quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A única coisa “venezuelana” no Brasil é a direita e sua mídia

23 de outubro de 2014 | 22:44 Autor: Fernando Brito



É patético o esforço dos derrotados da direita brasileira para nos fazerem comparações “bolivarianas”.

Aliás, é curioso que alguns que jamais enfrentaram uma ditadura e muito menos lutaram pelo restabelecimento do direito de voto digam que aqueles que lutaram anos por isso que são tirânicos e totalitários.

Mas, como somos civilizados, aceitemos o debate.

Mesmo que tomemos como verdadeiras todas as acusações feitas ao governo do país vizinho, eu gostaria que os senhores – desde os coxinhas até os “colunistas” de jornal cujo único mérito, em matéria de colunas, é saber fleti-las aos interesses dos patrões – me respondessem o que há, aqui, de semelhante ao que chamam de “bolivarianismo”.

Qual é o veículo de comunicação que está sob censura?

Qual é a empresa, de qualquer setor, que foi desapropriada ou estatizada?

Qual é a pessoa que está presa – não vale citar ex-dirigentes petistas- por julgamentos de natureza política?

Que entidade ou sindicato patronal está sob intervenção?

Que investidor foi expulso do Brasil?

Que impostos foram criados sobre os ricos?

De que eles foram expropriados?

Que “relações privilegiadas com Cuba” temos, senão a de emprestar dinheiro para empresas (capitalistas) brasileiras irem fazer negócios por lá e ganhar dinheiro ?

Contratar médicos para vagas que foram desprezadas por médicos brasileiros? Aliás, médicos cubanos também os trouxeram, em muito menor escala, José Serra e Fernando Henrique, sem que fossem com isso chamados de “agentes de Fidel”!

Quem demitiu jornalistas ou os colocou “na geladeira” quando se recusaram a esconder suas opiniões ou protestaram contra o facciosismo da “cobertura” desmedidamente antigoverno?

Por acaso as igrejas de qualquer confissão são perseguidas – de novo, aí não vale falar dos problemas do Malafaia com a Receita Federal, né? – ou seus fiéis tem restrições de culto?

Poderia listar dúzias de outras, mas fico por aqui.

Afinal de contas, que “comunismo” é este que temos onde a Bolsa de Valores aposta livremente contra uma candidata, onde a especulação financeira corre à solta, onde há câmbio livre, vai-se ao exterior até sem passaporte e há eleições diretas e regulares, com quantos partidos quiserem participar, e são montes deles?

O que é atrasado, mesmo, aqui , dos tempos da “guerra-fria, é uma direita ensandecida, que vai para a rua gritar “vai tomar no c..”, “viva a PM” e quer mandar a esquerda para o exílio…

Mas puderam ir para a rua, com todas as garantias e não há um ali que seja perseguido pelo fato de ser, como é de seu direito, energúmeno.

Ou me vão dizer que é autoritário eu chamar de energúmeno quem promove uma manifestação onde se xinga desta maneira uma mulher?

O problema de nossa direita é que seu primarismo e seu ódio não permitem que ela se desvencilhe da selvageria e do udenismo mais vociferante para assumirem a condição de “liberais civilizados”.

Se assumissem, tenho certeza que, até, venceriam estas eleições.

Sou velho o suficiente para ter visto uma geração de conservadores que não era selvagem: Tancredo Neves, Ullysses Guimarães, Thales Ramalho, Franco Montoro…

O que temos hoje em seu lugar?

No centro deste processo perverso está a imprensa brasileira.

Político brasileiro sabe que partindo para o radicalismo ,o desrespeito, a acusação furiosa – quando não o xingamento – a um governo de orientação popular terá espaço e destaque.

Outros, da periferia do conservadorismo, como Jair Bolsonaro, conseguem notoriedade pelas momices a que se prestam, com a cooperação quase tão imbecil dos que os transformam em “generais do atraso”.

Querem saber? Fico triste, como profissional, de ter de assumir muitas vezes aqui uma postura parcial – embora tente jamais resvalar para a injúria e a mentira. Mas, diferentemente da imprensa, tudo aqui é claro e de tudo estão cientes os leitores.

Uma colega de profissão, outro dia, numa matéria sobre a parcialidade da imprensa brasileira, fez um contraponto com os blogs “governistas”.

Minha querida amiga talvez não se dê conta de que, diante da máquina monstruosa de sufocação do debate que temos no brasil, tal comparação é como chamar estilingue de arma diante de um canhão.

Um exemplo?

Perguntas singelas, diretas, objetivas que fiz acima, são feitas alguma vez aos que enchem a boca para falar de “bolivarianismo” e “ameaças à democracia”?

Desculpem-me, perguntar e pedir elementos reais para estas acusações é jornalistico, mas não é feito e, pior, as mesmas acusações se repetem por colunas e editoriais sem fim.

Este blog, feito solitariamente, esteve à frente da grande imprensa em alertas sobre fatos da maior gravidade, como o vazamento da Chevron e a crise de água em São Paulo, com a qual venho enfadando os leitores há oito meses.

Quem se acomodou, nestes casos, foi a grande imprensa que se limitou a reproduzir releases e declarações oficiais.

Mas este é um blog sujo, embora não receba, como seria seu direito, qualquer publicidade brasileira, pública ou privada. Só a recebe do Google, que não me pergunta quem sou e apenas paga pelos acessos. Como o Tijolaço absteve-se de busca-la no período eleitoral são os parcos dólares do Goggle que, junto com as contribuições espontâneas dos leitores e os free lances em que trabalho (hoje mesmo, inclusive), que mantêm essa atividade, como se vê, “suja”.

Os “democratas”, os “liberais” os “limpos”, que vivem de concessões públicas e abocanham gordas verbas de publicidade jamais se abstiveram disso, inclusive nos tempos que engordaram com a ditadura militar.

Nossa imprensa é a favor da liberdade, desde que todos concordem e aceitem o que ela diz.

Seus julgamentos, suas verdades, suas sentenças inapeláveis.

Somos uma pré-ditadura e pronto, acabou-se, mesmo que estejamos às vésperas de uma eleição livre, que seu poder incontrastável esteve na iminência de vencer.

Não somos heróis, somos apenas homens e mulheres que mantivemos, cada um como pôde e achou que devia fazer, um pequenos espaço para a polêmica: esta, sim, o ar da democracia.

E bastou um pouco deste ar para que o povo brasileiro, na sua infinita sabedoria, soubesse o que corresponde aos seus interesses, aos seus valores, ao seu futuro.

Enquanto puder, este Tijolaço fará isso e dirá o que pensa e sente.

Afinal, estamos numa democracia.

Ditadura, aqui, só a do partido único da mídia.
 
 
Tijolaço

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