quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O Globo embarca Marina em avião e volta a complicar “Operação Lava o Jato” do PSB

24 de setembro de 2014 | 09:51 Autor: Fernando Brito



Escrevam o nome de Thiago Herdy – repórter que, com Chico Otávio, forma a primeira linha de investigadores em O Globo – porque ele terá muita significação no caso do avião usado por Eduardo Campos, o Cessna PR-AFA que terminaria por matá-lo no acidente ocorrido em Santos.

É ele quem centraliza a apuração do caso e tem mais do que vai publicando, como fez com a revelação de que as despesas do avião eram pagas por uma empresa fantasma.

Hoje, mais um pedaço da história é recuperado, com a publicação do número de vôos feitos pela atual candidata do PSB no fatídico avião, como vice de Eduardo.

Foram pelo menos 10, o que exclui qualquer possibilidade de dizer que foi apenas “casual” seu uso.

Desde o dia seguinte ao acidente, o PSB tenta construir uma “Operação Lava o Jato” para justificar um conluio ilegal que colocou um avião de US$ 8,5 milhões a serviço de “nova política”.

Não há versão que se sustente de pé.

Marina até podia não saber de onde vinha o jatinho, quando o usou.

Mas agora sabe, e o esconde.

Podia ser inocente, mas já não é.

Tornou-se, ainda que a posteriori, pela ocultação, cúmplice de um crime eleitoral.

A única dúvida que resta nesta questão é se e até onde a grande imprensa vai tratá-lo.
Marina voou 10 vezes em jato que caiu em Santos e matou Campos



Thiago Herdy, Paulo Roxo e Paulo Celso Pereira

A candidata à Presidência Marina Silva (PSB) voou dez vezes na aeronave Cessna PR-AFA, cuja doação à campanha é investigada pela Polícia Federal. O GLOBO teve acesso a registros de pousos e decolagens do jato no período em que esteve à disposição da candidatura de Eduardo Campos e Marina. As viagens da candidata podem atrapalhar a estratégia do PSB, que, desde o início das investigações, busca desvinculá-la formalmente da aeronave.

Especialistas em Direito Eleitoral argumentam que eventuais irregularidades podem atingi-la, apesar da morte de Campos. A coordenação jurídica da campanha discorda. A lista de viagens de Marina foi obtida a partir do cruzamento dos compromissos oficiais da candidata com voos realizados e dados fornecidos pela própria campanha do PSB.

A PF investiga a compra do jato e também o pagamento de despesas operacionais, quando ela já estava sendo utilizada. Esses gastos foram pagos por uma empresa de fachada.

Em vez de declarar a doação nas prestações de contas parciais, como determina a legislação, o PSB deixou para declarar apenas em novembro, o que também contraria a lei.

Marina usou o jato pela primeira vez no fim de maio, para participar, em Goiânia (GO), de seminário do partido. Em junho, voou quatro vezes, passando por Goiânia, Brasília, Maringá e Londrina. No fim de julho, participou de ato em Vitória (ES). Em agosto, voou outras quatro vezes, ao Rio, a Brasília e a São Paulo. O jato caiu em 13 de agosto, matando Campos e seis assessores.

Segundo o PSB, o avião havia sido emprestado pelos empresários João Carlos Lyra e Apolo Santana Vieira. As despesas operacionais também seriam pagas por eles. Para a doação ser legal, o valor não poderá ultrapassar 10% do rendimento declarado dos dois em 2013.

Especialista em Direito Eleitoral, o advogado Arthur Rollo lembra que o registro de candidaturas ocorre em “chapa única e indivisível”.

— A Marina era vice quando o avião caiu. Qualquer problema com a cabeça da chapa também afeta o vice. Se houver processo, não será contra a chapa atual, mas a anterior.

O coordenador jurídico da campanha de Marina, Ricardo Penteado, discorda. Para ele, mesmo usando o jato, Marina não pode ser responsabilizada.

— O avião estava emprestado para o Eduardo, não para a Marina. Se eu pegar um táxi no aeroporto e te der uma carona até a cidade, o que você terá a ver com minha relação com o taxista? — questiona.

Presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB, Norberto Campelo diz que o desconhecimento de Marina sobre a doação poderá “eximi-la de responsabilidade”. Mas, para ele, no contexto da análise da prestação de contas de Campos, candidatos são corresponsáveis.

— Se constatada irregularidade, ela e o partido respondem.
 
 
Tijolaço

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