27 de Agosto de 2016
Por Robson Sávio Reis Souza
Enganam-se os impostores que tomaram de assalto o poder acerca do término do julgamento da presidenta legítima Dilma Rousseff nestes dias. A farsa do jogo jogado - que se arrasta desde aquele momento patético no qual uma facção criminosa de corruptos admitiu o início do processo na Câmara Federal -, não terá seu ponto final com o veredicto de um Senado que, com um perfil similar ao da Câmara, é composto, majoritariamente, por políticos da pior qualidade. Uma charge, atribuída ao The New York Times desta semana (que ilustra este post), retrata bem o julgamento político em curso. Num patíbulo, Dilma é cercada (e julgada) por um bando de ratos escrotos.
A narrativa do golpe já está consolidada no exterior. Inúmeras evidências (a principal delas, a ausência retumbante dos líderes mundiais nos eventos olímpicos) dão conta que a comunidade internacional não engole goela abaixo a história contada a fórceps pelos pseudovencedores do golpe: o parlamento, majoritariamente formado por ratazanas e líderes partidários perversos; a mídia manipuladora, com suas emissoras platinas, revistas e jornais que transformaram jornalismo em espetáculo inquisitorial a serviço dos impostores; os empresários e banqueiros antinacionais, subservientes do capital global; segmentos judiciários e policiais capangas da casa grande e outros grupos da classe média que não abrem mão de privilégios e cuja ação política na sociedade é baseada, quase que exclusivamente, na propagação do ódio, da violência e da vingança.
Acontece que a história não perdoa traidores, covardes e mamulengos. Por isso, é justamente de agora em diante que todos contarão a história do bando que violentou a democracia deste país.
Ao derrubar sordidamente uma presidenta eleita, a coalizão golpista jogou no lixo a democracia, a Constituição e o estado de direito.
No futuro, próximo e distante, essa história se iniciará assim: em agosto de 2016, um senado formado por inúmeros corruptos, denunciados por falcatruas das mais escandalosas e presidido por um ministro do Supremo – que assistiu impávido a violação da Constituição -, impediu uma presidenta legítima do exercício do poder sufragado pelas urnas. Sem crime de responsabilidade, como determina a Constituição, o julgamento realizado por juízes corrompidos e sem moral alçou ao comando do país um governo ilegítimo, corrupto e sem voto. Aliado com os perdedores das eleições - movidos pela vingança e que sequer respeitam as regras procedimentais da democracia -, e sem nenhum vínculo efetivo com o povo, a Constituição e o estado de direito, o desgoverno criado artificial e oportunisticamente foi a prova cabal a confirmar que um golpe arruinou a frágil democracia brasileira.
Portanto, os atores e as coalizões que ardilosamente tramaram o golpe serão nomeados e registrados nos anais da história.
Mas, o ostracismo e a repugnância não serão castigos suficientes para punir os golpistas que, historicamente, sempre se articularam nesse país para pilharem o patrimônio público e impedir o avanço dos direitos do povo. 1954 e 1964, logo ali, mostram que os golpistas não têm pudor, nem temor. E fiam-se na impunidade perpetua.
A principal lição que devemos tirar deste episódio é que a impunidade em relação aos traidores e usurpadores, de ontem e de hoje, é o ingrediente a alimentar os golpes.
Assim, caberá a todos aqueles e aquelas que já se articulam na resistência democrática tratar de construir estratégias para o enfrentamento daquilo que até hoje o país não fez: um acerto de contas com o passado e com o presente; com os atores que sempre querem impor uma sociedade de perfil escravista, patrimonialista, machista, coronelista, elitista e violenta.
Há que se começar uma nova construção. Em nome da verdade, da memória e da justiça é preciso derrubar, de uma vez por todas, as estruturas da casa grande para se construir, de fato, uma nação onde imperará, com longevidade, a justiça e a igualdade, expurgando os vampiros sanguessugas da Nação. Chega de conciliação e de paz dos túmulos.
Brasil 247
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