quinta-feira, 6 de maio de 2010

Mauro Santayana - A realidade federativa -

Nunca é demais citar Getulio Vargas, que tinha sólido e manso saber político. Depois de deposto em 29 de outubro de 1945, passou alguns meses recluso em seus pagos. Ao retornar ao Rio, eleito que fora para a Assembleia Nacional Constituinte, Vargas recebeu alguns jornalistas políticos na residência de um amigo, no Morro da Viúva. Otto Lara Resende, ainda bem jovem e, como me confessaria depois, jejuno das realidades do mundo, perguntou-lhe por que não destruíra seus inimigos, quando se encontrava no auge do poder. Com isso, teria evitado sua destituição. Vargas soltou uma baforada do charuto e respondeu, sereno, diante da inocência da pergunta: “Meu filho, no governo, nem mesmo um ditador pode fazer tudo o que quer”.

O PT nacional está encontrando dificuldades em montar o “palanque único” para sua candidata em alguns estados importantes. Não discutimos, aqui, a força eleitoral do presidente Lula junto ao povo de todo o Brasil. Não se trata de prever vitória ou derrota nas eleições deste ano. Mas de uma realidade que quase todos os que veem o Brasil a partir de São Paulo parecem desconhecer: a identidade política federativa.

A estrutura partidária brasileira é, formalmente, vertical. Os partidos são “nacionais”, e sua organização confere poder quase ditatorial aos diretórios e às comissões executivas centrais. Esse poder, que chega ao absurdo da intervenção nos diretórios regionais, é relativo. Ele pode impedir a candidatura de um ou outro, proibir ou impor alianças, expulsar filiados. Na hora do voto, o que conta é a sensibilidade dos cidadãos.

O problema de Minas é mais profundo do que pensam os dirigentes do PT e a equipe de campanha de Dilma Rousseff. Lá, mais do que a eleição de Dilma ou Serra, está o emblemático Palácio da Liberdade. O ex-ministro Hélio Costa é, como se sabe, homem de grande prestígio popular em Minas, adquirido como profissional de televisão. Mas, não obstante ter nascido em Barbacena, não conseguiu assimilar o espírito político dos mineiros. Talvez os longos anos passados nos Estados Unidos o tenham afastado da peculiar visão montanhesa do mundo. Ele não conseguiu inserir-se nos meios intelectuais mineiros que, não se duvide, são poderosos formadores do pensamento do povo. É estranho às velhas famílias políticas do estado, que conservam influência decisiva nos municípios. A isso se acrescenta a falta de simpatia dos mineiros com seu suplente no Senado, o industrial do ensino de Niterói, Wellington Salgado. Seus atos não têm sido propriamente de um político mineiro. Todas essas circunstâncias tornam improvável a presença de Hélio Costa na cabeça de chapa de uma coligação com o PT, seja com Fernando Pimentel, cujo prestígio em Belo Horizonte se amplia ao estado, ou com Patrus, senhor de sólidas e devotadas bases, que não se limitam ao partido.

Será difícil ao PT mineiro apoiar o candidato do PMDB, e desistir de disputar o Palácio da Liberdade, sobretudo depois da mobilização de seus filiados nas prévias realizadas. Se isso vier a ocorrer, a decepção de grande parte das bases e do eleitorado em geral será inevitável. Tanto Pimentel quanto Patrus têm muito mais votos do que aqueles conferidos pelo partido. Se mais não perdesse, a aliança forçada seria privada desses votos livres.

Os compromissos de Pimentel e Patrus com o povo mineiro os conduzem a participar do processo eleitoral no estado, com tanto empenho quanto o destinado à sucessão do presidente Lula. Não relegam o destino de Minas a um segundo plano, porque sabem que, sem pilares sólidos nos estados, a República é sempre frágil. Temos um exemplo histórico que basta: se Tancredo, e não Magalhães Pinto, tivesse ocupado o Palácio da Liberdade em 1964, não teríamos o golpe contra o governo constitucional de Jango, nem a ditadura militar que durou 21 anos, com toda sua violência e o retrocesso histórico sofrido pela nação.

Homens de partido, Pimentel e Patrus irão apoiar, com seu prestígio, Dilma Rousseff, mas esse apoio será mais efetivo se se vincular à candidatura de um dos dois ao governo de Minas. São ambos conhecidos e respeitados pelos mineiros, por sua probidade e competência administrativa.

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