi o jogo do PT e a verdade é que, entre os quatro partidos da esquerda, cada um fez seu jogo. Até a semana passada, nenhum candidato deste próprio campo havia se apresentado. Foi quando o PT decidiu apoiar Castro, avaliando que ele era o único não golpista e anti-Cunha que poderia, com apoio da esquerda, chegar ao segundo turno. Naquele momento, pela primeira vez nos tempos revoltos atuais, PT e PC do B ficaram em posições distintas. O PC do B, via Aldo Rebelo e Orlando Silva, optou por apoiar Rodrigo Maia já no primeiro turno. Diante do crescimento da candidatura de Marcelo de Castro, o PC do B lançou a anti-candidatura de Orlando Silva para segurar votos de seu partido. O PSOL, simultaneamente, lançou Luiza Erundina, que teve alguns votos do PT. No segundo turno os deputados do PSOL deixaram a Câmara.

Veio o segundo turno e a Rede (que apoiara Erundina) também avaliou que Rodrigo Maia oferecia duas vantagens. Não tentaria salvar Cunha e não dirigiria a Casa com a mão de ferro do antecessor. Pouco antes do início da votação, valendo-se de seus vínculos afetivos no PT, do qual saiu este ano, o deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) foi à liderança do PT tentar dobrar alguns amigos. Lá estava também Rubens Júnior, do PC do B, argumentando em favor de Maia. A convergência estava se criando.

O resto veio no placar. O próprio Rodrigo Maia agradeceu os votos que teve na esquerda. Eles engrossaram a diferença que ele obteve contra Rosso: 285 a 170 votos.

O voto da esquerda em Maia teve cálculo político mas não, como dizem alguns dos críticos, barganhas miúdas em troca de vantagens corporativas ou quetais. O cálculo não é claramente explicitado, mas é claro. Se Maia acelerar a cassação de Cunha, mais rapidamente ele será preso. Mais rapidamente poderá tornar-se delator e talvez produzir a única bala de prata que pode derrotar o golpe: uma denúncia grave contra Michel Temer.

Quem está fora do Congresso não pode também avaliar aspectos da luta parlamentar, que é só uma parte da luta política mas não pode ser negligenciada. A negligência parlamentar do PT contribuiu muito para o golpe. Foi sob um presidente da Câmara ditador, depois dos erros cometidos na sucessão de Henrique Alves, que o governo Dilma e o PT passaram a sofrer derrotas seguidas. Cunha ligava o rolo compressor e passava sobre todos que se opunham a uma agenda que ele mesmo elaborada.

Rodrigo Maia é governista e aliado de Temer. “Temos clareza de que ele vai tocar a agenda neo-liberal, que tentará unificar a base de Temer para aprovar a agenda de retrocessos sociais e econômicos. Mas ele não será uma réplica de Cunha. Se a civilidade política e o respeito à minoria voltarem a frequentar o plenário, vamos lutar em condições melhores nas duras batalhas que temos pela frente: a resistência ao golpe, o combate ao desmonte do legado de nossos governos e à agenda do retrocesso que Temer representa” – diz Florence.


Brasil 247

Nenhum comentário:

Postar um comentário