Nada surpreende na pesquisa Datafolha – parcialmente divulgada à tardinha e certamente a manchete do jornal, amanhã – senão o fato de que seja muito interessante que sejam só 55% dos entrevistados que acham que Lula ofereceu “algum” benefício às empresas que teriam feito obras no sítio de amigos que usa como refúgio em finais de semana.
Porque, afinal, é isso o que todo o país está, há dois meses, vendo, ouvindo e lendo nas televisões, rádios, jornais e revistas. Em todos os meios de comunicação, exceto no pequeno mundinho dos blogs progressistas.
E como o “acusado” não reage, a não ser timidamente, por meio de seus advogados, nem mesmo o pequeno contraditório possível nos meios de comunicação se faz.
É como se passasse um carro de som na sua rua, acusando você disto e daquilo e você permanecesse quieto, dois meses.
É coisa que deixaria com a pulga atrás da orelha o seu vizinho do lado, que dirá o lá do final da rua.
Portanto, tudo para somar, em cima de quem já tem os problemas causados pelo desgaste abissal do Governo Dilma uma crise de honorabilidade pessoal.
Em razão de quê?
Bastaria uma pergunta na pesquisa para que ela ruísse completamente:
– Acha que Lula foi beneficiado por construtoras no caso do sítio em Atibaia?
– Sim, e em troca ele beneficiou estas empresas.
– Beneficiou, como? O que ele fez para elas?
Alguém duvida que o silêncio seria sepulcral? Aliás, é uma pergunta que bem poderia ser feita aos promotores, aos policiais e ao próprio Dr. Sérgio Moro e ficaria sem resposta ou seria respondida com uma conversa de “Rolando Lero” cheia de “em tese”, “poderia”, “estamos investigando”, etc, etc…
É um caso inédito na história do Direito: uma investigação sobre alguém por ter recebido algo em troca de…ah, não sei.
O guardinha recebe R$ 50 para não te multar por ter parado com duas rodas na calçada. O fiscal da feira pede R$20 para deixar você montar uma banquinha de limão ensacado em meio aos feirantes, até os megaempresários da Zelotes pagam uma “baba” a conselheiros para não se consumarem as autuações milionárias que suas empresas sofreram.
Mas Lula ganhou um churrasqueira, um “puxadinho”, uma reforma no telhado de um sítio que nem lhe pertence em troca de um “não sei”.
Depois da grotesca deformação da tal “Teoria do Domínio do Fato”, evoluímos para a “Teoria do Domínio da Hipótese”, isto é: “não sei o que é, mas alguma coisa deve ter feito”.
Se Lula pretendesse se servir do seu prestígio, não bastaria ter feito uma ou duas palestras que cobrissem a obra?
Se quisesse agir de forma desonesta, não seria mais simples pedir que as empreiteiras entregassem aos donos do sítio um “x” em dinheiro e estes pagassem todas as obras?
Tem pouca ou nenhuma importância no estado de histeria policial-judicial em que nos encontramos.
Os carros de som passam em sua rua, nas ruas de todos e, infelizmente, tirando uns guris (já meio encanecidos, é verdade), ninguém aparece para tomar satisfações.
Eu compreendia a ironia da frase “lutamos como nunca, perdemos como sempre”.
Agora vou ter de tentar entender o “nunca lutamos, mas esperamos vencer”.
Tijolaço
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