"Em 1961, a burguesia brasileira quis dar um golpe e, nesta praça, Brizola iniciou a Campanha da Legalidade e garantiu a posse de Jango. Depois, em 64 eles conseguiram dar o golpe. Não aceitaremos um golpe. Então se preparem, engraxem as chuteiras que o jogo está só começando. A luta de classes está se agudizando no Brasil"; a fala do coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile, em tom de advertência e convocação, encerrou o ato em defesa da Petrobras, da democracia e dos direitos, em Porto Alegre; ele falou para um público de mais de 6 mil pessoas, em frente ao Palácio Piratini, na Praça da Matriz, onde Leonel Brizola liderou a resistência contra as primeiras tentativas de um golpe militar
13 DE MARÇO DE 2015 ÀS 10:33
Marco Weissheimer, Sul 21 - "Esse ato de hoje tem um simbolismo muito importante, pois essa praça é histórica para o povo gaúcho e brasileiro. Nesta praça já se decidiram os rumos deste país. Em 1961, a burguesia brasileira quis dar um golpe e, nesta praça, Brizola iniciou a Campanha da Legalidade e garantiu a posse de Jango. Depois, em 64 eles conseguiram dar o golpe. Não aceitaremos um golpe. Então se preparem, engraxem as chuteiras que o jogo está só começando. A luta de classes está se agudizando no Brasil". A fala de João Pedro Stédile, em tom de advertência e convocação, encerrou o ato em defesa da Petrobras, da democracia e dos direitos, realizado nesta quinta-feira (12), em Porto Alegre. O dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) falou para um público de mais de 6 mil pessoas, em frente ao Palácio Piratini, na Praça da Matriz, lugar de onde o ex-governador Leonel Brizola liderou a resistência contra as primeiras tentativas de um golpe militar, na década de 1960.
"Se a burguesia quiser dar um golpe de novo, nós vamos ocupar e acampar nesta praça, e preparar uma marcha para enfrentar os golpistas em Brasília", acrescentou Stédile, que diagnosticou uma radicalização da luta política no país, que exigirá, segundo ele, que os trabalhadores do campo e da cidade se mobilizem em todo o país. "Se preparem, pois essa jornada está só começando. Nós vamos voltar às ruas, pois esse campeonato está só no início". O líder do MST criticou os setores que perderam as eleições presidenciais em 2014 e que agora estão defendendo o impeachment da presidenta Dilma Rousseff. "Eles perderam nas urnas e não se deram por vencidos. Controlam o Congresso, o Judiciário e a mídia. Perderam na democracia e agora, insuflados por uma mídia hipócrita e vendida, querem dar um golpe na democracia".
“Quem planta pepino, não colhe melancia, só colhe pepino”
Ao falar sobre o papel desempenhado pela mídia hoje na vida política do país, Stédile criticou a atuação dos governos petistas neste tema. “Os governos Lula e Dilma encheram os cofres da Globo e da Veja de dinheiro e hoje colhem o que plantaram. Quem planta pepino, não colhe melancia, só colhe pepino. Nós aprendemos isso lá na roça”. Ele também dirigiu críticas ao início do segundo governo de Dilma Rousseff e cobrou o cumprimento dos compromissos assumidos na campanha eleitoral de 2014. “Dilma precisa retomar o programa de outubro. O governo foi eleito para dar garantia ao trabalho, não aos bancos. Espero que a companheira Dilma tenha a coragem do velho Brizola. Os problemas da democracia brasileira não se resolverão retirando direitos dos trabalhadores”, afirmou.
Stédile defendeu a punição de todos os envolvidos em corrupção e assinalou que esse é um problema com o qual o Brasil convive “desde que o primeiro capitalista europeu colocou os pés aqui”. “A corrupção é um elemento endêmico do governo das elites brasileiras há 500 anos. A democracia no Brasil foi sequestrada pelo capital e a solução para esse problema é uma Reforma Política que mude o atual sistema político”. Para ele, essa reforma só é possível com uma grande mobilização nas ruas que garanta a realização de um plebiscito para aprovar uma Assembleia Constituinte. “Essa é a única saída democrática e sustentável para o nosso povo”.
Acirramento político no país
Secretária Nacional de Mulheres da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Rosane Silva destacou a receptividade que o ato teve no centro de Porto Alegre. “Foi uma manifestação muito representativa, com muitas entidades do movimento popular e sindical. Vi muitas manifestações de apoio por parte da popular contrariando a tese que vem sendo repetida pela mídia de que a Dilma estaria isolada. Não foi o que vi aqui em Porto Alegre. Nós temos lado neste momento e esse lado é o do projeto que venceu as eleições de 2014”. Rosane Silva também defendeu a manutenção do caráter público da Petrobras e a utilização das riquezas geradas pela empresa para a melhoria da qualidade de vida do povo. Na mesma direção indicada por Stédile, Rosane Silva também falou da possibilidade de um acirramento político no país. “Após muitos anos fora do governo, a direita brasileira começou a colocar a cara nas ruas. Acho que pode haver, sim, um acirramento da luta de classe nas ruas”.
Representante do Movimento Negro, Elis Regina também expressou apoio ao governo da presidenta Dilma Rousseff. “O Movimento Negro está com Dilma e não vamos permitir nenhum golpe contra ela”. Falando em defesa da Petrobras, Quintino Severo, tesoureiro da CUT nacional, defendeu a apuração de todas as denúncias de corrupção e punição dos envolvidos, mas criticou aqueles que usam esses casos para tentar privatizar a empresa. “Não confundimos o combate à corrupção com a destruição da Petrobras”, disse Severo. “Estamos aqui para dizer para a Rede Globo e para as empresas norte-americanas que a Petrobras é do povo brasileiro. Isso não vai mudar por causa de meia dúzia de gerentes que estão roubando a empresa desde o governo FHC”, emendou Stédile.
O papel dos movimentos sociais e sindicatos
O presidente estadual do PT, Ari Vanazzi, destacou o papel que os movimentos sociais do campo e da cidade cumprem no atual cenário de acirramento de luta política no país. De fato, no ato realizado na capital gaúcha, os sindicatos e movimentos sociais (do campo, principalmente) apresentaram um grau de mobilização muito superior ao do PT e de outros partidos que apoiam o governo Dilma. Reconhecendo os erros e desvios de conduta cometidos por alguns petistas, Vanazzi afirmou que o PT é uma ferramenta política que vai além de condutas individuais e algumas pessoas e tem compromissos históricos e programáticos. “Precisamos ir para as ruas. O Congresso Nacional está controlado pelos conservadores e não vai fazer a Reforma Política”, disse ainda o dirigente petista.
O ato em Porto Alegre reuniu milhares de trabalhadores urbanos e rurais, desde o início da manhã desta quinta-feira. Nos demais Estados do país, os atos ocorrem nesta sexta-feira (13). A decisão de antecipar em um dia a mobilização no Rio Grande do Sul foi tomada para incorporar a jornada de lutas da Via Campesina, que ocorre esta semana, na capital gaúcha. A manifestação ocorreu em clima pacífico no centro da capital. Após a concentração no Largo Glênio Peres, que iniciou por volta das 10 horas, os militantes fizeram uma marcha até a Praça da Matriz. No domingo, há manifestações em defesa do impeachment, em Porto Alegre, que estão sendo convocadas pelas redes sociais. João Pedro Stédile defendeu o direito de todos se manifestarem nas ruas desde que seja para discutir ideias e não para fazer ameaças. “A estes que querem fazer ameaças é bom lembrar que também temos grito e temos povo”, assinalou.
Brasil 247
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