Postado em 15 Mar 2017
por : Carlos Fernandes
O depoimento do ex-presidente Lula na manhã desta terça-feira (14) na Justiça Federal de Brasília acabou por se tornar o que provavelmente será o marco da retomada da redemocratização política brasileira.
Foi a primeira vez que o ex-presidente depôs na condição de réu na ação em que é investigado por uma suposta obstrução dos trabalhos realizados pela Operação Lava Jato.
O que para qualquer outro político brasileiro poderia ser o princípio do fim, para Lula representou a sua grande oportunidade de expor ao país não só as injustiças, as arbitrariedades e os insultos a que vem sendo submetido nesses três anos da inquisição de Curitiba, mas sobretudo a sua incomparável disposição para o embate político.
Em resumo, foi um passeio.
Em nenhum momento Lula utilizou-se do seu direito de permanecer calado. Mais do que responder a todas as perguntas, lecionou sobre o regime presidencialista de coalização, sobre as relações institucionais que um presidente democrático deve manter com os demais poderes, sobre a política de fortalecimento da indústria nacional e sobre o caráter republicano que manteve nos oito anos que ocupou a presidência da República.
Uma a uma, caíam por terra todas as acusações a ele imputadas. Surpreendeu particularmente a precisão dos detalhes, a maneira enérgica com que discorria sem jamais perder o equilíbrio, a serenidade e a segurança na defesa de seus atos.
Sem pestanejar, desafiou que qualquer ministro do Supremo o acusasse de ter pedido um único favor, incitou qualquer empresário a olhar nos seus olhos e afirmar que, com ele, manteve transações espúrias, cobrou da Polícia Federal e do Ministério Público Federal qualquer prova que pudesse envolvê-lo em ilícitos minimamente que fosse.
Nada. Absolutamente nada.
Pelo contrário, mostrou – quase que pedagogicamente – como fortaleceu de forma irrestrita as instituições de combate à corrupção, como garantiu a independência e isonomia dos órgãos controladores, como se tornou, enfim, o único ex-presidente brasileiro a ser respeitado e recebido diretamente pelos atuais presidentes no mundo todo.
Lula saiu daquela audiência infinitamente maior do que entrou. Ficou evidente para todos ali presentes, muitos a contragosto, que o ex-presidente continua mais ativo do que nunca, que o seu capital político é enorme e que 2018 está mais próximo do que se imagina.
Na mesma medida em que a farsa montada para tirá-lo das próximas eleições é desconstruída miseravelmente, crescem substancialmente as chances de voltar ao poder o homem que saiu com o maior índice de aprovação já visto na história democrática do Brasil.
Verdade seja dita, seus adversários estão certíssimos em estarem apavorados por uma eventual candidatura do maior líder popular brasileiro. Afinal de contas, Luis Inácio Lula da Silva aprendeu na maior universidade de todas, a vida, a superar os desafios e provações de um mundo injusto.
Diário do Centro do Mundo - DCM
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