Autor: Mauro Santayana
(Carta Maior) - No último dia 25 de setembro, há apenas alguns dias, portanto, um grupo de alunos de uma escola rural de segundo grau do Estado de Guerrero, resolveu realizar um protesto contra as más condições de ensino.
Perseguidos, atacados e presos por policiais, e levados para um quartel, por ordem do Chefe de Polícia, Francisco Salgado Valladares, e do Prefeito, Jose Luis Abarca - que se encontra foragido - foram entregues a um grupo de narcotraficantes conhecido como “Guerreros Unidos”, comandado por um tal de “El Chucky”, e levados para local desconhecido.
Poucos dias depois, 28 corpos foram encontrados, queimados, em uma fossa coletiva na periferia de Ayala, e 43 estudantes - que estavam se formando como futuros professores para dar aulas na zona rural - continuam desaparecidos.
De que trata essa história? De um novo roteiro cinematográfico, prestes a ser filmado por Hollywood ? De um “thriller", recentemente publicado nos EUA, que, no final, levará aos motivos do crime e à punição dos culpados?
Ou, simplesmente, de mais uma notícia, envolvendo uma nação cuja renda, segundo a OCDE, é de menos de sete dólares por dia; um país que tem o menor salário mínimo da América Latina, equivalente a 10.99 reais por jornada; no qual apenas 25% das pessoas tem acesso à internet; que acaba de cair seis posições no ranking de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial, ficando por trás do Brasil; e, segundo a OIT, 60% da força de trabalho está na informalidade; mais de 75% da população não tem cobertura previdenciária, e, segundo a CEPAL, 13% dos habitantes são indigentes e 40% da população está abaixo da linha de pobreza?
Quem responder que país é esse ganha um taco ou uma empanada no primeiro restaurante mexicano da esquina.
Esse é um país que quase nada fabrica, mas que monta muita coisa produzida por terceiros, a ponto de ter tido, devido à importação de peças e componentes, um déficit de 51 bilhões de dólares com a China no ano passado.
Um país que importa comida de nações como os EUA e o Brasil, porque não é auto-suficiente sequer em alimentos, e que, embora tenha feito dezenas de tratados de livre comércio, dirige 90% de “suas” exportações para apenas dois lugares, o Canadá e os EUA, país a cujo ritmo de crescimento econômico está totalmente atrelado, e que é sede das maiores empresas instaladas em seu território e o principal, quase único, destino, das mercadorias “maquiadas” e dos lucros gerados, graças aos baixíssimos salários, por sua economia - um trabalhador da indústria automobilística mexicana recebe um terço do que ganha, em dólar, um brasileiro pelo mesmo trabalho.
Lembramos, de novo, esse país, porque ele continua a ser citado, agora por lideranças da Rede Sustentabilidade, como exemplo de país bem sucedido na América Latina.
O Brasil de hoje já tem problemas suficientes para serem discutidos no debate em curso, que nos separa da votação do segundo turno.
Citar o México nesse contexto, e ainda por cima como paradigma de desenvolvimento, só pode ser fruto de má fé ou desinformação.
(Carta Maior) - No último dia 25 de setembro, há apenas alguns dias, portanto, um grupo de alunos de uma escola rural de segundo grau do Estado de Guerrero, resolveu realizar um protesto contra as más condições de ensino.
Perseguidos, atacados e presos por policiais, e levados para um quartel, por ordem do Chefe de Polícia, Francisco Salgado Valladares, e do Prefeito, Jose Luis Abarca - que se encontra foragido - foram entregues a um grupo de narcotraficantes conhecido como “Guerreros Unidos”, comandado por um tal de “El Chucky”, e levados para local desconhecido.
Poucos dias depois, 28 corpos foram encontrados, queimados, em uma fossa coletiva na periferia de Ayala, e 43 estudantes - que estavam se formando como futuros professores para dar aulas na zona rural - continuam desaparecidos.
De que trata essa história? De um novo roteiro cinematográfico, prestes a ser filmado por Hollywood ? De um “thriller", recentemente publicado nos EUA, que, no final, levará aos motivos do crime e à punição dos culpados?
Ou, simplesmente, de mais uma notícia, envolvendo uma nação cuja renda, segundo a OCDE, é de menos de sete dólares por dia; um país que tem o menor salário mínimo da América Latina, equivalente a 10.99 reais por jornada; no qual apenas 25% das pessoas tem acesso à internet; que acaba de cair seis posições no ranking de Competitividade Global do Fórum Econômico Mundial, ficando por trás do Brasil; e, segundo a OIT, 60% da força de trabalho está na informalidade; mais de 75% da população não tem cobertura previdenciária, e, segundo a CEPAL, 13% dos habitantes são indigentes e 40% da população está abaixo da linha de pobreza?
Quem responder que país é esse ganha um taco ou uma empanada no primeiro restaurante mexicano da esquina.
Esse é um país que quase nada fabrica, mas que monta muita coisa produzida por terceiros, a ponto de ter tido, devido à importação de peças e componentes, um déficit de 51 bilhões de dólares com a China no ano passado.
Um país que importa comida de nações como os EUA e o Brasil, porque não é auto-suficiente sequer em alimentos, e que, embora tenha feito dezenas de tratados de livre comércio, dirige 90% de “suas” exportações para apenas dois lugares, o Canadá e os EUA, país a cujo ritmo de crescimento econômico está totalmente atrelado, e que é sede das maiores empresas instaladas em seu território e o principal, quase único, destino, das mercadorias “maquiadas” e dos lucros gerados, graças aos baixíssimos salários, por sua economia - um trabalhador da indústria automobilística mexicana recebe um terço do que ganha, em dólar, um brasileiro pelo mesmo trabalho.
Lembramos, de novo, esse país, porque ele continua a ser citado, agora por lideranças da Rede Sustentabilidade, como exemplo de país bem sucedido na América Latina.
O Brasil de hoje já tem problemas suficientes para serem discutidos no debate em curso, que nos separa da votação do segundo turno.
Citar o México nesse contexto, e ainda por cima como paradigma de desenvolvimento, só pode ser fruto de má fé ou desinformação.
Carta Maior
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