quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O desmentido de Aécio


Mauricio Dias

Era de praxe, mas insistimos: ele vai sair do PSDB

A história brasileira reserva uma missão política importante para o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves. Ele sabe disso, mas tem de negar.

Com a vitória da petista Dilma Rousseff, ele, eleito senador, será forçado a liderar a criação de uma nova oposição. Impossível dentro do PSDB, cujo controle está em São Paulo. O Brasil espera uma oposição vigorosa, como é necessário às oposições. Democrática, no entanto.
O destino, surpreendente como sempre, mas, perfeitamente explicável, deixou Aécio Neves na mesma situação do avô, Tancredo Neves, opositor da ditadura militar.

Uma das linhas mestras da política brasileira, a conciliação, explica a situação. Aécio terá de se livrar dos radicais de direita assim como o avô livrou-se dos radicais de esquerda.

Quintino Bocaiúva viveu esse drama na transição da Monarquia para a República e teve de se livrar de radicais como Silva Jardim e Lopes Trovão. A conciliação não convive com gente assim.

No fim dos anos 1970, quando a ditadura entrou em agonia, Tancredo saiu do MDB. O político conservador, expressão máxima do processo de conciliação que norteia a política brasileira e que mantinha convivência saudável, democrática, com a esquerda do partido, percebeu ser preciso abrir espaço para a moderação.

Tancredo fundou o PP, Partido Progressista (apropriou-se, nesse caso, de um jargão que a esquerda usava naquele momento) e, antes, mandou um recado para os generais: “O meu MDB não é o MDB de Arraes”.

Agora vejam o fascínio da história. E aqui vai uma nova revelação sobre a movimentação política de Aécio. Arraes é avô de Eduardo Campos, governador de Pernambuco praticamente reeleito. Ele é um dos atores políticos com quem Aécio Neves conversou sobre a reforma política e a formação de um novo partido. Aécio e Eduardo talvez sejam obrigados a negar isso.

Foi o que Aécio Neves fez, na semana passada, ao desmentir com veemência, estranha para homens cordiais como ele, a reportagem tema da capa da edição 614 de Carta-Capital. A chamada anunciava o teor do assunto: “Aécio deixará o PSDB”.

Aécio desmentiu: “O PSDB é minha casa e não apenas vou permanecer nele como estou lutando para dar ao partido uma bela vitória em Minas”.

É desnecessária uma acareação entre o político e o repórter, que conversou duas ou três vezes com o governador mineiro sobre esse assunto, no Palácio das Mangabeiras, em Belo Horizonte.
Aécio, em 2008, botou a mão na maçaneta da porta para sair da casa que ocupa.

No Palácio das Mangabeiras, ele, governador de Minas, recebeu os deputados Henrique Alves e Michel Temer, do PMDB. Os dois lhe ofereceram a possibilidade de disputar a Presidência, em 2010, pelo partido. Aécio pediu tempo para pensar e, posteriormente, recusou.

O jornalista Bob Fernandes, no site Terra, revelou onde Aécio Neves anunciou, dois meses atrás, que ia deixar o PSDB. Foi no apartamento do empresário Alexandre Accioly. Publico o endereço: Edifício Cap Ferrat, 6º andar, na Avenida Vieira Souto, em Ipanema, no Rio.

O grupo saboreou o vinho Almaviva. Só não sei dizer se foi da safra de 2001, que, na classificação da Wine Spectator (WS) obteve 95 pontos. Por essa falha de apuração me desculpo antecipadamente com os leitores.
Mauricio Dias

Maurício Dias é jornalista, editor especial e colunista da edição impressa de CartaCapital. A versão completa de sua coluna é publicada semanalmente na revista. mauriciodias@cartacapital.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário