26 de julho de 2015 | 20:11 Autor: Fernando Brito
Em seu artigo de hoje na Folha, Janio de Freitas reflete sobre os sinais, que nos próximos dias se tornarão mais intensos, da corrosão do até agora monolítico bloco de apoio a Eduardo Cunha na Câmara.
Há vários fatores a influir sobre isso, além do fato de que Cunha não atrai para companheiros de infortúnio a bancada dos “com processo” que os acompanha – notadamente a dita “evangélica”, onde quase todos são “cunhistas” e todos respondem a ações judiciais.
Mas, sem dúvida, o maior deles é a vocação de sobrevivência do PMDB. Neste momento, esta vocação se expressa na ainda pouco crível intenção do partido em lançar candidato em 2018, observa Janio ao falar da luta surda que começa a se desenvolver no partido.
Mas há outro, que também é essencial: o PSDB e seu caudatário, o DEM, têm o desafio do”descolamento” de Cunha e, sobretudo, o de disputar com ele o protagonismo da oposição a Dilma, o qual foi tomado pelo de Aécio pelo peeemedebista.
Janio de Freitas, na Folha
Na internet, no celular, em Brasília, no Rio, o deputado Eduardo Cunha multiplica-se em contatos e esforços que o fazem mostrar-se como pessoa confiante, que de fato é, e inatingível agora como o foi pelas muitas situações críticas que personificou. Mas desta vez há uma surpresa, inconciliável com os seus seis meses de domínio absoluto da maioria da Câmara.
Eduardo Cunha é um daqueles tipos que fazem paus mandados a granel. Em cada uma de suas situações embaraçosas, há sempre mãos de gato para negar que seja o autor de documentos, de intermediações, da articulação de negócios exóticos. E, ao que se saiba, sempre há também lealdade de sua parte. Um dos pormenores da acusação que o atinge na Lava Jato, e que ele repele, é sua alegada advertência, a um pagador de US$ 5 milhões, de que não faltasse igual pagamento a seu companheiro na operação. O mão de gato no caso.
As repórteres Simone Iglesias e Fernanda Krakovics noticiaram resistências na bancada peemedebista a incluir o assunto da Lava Jato em documento de apoio ao colega acusado. Queriam o texto limitado ao comando da Câmara. A bancada do PMDB é a de Cunha. Foi o centro de atração para formar-se o apoio às manipulações e votações comandadas por Cunha. Apesar disso, o documento não foi emitido: o próprio Eduardo Cunha, sem o que lhe convinha, teria decidido pela gaveta.
Mas a surpresa está menos nesse resultado do que na sua origem. Enfim começou no PMDB uma reação dos que não se alinham com Eduardo Cunha. Paralisados por estarrecimento desde a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara, peemedebistas dessa corrente inquietaram-se com a acusação proveniente da Lava Jato e seus possíveis desdobramentos sobre o partido. Ou sobre si mesmos e seus planos políticos. E iniciaram uma ação em surdina dirigida aos colegas que lhes parecem mais acessíveis à tese do descomprometimento do PMDB com Eduardo Cunha.
Desde o outro fim de semana, há uma incipiente guerra sem ruídos entre peemedebistas. Com uma preocupação dos que a iniciaram: os argumentos, sem referência ao governo, devem ser em torno só da necessidade de recuperar a velha unidade do partido e, como decorrência, a candidatura própria a presidente com perspectiva de êxito.
O tipo de movimentação de Eduardo Cunha na primeira semana de recesso, em vez do habitual giro pelas bases eleitorais, tem tudo de contenção das perdas e busca de recuperação dos idos.
Ficou difícil saber se, a esta altura, seu problema mais premente está na Lava Jato ou dentro do PMDB: está mal em ambos.
Tijolaço
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