Marcos Coimbra
Tudo mundo anda falando no tamanho das intenções de voto em Lula nas próximas eleições e em quanto elas vêm crescendo. Uns ficam tristes, outros alegres, mas todos sabem que é isso que as pesquisas mostram.
Existem, no entanto, muitos equívocos a respeito do voto no ex-presidente. Vêm, de um lado, da informação distorcida que a mídia corporativa dissemina, por não conseguir, ela própria, entendê-lo ou não querer explicá-lo. De outro, derivam da recusa ideológica de parte da opinião pública em aceitá-lo, fruto de seus preconceitos e estereótipos.
Os mais comuns provêm de generalizações precipitadas e erradas. É fato, por exemplo, que Lula tem mais intenções de voto entre eleitores pobres, assim como que sua liderança nas pesquisas é especialmente elevada no Nordeste. Daí, contudo, não decorre que seu voto seja “coisa de pobre e de nordestino”, como se apressam a proclamar os mais toscos.
O mesmo vale para outra tese igualmente sem fundamento, de que o voto no ex-presidente é “coisa de gente ignorante e atrasada”. Sua performance entre eleitores de baixa escolaridade é, de fato, melhor, mas, nas pesquisas recentes, também é fato que está na frente de qualquer adversário nos segmentos de alta escolaridade.
Há quem se ache mais qualificado que outras pessoas, por ser mais rico, ter mais anos de escola ou morar em um estado desenvolvido. Que não gosta de Lula e supõe que sua rejeição é decorrência natural dessa pretensa superioridade. Os que pensam assim precisam saber que estão redondamente enganados e que, além de preconceituosos, são ignorantes.
Na pesquisa CUT/Vox Populi de dezembro, Lula tinha 37% no cenário com Aécio Neves como candidato pelo PSDB, que alcançava 13%. Marina Silva ficava com 10%, Jair Bolsonaro com 7% e Ciro Gomes com 4%. Os indecisos eram 7% e os restantes se dividiam entre outros candidatos, brancos e nulos.
Foi uma pesquisa na qual as perguntas de intenção de voto vinham depois das de avaliação da situação nacional, do atual governo federal e de sua política econômica, bem como das expectativas a respeito de inflação e desemprego. Ou seja, uma pesquisa que convidava o entrevistado a pensar antes de responder em quem votaria. Daí a menor taxa de indecisão, que costuma ser artificialmente elevada quando o questionário começa com perguntas eleitorais.
Lula recebia 26% no Sudeste (mais que a soma de Aécio e Marina), 63% no Nordeste, 38% no Norte e no Centro-Oeste. Seu pior resultado era no Sul, com 22%, ficando o tucano com 15% e Marina com 10%. Ou seja, terminaria o primeiro turno à frente em todas as regiões do País. Liderava nas capitais (com 28%), nas cidades integrantes de regiões metropolitanas (com 30%) nas cidades grandes do interior (com 29%), nas médias (com 41%) e nas pequenas (com 51%).
Ganhava entre jovens (36%), pessoas entre 30 e 50 anos (37%) e aquelas com mais de 50 anos de idade (42%). Entre mulheres (37%) e homens (38%). Entre pessoas com, no máximo, o ensino fundamental (45%), o ensino médio (33%) ou algum tipo de acesso ao ensino superior (25%). Venceria entre as pessoas residentes em domicílios onde alguém recebia o Bolsa Família (61%) e naqueles onde ninguém tinha esse direito (32%).
Com 30%, Lula era o preferido dos entrevistados que se utilizavam diariamente ou quase sempre da internet. Também dos usuários infrequentes (40%) e dos não usuários (51%).
Entre quem sabia de seu indiciamento pelos procuradores da Lava Jato, 37% pretendia votar no ex-presidente, enquanto Aécio obtinha 13% e Marina, 10%. Entre quem desconhecia a iniciativa, Lula tinha 59%.
Em um segundo turno contra Aécio, Lula liderava em todas as regiões e tipos de cidade, entre mulheres e homens, em todas as faixas etárias, em todos os níveis de escolaridade, entre quem recebia ou não o Bolsa Família, entre usuários e não usuários da internet. Nos que sabiam do indiciamento, teria 43% diante do tucano, que ficaria com 21%. O melhor desempenho do mineiro seria empatar com o petista entre as pessoas mais ricas, tendo ficado atrás em todas as demais parcelas.
O voto em Lula não é um recorte exato da sociedade brasileira. As pessoas mais simples, mais pobres, residentes em municípios menores, menos “modernas”, tendem a preferi-lo em níveis mais altos. Mas não perde para ninguém entre os segmentos com atributos inversos.
Votar em Lula é, sim, “coisa de pobre, de nordestino e de gente sem escolaridade”. Mas é também coisa de jovens urbanos, com alta escolaridade, antenados e residentes em áreas ricas. É coisa de todos os tipos de gente.
Carta Capital
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