Postado em 22 Sep 2016
por : Carlos Fernandes
Até quando seremos obrigados a engolir esse homem?
O líder indiano Mahatma Gandhi possui uma frase no mínimo emblemática, sobretudo para os obscuros dias que estamos atravessando. Diz ele:”Se ages contra a justiça e eu te deixo agir, a injustiça é minha”.
É uma reflexão desconcertante uma vez que imputa a responsabilidade pelas injustiças não só a quem a pratica, mas principalmente a quem permite passivamente que ela seja livremente praticada.
Numa das pontas da máxima de Gandhi encontra-se o juiz Sérgio Moro e a força tarefa da operação Lava Jato. Paradoxalmente, chegamos a um estado de exceção tal que ninguém mais no Brasil age mais escandalosamente contra a justiça do que os próprios membros do sistema judiciário.
A parcialidade inconteste de Moro – tanto quanto suas motivações pessoais na condução de seus trabalhos – transformaram os ritos do processo penal brasileiro previstos em lei numa verdadeira inquisição onde os direitos civis e o amplo direito de defesa foram sumariamente abolidos.
A prisão de Guido Mantega enquanto acompanhava sua esposa no hospital para uma cirurgia contra um câncer superou, até agora, todas os espetáculos midiáticos já presenciados. Se antes a desproporcionalidade e a autopromoção de suas decisões eram fatores constantes, agora a desumanidade e a crueldade perante um ser humano se fizeram presentes.
Segundo o procurador Carlos Fernando Lima, foi uma “triste coincidência”. Não, não foi. Foi algo meticulosamente preparado. Se não em relação à esposa de Mantega, mas com certeza em relação às eleições municipais.
Ainda segundo o próprio Lima, a decisão de Moro em prender Mantega foi tomada em Agosto e só ainda não havia sido cumprida por “circunstâncias operacionais” como os “jogos do Rio”. O que as olimpíadas tem a ver com um mandado de prisão temporária é algo que jamais iremos saber.
De qualquer forma, diante à terrível repercussão e sem qualquer argumento que pudesse sustentar o encarceramento do ex-ministro, não restou outra alternativa a Moro senão revogar a prisão que ele próprio havia deferido.
Tudo isso nos traz à outra ponta da máxima de Gandhi, a que comporta àqueles que permitem que tamanha injustiça seja praticada diuturnamente.
Em tese, uma injustiça praticada a um, é uma injustiça praticada a todos. Mas dado o fascismo com que mentes reacionárias estão festejando os abusos cometidos por uma tríada encabeçada por Moro e que se estende pelo MPF e pela Polícia Federal, resta aos movimentos progressistas combaterem essa nova forma de tirania.
O fato é que não é isso que está acontecendo. A despeito das crescentes manifestações contra o governo ilegítimo de Temer, os movimentos progressistas vem assistindo, apáticos, a retirada violenta de uma presidenta legitimamente eleita, o esfacelamento do programa de governo vencedor nas urnas e a tenebrosa caça às bruxas promovida pela república de Curitiba que só cessará com a prisão do ex-presidente Lula.
Ou unimos todas as nossas forças e lutamos incansavelmente até a ordem jurídica ser novamente reestabelecida, ou mais do que vítimas, seremos cúmplices de toda a injustiça que está, dia-após-dia, destruindo a soberania de uma nação.
Sobre o Autor
Economista com MBA na PUC-Rio, Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições financeiras da América Latina
Diário do Centro do Mundo - DCM
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