sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

DCM: Servidora que denunciou mansão triplex dos Marinho em Paraty teve automóvel queimado; obra irregular tem piscina em praia pública

publicado em 11 de fevereiro de 2016 às 23:55



UMA AVÓ COMBATIVA

do Diário do Centro do Mundo (reprodução parcial)

por Renan Antunes de Oliveira

Quem levantou a lebre foi uma servidora pública federal, concursada, Graziela de Moraes Barros, fiscal do Instituto Chico Mendes (ICMBio), órgão do MMA.

Ela tem apenas 39 anos e já é avó. Mora num sítio escondido numas quebradas e implora pra que o repórter não diga onde é, porque teme represálias.De quem? “Quando fiz a denúncia da casa dos Marinhos, alguém atacou a minha e incendiou meu carro”, conta, sem acusar ninguém.

A Polícia Federal investigou o caso, óbvio que sem sucesso. Hoje, ela anda sempre em carro oficial e acompanhada de uma colega.

Graziela não é mais fiscal. Deu entrevista, na semana do carnaval, em seu escritório na APA Tamoios, no alto de um morro do qual se vê Angra dos Reis e Paraty – a House agora está fora de sua jurisdição.

“Desisti porque passei cinco anos dando murro em ponta de faca. O Estado e a Justiça não enfrentam e nem punem os poderosos. Minha função acaba sendo fazer o papel de polícia contra pescadores e pequenos posseiros”, resmunga, amargurada.

Ela aponta o processo contra os Marinhos como um exemplo de desrespeito: “Eles poderiam ter erguido uma casa menor, de até 200m², o que seria permitido pela lei. Mas fizeram aquele monstrengo de concreto derrubando mata. Foi uma afronta à lei e à natureza”.

Graziela é a estrela da acusação. Ela inspecionou a praia Santa Rita uma vez durante a construção e outra depois que a mansão ficou pronta: “Heliponto e casa devem ser derrubados. A piscina está na praia…” e ela despeja os argumentos que estão no processo iniciado pelo procurador Fernando Lavieri, tim tim por tim tim.


Ela quer os Marinhos fora do pedaço: “Eles entram com recursos e vão rolando. Pagam multas e continuam ocupando a área, esperando tudo cair no esquecimento. Calculo que gastem mais de um milhão em multas e advogados, mas vão continuar lá, porque podem tudo”.

Graziela enumera uma lista de milionários que cometeram crimes ambientais na mesma região. Está desiludida: “Nada vai mudar”.

Na hora da fotografia, Graziela entra em pânico: “Tenho medo de ser exposta”, diz preocupada com sua segurança como se vivesse no meio de uma guerra de gangues. Pede que a foto seja tirada pelas costas, solicitação atendida.

A Paraty House foi desenhada pelo arquiteto paulista Márcio Kogan e sua equipe. Não foi possível localizá-lo para saber se ele nunca ouviu falar da proibição de derrubar Mata Atlântica. Se não ensinaram na faculdade dele, consola saber que já existe preservação ambiental até no currículo da escola fundamental.

O projeto original sempre esteve em desacordo com a lei de máximo 200m² porque saiu da prancheta com 840. Aí foram mexendo e subiram para os 1.300.


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Há uma lenda que diz que a região da cidade colonial de Paraty e de Angra dos Reis (entre São Paulo e Rio de Janeiro) tem 365 ilhas, uma para cada dia do ano.

Duas caixas de concreto aparente repousam engastadas na encosta de uma dessas ilhas; dois prismas modernos por entre as grandes pedras brutas do litoral brasileiro.

Os volumes projetam-se para fora da montanha, quase na altura da praia, num balanço de 8 metros.

A casa, numa engenhosidade estrutural, equilibra-se na topografia do terreno, constituindo um grande vão e um espaço habitável na natureza quase intocada.

Nas pedras de Paraty, na densa mata da ilha, venenosas aranhas, encontram esse volume ortogonal e adentram o gramado que reveste a laje.

Movimentando rapidamente as patas, desbravam o terreno.

As aranhas continuam seus percursos por dentro da residência onde se embreiam por uma coleção de importante móveis do século XX desenhados, entre outros, por George Nakashima, Luis Barragan, Lina Bo Bardi, Sérgio Rodrigues, Joaquim Tenreiro e José Zanine Caldas.

As aranhas se perdem no estofado da poltrona.

Os moradores chegam de barco: depois de pisar na areia, já protegidos pela laje, a entrada da casa é feita por uma ponte metálica sobre um espelho d’água forrado por cristais.

A ponte conduz a uma escada que conecta-se ao volume inferior. Este volume contém parte do programa da casa: uma sala de estar, a cozinha e a área de serviço.

O espaço interno, continuo, tem um grande vão de 27 metros e grandes janelas de vidro que permitem ver a vista, o mar.


A mesma escada da entrada continua, para o volume superior que abriga os quartos. Na parte da frente da casa, painéis retráteis de graveto de eucalipto protegem os dormitórios do sol.

Os espaços voltados para a montanha, têm pequenos pátios internos com iluminação zenital e o uso do concreto armado aparente confere uma textura surpreendente para todas as paredes.

Todas as coberturas da casa são terraços: mirantes para os moradores, para as aranhas venenosas, jardim para as esculturas e para plantas medicinais e ervas comestíveis.

Gabriel Kogan


Ficha técnica:

Arquitetos:Studio MK27

Ano: 2009

Área construída: 840 m²

Área do terreno: 50000 m²

Tipo de projeto: Habitacional

Status:Construído

Materialidade: Concreto e Vidro

Estrutura: Concreto

Localização: Paraty, Brasil

Implantação no terreno: Isolado


Viomundo

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