Postado em 19 Sep 2016
por : Paulo Nogueira
Moro disfarçado para não ser reconhecido no vôo, numa foto do autor da matéria
Cheguei a uma conclusão.
Pelo bem do Brasil, Sérgio Moro tem que sofrer alguns esculachos. Tem que chegar a ele o contraponto da louvação delirante da direita.
Um choque de realidade, digamos assim.
Ficou claro para mim depois de ler um texto repulsivo da Veja que circulou nos círculos de esquerda hoje. O artigo é assinado pelo editor de política da Veja, Rodrigo Rangel.
Rangel acompanhou Moro numa visita aos Estados Unidos, e literalmente lambeu o chão que Moro pisou. Raras vezes o jornalismo brasileiro produziu algo tão imundo.
Tenho uma dúvida: Rangel viajou por conta da Abril ou por conta do contribuinte? Não está claro na reportagem. Meu palpite — palpite, apenas — é que nós bancamos o périplo americano de Rangel. Moro, como se fosse Brad Pitt, se deu ao trabalho de se disfarçar para não ser reconhecido. É um traço de seu provincianismo galopante. Pareceu imaginar que os americanos fariam filas para tirar selfies com ele, sem entender que é um zé mané na arena internacional.
Rangel tentou extrair de Moro, à base de sabujice incondicional, a promessa de que vai prender Lula.
É um artigo que se supera em baixeza. Rangel arruma um personagem — real ou fictício não sei; a Veja é conhecida por inventar pessoas para reforçar seus pontos — que define Moro como um heroi, talvez do mesmo quilate de Ayrton Senna.
Pobre Senna. Saberemos disso quando Moro for enterrado. Compararemos com a dor colossal que a morte de Senna provocou em todos os brasileiros.
O problema maior é Moro acreditar nestas coisas grotescas.
Se for inteligente, lembrará a trajetória de seu antecessor, Joaquim Barbosa. JB foi idolatrado pelo que há de mais atrasado e imbecil na sociedade brasileira.
Chegou a ser especulado como candidato a presidente por comentaristas tarimbados, como Elio Gaspari. E virou até máscara de Carnaval.
Em sua tolice deslumbrada, JB achou que era mérito seu — e não apenas resultado de que estar falando, ou gritando, tudo aquilo que a plutocracia queria que ele dissesse para esquartejar o PT e preparar o golpe.
Hoje, JB é um pária. De tempos em tempos, posta coisas do Twitter em que essencialmente defende o contrário do que fez quando no STF.
Nenhum jornal, nenhuma revista o ouve. É um pária. Os antigos admiradores debandaram.
Moro só é tratado como Deus por jornalistas como Rangel da Veja porque ele diz o que os donos da Abril querem que ele diga. É manipulado e teleguiado, embora não se dê conta disso.
Num plano geral, ao contrário do que a mídia plutocrata afirma, ele é abominado por milhões e milhões de brasileiros que enxergam nele um símbolo da justiça iníqua, feita por ricos e para os ricos.
É mais que bem vindo um escracho que o devolva à realidade. Nada de agressivo. Bastam palavras como golpista. No mais, é gravar e colocar nas redes sociais.
Talvez ele entenda que está longe de ser uma unanimidade. Daqui a 50 anos, ele será uma nota de rodapé, como Joaquim Barbosa, e Lula terá o devido reconhecimento pelas transformações sociais que trouxe ao país.
Nem máscara de Carnaval Moro terá sido.
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Diário do Centro do Mundo - DCM
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