segunda-feira, 13 de março de 2017

A longa e difícil caminhada de volta à lucidez



POR FERNANDO BRITO · 11/03/2017




A necessidade de dar combate a uma mídia seletiva e escancaradamente parcial e a um governo absolutamente ilegítimo nos deixa, muitas vezes, a navegar em águas rasas da discussão de quem pegou quanto de quem e para quê.

A finalidade da política parece ficar reduzida a ver quem dentre os políticos é o “mais puro”, o mais honrado, o mais “politicamente correto”.

A finalidade da política, numa visão progressista e popular – tão frequentemente, aliás, chamada por um “palavrão” que a direita não consegue definir, o de “populista”- , é criar os meios de afirmação social, econômica e de identidade nacional (porque só assim ele se reconhece semelhante) de um povo.

O resto é o jogo de poder e mando das elites é justamente por isso que quem vai além dele – mesmo tendo de jogá-lo, com as artes da política – termina sempre perseguido, insultado e visado com as balas político-midiáticas da “moral” que eles não tiveram, nem tem.

Não haverá estabilidade política para qualquer governo no Brasil se ele for produto de eleições. E só haverá legitimidade eleitoral se a disputa política não for atropelada por um processo de politização da Justiça que retire Lula do pleito.

Tudo o que se fizer fora disso está fadado a ser apenas um arremedo. E como todo arremedo, frágil.

Por frágil, assim, incapaz de tirar o Brasil da crise.

Se o empresariado e a classe média deste país fossem lúcidos e não velhacos uns e zumbi, outros, estariam rezando para Lula ser eleito.
Cenário de 2018 só estabiliza com Lula

André Singer, na Folha

O artigo publicado hoje por André Singer, na Folha, vem em linha do que tenho procurado dizer aqui: o Brasil só terá estabilidade se o governo eleito – seja ele qual for – tiver legitimidade.

Parte da semana foi consumida pelo debate a respeito do que provocou a violenta retração de 2016, divulgada terça (7) pelo IBGE: -3,6% do PIB. Como a queda de 2015 havia sido -3,8% configurou-se recessão maior do que as ocorridas no início dos anos 1980 e 1990.

Não obstante o alto interesse da discussão sobre as causas da tragédia, o leite foi derramado e é preciso ver o que vem adiante. O governo Temer deverá transitar até o fim entre ameaças de cassação, reformas regressivas mais ou menos duras e impopularidade. E depois?

O sistema político está se organizando para providenciar absolvição branca aos líderes dos partidos tradicionais. Esse é o sentido da frase de Aécio, quarta-feira (8), sobre a necessidade de “salvar a política”. Vai ser difícil promulgar tal anistia e deixar Lula de fora e, é claro, Alckmin seria anistiado também, saindo à frente de outros tucanos pela força da vitória que obteve em 2016.

Independentemente de considerações judiciais, que pertencem a uma esfera não diretamente política, o cenário estabilizador seria aquele em que Lula pudesse ser candidato. Não porque represente uma alternativa radical ao que está aí, mas porque significaria uma variante popular para o pós-crise.

Lula terá que empunhar a bandeira óbvia da retomada do crescimento, que, aliás, provavelmente já estará em curso. Não creio que se proponha a revogar o que tiver sido aprovado por Temer. A diferença entre a sua candidatura e a do PSDB —hoje provavelmente representada por Alckmin— seria relativa ao papel do Estado e dos programas sociais na aceleração de um crescimento bem baixo. Embora em visível ascensão, o nome de Bolsonaro não parece vocacionado a estar rapidamente entre os maiores.

No segundo cenário, o Partido da Justiça (PJ), a mídia, os capitalistas e a classe média recusam-se a “salvar a política” em nome de serem fieis à narrativa de que é preciso ir até o fim no combate à corrupção. Nesse caso, o PJ teria que disponibilizar um quadro para concorrer, pois os partidos tradicionais estarão aniquilados. Joaquim Barbosa, Sergio Moro, Cármen Lúcia, Ayres Britto?

Como falta ao PJ um programa abrangente para os problemas brasileiros, se chegar à Presidência, vai prolongar a instabilidade. Combater a corrupção não é suficiente para responder aos desafios brasileiros. Um terceiro cenário em que se condenam todos, salvando-se apenas o PSDB, tampouco estabiliza o quadro. Sem um partido popular competitivo, as instituições brasileiras ficam mancas.

Os que almejam mudanças progressistas profundas precisarão mirar e trabalhar para o futuro. Não vejo, a não ser por fatores inesperados, possibilidades no curto prazo.


Tijolaço

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