por Diario do Centro do Mundo
12 de fevereiro de 2016
Publicado na DW.
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Diz-se que os russos têm almas sombrias e torturadas – basta olhar para a literatura deles. Mas uma outra escala de infelicidade, chamada de “índice de miséria”, relaciona níveis de inflação e de desemprego com a quantidade de dor social e econômica que esses indicadores provocam. No momento, de acordo com a Bloomberg, a Rússia é o sétimo país mais miserável do mundo.
Na Rússia, a inflação está em 13%, e o desemprego, em 6%. As estatísticas do governo dizem que os salários reais caíram cerca de 9%. E as lamúrias estão crescendo. Manifestantes na cidade de Rostov-on-Don, no sul do país, saíram às ruas na semana passada usando o humor, em uma paródia do apoio demonstrado aos mortos do atentado contra o semanário francês Charlie Hebdo.
Eles carregavam cartazes dizendo “Je suis ruble”. Em outros, estava escrito “comportamento indecente do rublo: como você caiu” e “levante-se, é hora de recuperar o atraso em relação à África”. Talvez o mais pungente deles seja o que dizia “o rublo não caiu, apenas escorregou em um pedaço de salo”, se referindo a um especialidade barata da culinária do leste europeu, feita com o toucinho de porco curado em salmoura ou com páprica. Com o poder de aquisição diminuindo, ela pode ser considerada agora quase uma iguaria de luxo.
A organização russa independente de pesquisas de opinião Levada Center afirma que a paciência da população está se esgotando. Falando na conferência anual da organização, dedicada às questões econômicas, a especialista da instituição Natalia Tikhonova previu que levará apenas mais 12 meses antes que estes protestos pequenos e bem-humorados sejam substituídos por manifestações em massa.
Tikhonova alertou que 28% da população estão trabalhando em empregos de tempo parcial para se sustentar. Artigos de luxo e férias no exterior foram rapidamente se tornando coisa do passado para muitos da classe média, mas, nas áreas rurais, a situação é ainda pior, segundo ela. Nessas regiões, pessoas estão sendo afetadas por demissões em massa nas fábricas, e aquelas que ainda têm um emprego não estão sendo pagas. Trabalhadores são explorados por seus empregadores, e a percentagem de desempregados duplicou no último ano.
Duas economias
Mas a miséria, ao que parece, não é uniformemente distribuída. Em Moscou e São Petersburgo, os ricos continuam comprando suas meias de casimira. Curiosamente, representantes de marcas de luxo afirmam que as vendas têm aumentado desde que as sanções começaram.
E agora a Bloomberg relata que, embora as vendas globais tenham caído em 10% na Rússia, 2015 foi um grande ano para as marcas de luxo. Hermes, diz a agência, dobrou seu espaço na loja de departamentos de luxo GUM, enquanto Prada afirma ter tido crescimento significativo de vendas. As vendas da Rolls Royce na Rússia foram as mais fortes em toda a Europa. Os analistas de mercado dizem que os ricos estão viajando ao exterior menos e estão preferindo gastar seu dinheiro em casa.
E logo eles terão ainda mais para comprar. Em uma tentativa de retardar a queda da economia juntamente com a do rublo, dependente do preço do petróleo, o governo está pensando em vender parcelas de participação em suas empresas de petróleo e diamantes, além de algumas partes do setor bancário. Com seu orçamento definido em um preço do petróleo de 50 dólares o barril, e a commodity sendo negociada atualmente em cerca de 30 dólares ou abaixo disso, a venda de parte desses ativos pode render ao governo alguns saudáveis bilhões de dólares.
Os produtores de petróleo Rosneft e Bashneft e o produtor de diamantes Alrosa estão entre os candidatos mais prováveis à privatização neste ano, de acordo com o ministro russo do Desenvolvimento Econômico, Alexei Ulyukayev.
O presidente russo, Vladimir Putin, diz que a Rússia vai manter uma participação de controle nas empresas e que ele não quer que elas sejam vendidas a preços de liquidação. Analistas têm questionado se a venda vai realmente ir adiante, mas a conveniência econômica pode imperar – e é aí que a Rússia dos ricos vai às compras.
Diário do Centro do Mundo
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