11 de Novembro de 2015
Por Jandira Feghali
Lembro de uma entrevista do repórter Caco Barcellos ao iniciar esse artigo. O jornalista era um dos entrevistados na Globo News, quando rebateu ao vivo a prática do chamado "jornalismo declaratório" para o denuncismo sem provas, o suprassumo da imprensa brasileira. Caco desagradou diversos colegas com a declaração, principalmente aqueles que dividem o trabalho no mesmo canal. A prática de acusar ou expor figuras públicas ao bel prazer da indústria de manchetes, muitas vezes a serviço da oposição política, causa estragos irremediáveis.
Lula que o diga.
No domingo (8) foi a vez do "O Globo" expor o próprio erro quando divulgou em letras garrafais na primeira página a calúnia de que o filho do ex-presidente estaria envolvido nas delações da Lava-Jato. Uma denúncia plantada em matéria de um dos maiores jornais do país, controlado por uma das cinco famílias que formam a mídia hegemônica brasileira. É claro que a "desculpa" veio em letras menores e por meio de uma tímida reportagem. Aliás, isso é praxe na Grande Mídia. Quando não é a Justiça que determina o contraditório, as empresas jornalísticas se apoiam em pequenos e escondidos espaços de retratação. Destaque só para a calúnia. Para a retratação, quando há, nem tanto.
Nas eleições de 2014, no auge do desespero do Grupo Abril, uma edição da revista Veja foi projetada às pressas para tentar enterrar a vitória de Dilma no segundo turno e tentar sepultar o projeto popular iniciado por Lula, em 2002. A matéria dizia, sem provas, que a presidenta e ele sabiam dos esquemas de corrupção na Petrobras. A revista, é claro, fracassou.
O mercado do denuncismo tem objetivos políticos, mas também tem objetivos econômicos claros: fazer suas empresas lucrarem. Só ano passado a publicidade online movimentou mais de R$ 8 bilhões e este ano já tem projeção de ultrapassar os R$ 9 bi. No mundo, esse investimento em plataformas móveis (sites de notícia lidos em celular, por exemplo) deve alcançar o montante de US$ 100 bilhões em 2016, segundo estimativas da consultoria eMarketer. É claro que só se anuncia onde há audiência e, pela prática, vale mentir ou acusar sem provas para chamar a atenção do leitor.
Apesar da Câmara dos Deputados ter aprovado o Direito de Resposta, o Brasil precisa urgentemente de uma regulação econômica da mídia. Como bem lembram o Centro de Estudos da Mídia Barão de Itararé, "radiodifusão é, assim como a energia, o transporte e a saúde, um serviço público que, para ser prestado com base no interesse público, requer regras para o seu funcionamento". E hoje, como se vê, elas não existem. A regionalização de Rádio e TV também volta-se a este objetivo, como o PL 1441/2015, de minha autoria, e que pretende regulamentar o inciso 3º do artigo 221 na Constituição Federal.
Conforme aborda o Intervozes, o abuso de mercado e as parcerias duvidosas (Time Life) fizeram de grandes empresas verdadeiros conglomerados midiáticos, como é o caso do Grupo Globo – responsável pela manchete mentirosa contra Lula. Atualmente, a Globo detém 40% da audiência da TV aberta e concentra mais de 70% do mercado publicitário, além de controlar revistas, rádios, TVs por assinatura, jornais variados, gravadoras e produtoras – um verdadeiro monopólio sobre a consciência de massa.
Deve-se combater a estratégia da Grande Mídia de usar e abusar da desinformação quando este tema é tratado. Ao falar de sua regulação ou regulamentação, vigora o discurso propositadamente parcial e distorcido, sugerindo inverdades bizarras como censura prévia e atentado contra a liberdade de expressão. Nada mais falso. Avançar, sim, na democratização da Comunicação é a deixa para defender o Estado Democrático de Direito. Democratizar é dar voz a outros veículos, ampliando a pluralidade de opiniões e de coberturas midiáticas sobre múltiplos assuntos. Isso é fundamental para nossa identidade e soberania. É questão-chave para a democracia que tanto lutamos para conquistar. As futuras gerações agradecem.
Blog da Jandira Feghali - Brasil 24/7
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