por Redação* — publicado 16/07/2015 21h58, última modificação 16/07/2015 22h02
Filmagem mostra momento do depoimento em que empresário cita o presidente da Câmara e os valores
Lula Marques/ Agência PT
Presidente da Câmara teria pedido propina para facilitar acordo com Petrobras
Delator na Operação Lava Jato, o ex-consultor da Toyo Setal Júlio Camargo afirmou nesta quinta-feira 17, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha(PMDB-RJ) pediu 5 milhões de dólares em propina para que um contrato de navios-sondas da Petrobras fosse viabilizado.
No depoimento, Camargo disse que encontrou pessoalmente com Cunha, em reunião que envolveu também o lobista Fernando Soares, conhecido como "Fernando Baiano", um dos presos da Lava Jato. O dinheiro teria sido pago, em nome de Cunha, ao doleiro Alberto Youssef. Segundo ele, o dinheiro seria utilizado em campanhas políticas e Youssef foi acionado porque a operação precisava ser feita com agilidade, e o doleiro tinha dinheiro disponível.
"Tivemos um encontro. Deputado Eduardo Cunha, Fernando Soares e eu. [...] Deputado Eduardo Cunha é conhecido como uma pessoa agressiva, mas confesso que comigo foi extremamento amistoso, dizendo que ele não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um débito meu com o Fernando do qual ele era merecedor de US$ 5 milhões", enfatizou. Outros 5 milhões de dólares teriam sido pagos ainda a Baiano, que seria sócio oculto de Cunha.
"Ele [Cunha] estava em véspera de campanha, se não me engano, era uma campanha municipal... e ele tinha uma série de compromissos e que eu vinha alongando esse pagamento há bastante tempo e que ele não tinha mais condições de aguardar", complementou Camargo sobre a abordagem feita supostamente pelo presidente da Câmara.
Assista a delação de Júlio Camargo:
Cunha reagiu. O peemedebista voltou a negar que tenha recebido propina do empresário e acusou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de ter “obrigado” Camargo a mentir. "Qualquer coisa que seja a versão que está sendo atribuída é mentira. É mais um fato falso, até porque esse delator [Camargo], se ele está mentindo, desmentindo o que ele delatou, ele por si só já perde o direito a sua delação”, disse Cunha antes de citar Janot. "É muito estranho, às vésperas da eleição do Procurador-Geral da República e às vésperas de pronunciamento meu em rede nacional, que as ameaças ao delator tenham conseguido o efeito desejado pelo Procurador-Geral da República, ou seja, obrigar o delator a mentir".
O mandato de Janot na PGR acaba no dia 17 de setembro, mas ele pode ser reconduzido ao cargo pela presidenta por mais um período de dois anos. Eduardo Cunha vê no depoimento uma ação da Procuradoria-Geral da República em articulação com o Planalto para constranger o Congresso sobre um eventual pedido de “impeachment” da presidenta. “Há um objetivo claro de constranger o Poder Legislativo, e que pode ter o Poder Executivo por trás em articulação com o procurador-geral da República”, afirmou.
Desde a divulgação da lista encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF) por Janot, com os nomes de políticos envolvidos na Operação Lava Jato, o presidente da Câmara diz ter havido motivação política para a citação de seu nome na lista. “Tem muitos fatos estranhos desde o início que me colocaram nessa operação da atuação do Poder executivo. Há muito estranheza com relação a isso. Desde o início nós estranhamos isso. Eu não gosto de fazer acusação que não posso provar”.
Segundo ele, as ações buscaram fragilizá-lo. “A mim não vão fragilizar e, geralmente quando tentaram fazer isso com a instauração do inquérito há quatro meses, o efeito foi reverso. Foi bumerangue”, disse o presidente da Câmara. Na opinião de Eduardo Cunha, o depoimento de Camargo foi nulo por ter sido prestado na Justiça de primeira instância. E por ter foro privilegiado, todas as investigações envolvendo seu nome têm que passar pelo STF. “Essa delação dele não existe, é nula porque foi homologada por autoridade incompetente, porque se eu faço parte da delação dele, não é o juiz [Sergio Moro] que deveria homologá-la, mas, sim, o Supremo Tribunal Federal”.
No depoimento, Camargo disse que pagou ao doleiro Alberto Youssef, US$ 5 milhões em nome de Cunha. Segundo ele, o dinheiro seria utilizado em campanhas políticas e Youssef foi acionado porque a operação precisava ser feita com agilidade, e o doleiro tinha dinheiro disponível.
O dinheiro das propinas teria vindo das empresas Samsung e Mitsui. Em depoimento, Youssef disse que Cunha era destinatário de propina paga pelas empresas Samsung e Mitsui num contrato de aluguel de sondas celebrado com a Petrobras. Os presidentes das empresas, J. W. Kim (Samsung) e Shinji Tsuchiya (Mitsui) vão depor na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras sobre o caso no início de agosto.
Por meio de nota, a Procuradoria-Geral da República esclareceu que o depoimento prestado por Júlio Camargo à Justiça Federal do Paraná não tem relação com as investigações do STF. Segundo a nota, a audiência referente à ação penal da primeira instância - que tem réu preso, ou seja, tem prioridade de julgamento - foi marcada pelo juiz federal Sergio Moro em 19 de junho, a pedido da defesa de Fernando Soares, e a "PGR não tem qualquer ingerência sobre a pauta de audiências do Poder Judiciário, tampouco sobre o teor dos depoimentos prestados perante o juiz".
Já o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência República, Miguel Rossetto, ao comentar as declarações de Eduardo Cunha, disse: "O que é fundamental, e que a sociedade vem acompanhando, é o correto funcionamento das instituições. Correta aplicação das diversas legislações, que haja transparência nas ações e iniciativas de todas as estruturas de poder. Que os organismos de fiscalização respondam essas legislações e trabalham de uma forma eficiente". O Palácio do Planalto, por meio da Secretaria de Imprensa, informou que não vai se manifestar sobre o assunto.
*Com informações da Agência Brasil
Carta Capital
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