Breve memorial da ação dos lobbies e partidos aliados na estatal em outros tempos
por Mauricio Dias — publicado 18/10/2014 07:47, última modificação 18/10/2014 17:11
Valter Campanato/ Agência Brasil
O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa
A mídia fechou os olhos à afirmação do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa feita à Justiça Federal do Paraná de que sempre houve indicação política para as diretorias daquela estatal. Com o conhecimento adquirido em 30 anos de trabalho na empresa, falou que o esquema ocorria desde os governos de Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique e Lula. Costa, no entanto, afirmou que o suposto esquema de corrupção só teria começado em 2005. “Eu fui indicado pelo deputado José Janene.” Falecido em 2010, não dá para o ex-parlamentar do PP confirmar. Assim, para todos os efeitos, a culpa é do morto.
Ironia à parte, indicação política na Petrobras existe desde a fundação da empresa, criada em 1954, quando foi dirigida pela anfíbia figura de cearense-baiano do militar e político Juracy Magalhães. Com o tempo, tornou-se prócer da UDN. Surgiram da “delação premiada” de Costa, cuja íntegra foi amputada por interesses eleitorais, pequenos trechos lançados em plena disputa pela Presidência da República. A presidenta Dilma Rousseff falou em golpe e acertou. Assim é a política golpista.
De todos os presidentes pós-ditadura, Costa não citou a presidenta. A razão, nesse caso, é elementar. A inclusão do nome de Dilma Rousseff sem apresentação de provas, como tem ocorrido até agora, ameaçaria até mesmo a realização da eleição. Incendiaria o cenário e poderia forçar a divulgação do inteiro teor da delação.
Mas não há interesse em revelar a verdade. O objetivo é insinuar, sugerir, provocar. Não importa provar. E o Brasil precisa saber, doa a quem doer, o que de fato se passou na Petrobras.
Admitida como verdadeira a lista do delator, é possível perguntar por que razão só no governo Dilma as indicações políticas na Petrobras teriam sido encerradas? Isso só seria possível, para começar a pensar com honestidade, se ela tivesse rompido com os partidos da base aliada.
Costa apresentou, porém, outro marco sobre os assuntos internos da estatal. Foi muito além do jogo político do partido do governo e seus aliados. Segundo dizem, ele afirmou que o sistema de corrupção só passou a funcionar em 2005. Deslavada mentira.
Em 2003, este colunista publicou um despretensioso livro (A Mentira das Urnas – Crônica sobre dinheiro & fraude nas eleições. Ed. Record), no qual incluiu um documento interno oficial, da BR Distribuidora, enviado ao então presidente da Petrobras, Francisco Gros, em 12/7/2002, referente a episódios de anos anteriores. Eram os dias finais do governo FHC.
O tema na pauta do documento explicava parte do fracasso do Plano do Álcool. Escrevi na ocasião que o documento revelava a interferência dos partidos aliados do governo FHC “para viabilizar apoio financeiro de campanhas eleitorais”.
Um trecho inédito do relato diz: “Havia ainda lobistas buscando a intermediação da venda de álcool para a BR em condições desfavoráveis para a companhia”, e cita a existência de “possíveis cotas partidárias”.
“Possíveis” foi a palavra usada para acobertar o assédio imposto pelos políticos, então aliados à base do governo tucano.
O assunto, diferentemente de agora, foi abafado. E assim ninguém perguntou ao presidente FHC se ele sabia o que se passava na Petrobras.
A mídia fechou os olhos à afirmação do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa feita à Justiça Federal do Paraná de que sempre houve indicação política para as diretorias daquela estatal. Com o conhecimento adquirido em 30 anos de trabalho na empresa, falou que o esquema ocorria desde os governos de Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique e Lula. Costa, no entanto, afirmou que o suposto esquema de corrupção só teria começado em 2005. “Eu fui indicado pelo deputado José Janene.” Falecido em 2010, não dá para o ex-parlamentar do PP confirmar. Assim, para todos os efeitos, a culpa é do morto.
Ironia à parte, indicação política na Petrobras existe desde a fundação da empresa, criada em 1954, quando foi dirigida pela anfíbia figura de cearense-baiano do militar e político Juracy Magalhães. Com o tempo, tornou-se prócer da UDN. Surgiram da “delação premiada” de Costa, cuja íntegra foi amputada por interesses eleitorais, pequenos trechos lançados em plena disputa pela Presidência da República. A presidenta Dilma Rousseff falou em golpe e acertou. Assim é a política golpista.
De todos os presidentes pós-ditadura, Costa não citou a presidenta. A razão, nesse caso, é elementar. A inclusão do nome de Dilma Rousseff sem apresentação de provas, como tem ocorrido até agora, ameaçaria até mesmo a realização da eleição. Incendiaria o cenário e poderia forçar a divulgação do inteiro teor da delação.
Mas não há interesse em revelar a verdade. O objetivo é insinuar, sugerir, provocar. Não importa provar. E o Brasil precisa saber, doa a quem doer, o que de fato se passou na Petrobras.
Admitida como verdadeira a lista do delator, é possível perguntar por que razão só no governo Dilma as indicações políticas na Petrobras teriam sido encerradas? Isso só seria possível, para começar a pensar com honestidade, se ela tivesse rompido com os partidos da base aliada.
Costa apresentou, porém, outro marco sobre os assuntos internos da estatal. Foi muito além do jogo político do partido do governo e seus aliados. Segundo dizem, ele afirmou que o sistema de corrupção só passou a funcionar em 2005. Deslavada mentira.
Em 2003, este colunista publicou um despretensioso livro (A Mentira das Urnas – Crônica sobre dinheiro & fraude nas eleições. Ed. Record), no qual incluiu um documento interno oficial, da BR Distribuidora, enviado ao então presidente da Petrobras, Francisco Gros, em 12/7/2002, referente a episódios de anos anteriores. Eram os dias finais do governo FHC.
O tema na pauta do documento explicava parte do fracasso do Plano do Álcool. Escrevi na ocasião que o documento revelava a interferência dos partidos aliados do governo FHC “para viabilizar apoio financeiro de campanhas eleitorais”.
Um trecho inédito do relato diz: “Havia ainda lobistas buscando a intermediação da venda de álcool para a BR em condições desfavoráveis para a companhia”, e cita a existência de “possíveis cotas partidárias”.
“Possíveis” foi a palavra usada para acobertar o assédio imposto pelos políticos, então aliados à base do governo tucano.
O assunto, diferentemente de agora, foi abafado. E assim ninguém perguntou ao presidente FHC se ele sabia o que se passava na Petrobras.
Carta Capital
Nenhum comentário:
Postar um comentário