POR FERNANDO BRITO · 26/09/2015
Da Folha, hoje, lições do passado para os tempos atuais:
“A Procuradoria da República no Distrito Federal pediu o arquivamento de um inquérito instaurado para investigar um suposto repasse de US$ 7 milhões da Portugal Telecom para o PT.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci eram suspeitos de terem participado diretamente da negociação do repasse.
Essa era a última investigação em curso sobre eventual envolvimento de Lula em crimes correlatos ao mensalão.
A apuração foi aberta em 2013, a partir de um depoimento do publicitário Marcos Valério, preso desde novembro daquele ano por ter sido o operador do esquema.
Interessado em obter benefício de redução de pena, Valério afirmou ao Ministério Público Federal, na reta final do julgamento do mensalão, que a transferência em questão foi acertada em uma reunião no Palácio do Planalto, na presença de Lula e Palocci.
Valério apontou as contas no exterior que teriam sido indicadas ao empresário Miguel Horta, diretor da Portugal Telecom, para realizar as transações com o PT”
As “provas” de Valério para obter os prêmios da delação eram, como muitas são agora, à base do “ele sabia”, do “houve uma reunião” ou do “ele esteve com…”. Nas contas a que se teve acesso, nada se comprovou. Ou seja, nada havia contra Lula.
Ponha-se o amigo leitor ou a caríssima leitora no lugar de um destes empresários, funcionários e lobistas apanhados em falcatruas na Petrobras. Sem ofensa, por favor, apenas como exercício mental.
Vendo todo mundo se beneficiar das delações premiadas e você em cana há meses, a quem não “delataria”? Ao Papa, até, se pudessem acreditar que ele tivesse ciência…
O papel do Ministério Público, claro, seria desconfiar das acusações e só prosseguir se apresentados fatos concretos a ratificá-las. Mas é isso o que faz o delegado que pediu para colocar Lula na condição de investigado, quando ele próprio escreve que não há tais dados concretos?
Há mais semelhanças, porém:
“A investigação ouviu cerca de 20 pessoas em mais de dois anos, entre elas Lula, que depôs em Brasília em dezembro de 2014, e Horta, ouvido no início deste ano. Ambos negaram os repasses. Também prestaram depoimento Palocci, Dirceu e o ex-deputado Roberto Jefferson, delator do mensalão.
Ao final do despacho de arquivamento, a Procuradoria conclui: “As investigações não conseguiram comprovar o desembolso de valores da empresa em favor do Partido dos Trabalhadores”.
Quer dizer, então, que não é novidade alguma Lula prestar depoimento? Houve escarcéu, manchetes, escândalos, pedidos de autorização ao Supremo, relatórios do MP para isso?
Apenas o exercício da obrigação que tem qualquer cidadão, Lula inclusive, de prestar ajuda a investigações policiais se estas são feitas de forma profissional e isenta, não espalhafatosa e publicitária.
Mas suas senhorias, procuradores e delegados, que compreendem perfeitamente o que isso causa em prejuízos às pessoas públicas, que verão seu nome ser arrastado às páginas de jornais, telas de TV e de computadores como “suspeitos”, sem que nada haja a dizer que são, senão a palavra de um criminoso interessado em se livrar da “cana”, podem ser cúmplices disso?
É certo que já ouviram falar da historia da honra ser como um travesseiro de penas, desmanchado ao vento, que não se pode mais recolher depois.
Na matéria, lá ao final, o advogado de Marcos Valério, Marcelo Caetano, diz que nunca mais interessou-se pelo assunto porque o “Ministério Público não revelou interesse de viabilizar para Marcos Valério uma delação premiada”.
É isso, assim mesmo, curto e grosso: a minha verdade depende do meu prêmio.
Tijolaço
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