POR FERNANDO BRITO · 31/03/2018
Do jornalista Ricardo Amaral, no GGN, um relato aterrador sobre as manipulações da polícia paranaense, que nos deixa à beira de uma farsa monstruosa, como aquela em que a “esquerda” ficou sendo a “culpada” pela explosão de uma bomba com que os radicais da ditadura queriam provocar o terror no Riocentro, em 1981:
A Secretaria de Segurança Pública do Paraná não tem a menor condição de conduzir um inquérito isento sobre o atentado a tiros contra a caravana do ex-presidente Lula na rodovia entre as cidades de Quedas do Iguaçu e Laranjeiras do Sul, na noite da terça-feira, 27. Há fortes indícios de que se caminha para a construção de uma farsa semelhante ao inquérito do Ricocentro.
A primeira reação da Secretaria, tão logo o atentado foi denunciado à imprensa e pelas redes sociais, foi divulgar uma nota oficial escandalosamente mentirosa. Afirmava que Lula teria feito o percurso de helicóptero e que o PT não havia solicitado escolta para caravana.
A primeira mentira foi prontamente derrubada pelo testemunho dos jornalistas (inclusive os da imprensa empresarial) que viram Lula embarcar em um dos ônibus da comitiva em Quedas do Iguaçu e desembarcar no campus da UFFS em Laranjeiras do Sul. E no dia seguinte, pela divulgação do vídeo do desembarque, mostrando Lula sendo recebido, na porta do ônibus, pelo reitor Jaime Giollo.
A segunda mentira foi desmentida pela divulgação do ofício do PT do Paraná, com data de 28 de fevereiro, solicitando segurança para a caravana e informando detalhadamente ao comando da Polícia Militar do Paraná todo o trajeto da caravana no estado, rodovia por rodovia.
Depois que um perito confirmou que as marcas nas laterais e vidros dos ônibus eram de balas, redes sociais da direita e da polícia do Paraná espalharam a versão de que os tiros teriam sido disparados quando os ônibus estavam parados, o que contradiz todos os depoimentos, inclusive o relatório da Polícia Rodoviária Federal.
E numa quarta mentira, a Secretaria de Segurança divulgou que a caravana teria mudado o percurso sem avisar as autoridades, o que se desmente pelos testemunhos e pelos vídeos. O deslocamento do ex-presidente no comboio ocorreu conforme o que foi informado em ofício ao comando da Polícia Militar do Paraná, em duas rodovias, uma delas estadual.
O fato é que, em 15 estados percorridos pela caravana Lula Pelo Brasil, desde agosto passado, a Secretaria de Segurança do Paraná foi a única que não forneceu escolta policial nas rodovias desde a entrada da caravana no estado. Foi negligente e omissa diante das agressões à caravana. A única exceção foi a contenção de milícias que atacaram a comitiva em Foz do Iguaçu, no dia 26.
Na manhã do atentado, quando se planejava um deslocamento de Lula em helicóptero, desde Foz do Iguaçu até Quedas do Iguaçu, o coronel Washington Lee Abe proibiu o pouso no Quartel da PM, local normalmente utilizado para este fim. Lula teve de se deslocar de avião até o aeroporto de uma cidade próxima, ficando mais uma vez exposto a emboscadas nas rodovias. O coronel Lee é o mesmo que postou ataques a Marielle Franco nas redes.
Agora, a Secretaria do Segurança do Paraná está se valendo do submundo da imprensa (IstoÉ, Augusto Nunes, Cláudio Humberto etc.) e das redes sociais de direita para plantar a mentira de um auto-atentado. Reforça os incentivadores da violência política, como Jair Bolsonaro (que posou para fotos com PMs no aeroporto de São José dos Pinhais) e Geraldo Alckmin, que deu uma declaração desastrada em busca dos votos da extrema direita ensandecida.
Desmoralizada pelas imagens e testemunhos isentos, inclusive dos jornalistas que cobriam o deslocamento da caravana, a Secretaria de Segurança do Paraná afastou da condução do inquérito o delegado natural, Fabiano Oliveira. Após uma entrevista em que declarou que o inquérito investigaria tentativa de homicídio contra os membros da caravana, Fabiano foi substituído pelo delegado Hélder Lauria, que decidiu investigar apenas “tiros com danos materiais”.
Manipulado politicamente pelo governador Beto Richa e pelo ex-secretário bolsonarista Fernando Francischini, o inquérito sobre o atentado caminha para repetir a farsa do inquérito do Riocentro, em 1981.
No caso Riocentro, as provas e testemunhos indicavam que o sargento Rosário morreu e o capitão Machado foi gravemente ferido quando tentavam explodir uma bomba contra o público do show do Primeiro de Maio.
Assim como fez a Secretaria de Segurança do Paraná, a ditadura substituiu o comandante natural do Inquérito Policial Militar por um preposto. E o relatório do coronel Job Lorena de Santana concluiu que os agentes do DOI-Codi foram vítimas da esquerda.
Não será surpresa, portanto, se o governo Beto Richa e a secretaria de Segurança controlada por Francischini apresentarem, daqui a alguns dias, um relatório apontando algum petista ou sem-terra como supostos autores dos disparos. E a farsa se repetirá.
Tijolaço
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