segunda-feira, 2 de abril de 2018

Palmas para Manuela, que ensinou a Dallagnol o que é ser cristão. Por Joaquim de Carvalho


- 2 de abril de 2018

Manuela deu uma aula de Bíblia ao evangélico Dallagnol


Palmas para Manuela d’Ávila.

De pé.

Candidata a presidente pelo PCdoB, ela precisou de 36 palavras para desnudar a hipocrisia do procurador da república Deltan Dallagnol.

O procurador recorreu ao Twitter para trombetear que faria jejum para que Deus interfira no STF, e este negue ao ex-presidente Lula o habeas corpus que impedirá sua prisão até que a sentença que o condenou transite em julgado, ou seja, até o último recurso, como assegura a Constituição Federal.

Manuela usou o Twitter para ensinar Dallgnol sobre o que é ser cristão: Se vai jejuar, o faça com discrição, em secreto, para não se parecer com os fariseus (aqueles que, segundo a Bíblia, conspiraram para a morte de Jesus): que só faltavam tocar trombetas para mostrar como eram religiosos.

A candidata do PCdoB cita o capítulo 6 do livro Mateus da Bíblia, versículos 16, 17 e 18.

Marcelo Bretas, o juiz que já se declarou em cruzada, fez eco ao “irmão” Dallagnol. Também se colocou em oração.

A atitude de ambos prova que, se sabem de Direito tanto quanto conhecem de Bíblia, pobres de seus jurisdicionados.

Na Bíblia, Jesus se refere a hipócritas em termos duros — religiosos hipócritas talvez sejam o único tipo de ser humano por quem o fundador do Cristianismo nutre profundo desprezo.

Em João, capítulo 8, Jesus define os religiosos como filhos do diabo:

Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira.

Se, ao levar o processo de Lula para o campo religioso, Dallagnol pretendia interferir na opinião pública, ele se deu mal.

Não apenas pela resposta cirúrgica de Manuela — talvez ateia —, mas porque, no contexto bíblico, as comparações não lhe são favoráveis.

Diabo significa acusador —uma espécie de procurador que, segundo a Bíblia, fica, dia e noite, dizendo a Deus que ninguém presta.

Jesus foi condenado sem prova — obviamente, Lula não é Jesus, mas, leia-se o processo do triplex em que ele foi condenado e, se nele encontrar prova de que cometeu crime, avisem-se os juízes, porque não há nada parecido com prova nos autos.

Dallagnol é fruto de uma geração que perverteu o Evangelho com uma militância política que se tornou explícita em 2010, quando um conterrâneo de Dallagnol, o pastor Paschoal Piragine disse que quem votasse no PT estaria atraindo a ira de Deus sobre a Terra.

O vídeo do pastor da Primeira Igreja Batista de Curitiba, uma espécie de mãe de todas as denominações batistas, inclusive a de Dallagnol, viralizou com a campanha que Silas Malafaia fez na televisão para divulgá-lo.

Segundo Piragine, quem votasse no PT estaria atraindo o juízo de Deus sobre a Terra. “E seu Deus julgar a nossa Terra, isso vai acontecer na tua vida e na minha vida, porque eu faço parte desta Terra. Porque Deus não tolera iniquidade. Amém?”

O vídeo de Piragine foi divulgado pouco tempo antes do eleição de 2010, em que José Serra levou a disputa para o terreno da religião, numa tentativa desesperada de evitar a derrota para Dilma Rousseff.

Pela ação dos procuradores, a disputa política que se acirrou naquela época se prolonga.

E, nessa disputa, os procuradores já ultrapassaram o limite da decência ética há muito tempo, com uma atuação em que há indícios de uso de provas forjadas e delações dirigidas para perseguir uns e proteger outros, e até vantagens indevidas em troca de favorecimentos.

Nenhum desses indícios levantados contra setores do Ministério Público Federal avançou para uma necessária investigação, porque, entre outras razões, os procuradores contam com a proteção e promoção da velha imprensa, empenhada na campanha para destruir um partido politico e suas principais lideranças.

Ambos estão do mesmo lado.

Por exemplo, salvo uma ou outra referência na Folha de S. Paulo e Veja, o nome do advogado Carlos Zucolotto Júnior, amigo de Moro e acusado de pedir propina para conseguir vantagens na Lava Jato, não é citado.

Imagine o que ocorreria na imprensa se, em vez de Moro, Zucolotto tivesse Lula como amigo. Haveria páginas e páginas de reportagens, perfis, plantão da TV em frente a seu escritório em Curitiba e manchete no Jornal Nacional.

Isso não ocorre porque estamos em guerra, e na guerra a imprensa do establishment detona a verdade.

Mas a verdade, como ensina o Cristianismo, não é algo que se derrota. Cedo ou tarde, prevalece. É o que liberta:

— Se você permanecer na verdade, pode ter certeza: ela te libertará — disse Jesus, que Dallagnol afirma seguir, com trombetas à sua frente.



Diário do Centro do Mundo   -   DCM

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