terça-feira, 5 de julho de 2016

Até a Cantanhêde descobriu que a delação virou impunidade. Só não era antes…


POR FERNANDO BRITO · 05/07/2016



Incrivel como o fato de as delações premiadas estarem atingindo agora os “queridinhos” e indo muito além do PT como está ocorrendo uma verdadeira epifania de que é doentio este processo de premiação a criminosos de maneira indiscriminada – ou nem tanto, já que agora se fala em não aceitar mais delações – agora que elas atingiram o núcleo da politicalha que comanda o país.

Comanda agora, aliás, diretamente, porque antes o fazia pela via da chantagem da “governabilidade”.

Domingo, Fernando Henrique Cardoso aderiu abertamente à turma do “estanquem esta sangria”.

Hoje, no Estadão, ninguém menos que Eliane Cantanhêde se insurge contra “la dolce vita” dos delatores e bandidos não-petistas, chegando a heresia de comparar a leniência com que a Justiça tratou o bicheiro Carlinhos Cachoeira:

“(…) Foi aí que a opinião pública descobriu que, apesar de condenado a 39 anos por peculato, corrupção ativa, violação de sigilo e formação de quadrilha, Cachoeira vai muito bem, obrigada, com mulher bonita e filha bebê – enquanto os não delatores, como José Dirceu, amargam a dura vida na cadeia. O que ainda falta para que esse contraventor pare de rir e pague pelos crimes que cometeu, comete e continuará cometendo?

A isso se some a boa vida dos ladrões de colarinho branco que entregam os comparsas. A delação premiada é um instrumento efetivo, reconhecido e essencial nas investigações, mas, com o número de delatores chegando perto de cem, o prêmio começa a parecer excessivo. Muito roubo para pouca pena. Como mostrou a revista IstoÉ desta semana, Pedro Barusco, ex-gerente da Petrobrás (atenção: nem diretor era!), fez delação, comprometeu-se a devolver US$ 100 milhões (quase R$ 400 milhões) e, assim, livrou-se da cadeia e está recolhido ao aconchego do lar, uma bela mansão com piscina, na praia de Joatinga, com uma das vistas mais lindas do Rio.

E vai por aí afora. Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró, Fernando Baiano e, não tarda muito, também Sérgio Machado, roubaram, roubaram e roubaram dinheiro público, mas, como delataram os outros, são punidos com tornozeleiras e trocam celas inóspitas, macacões coloridos, banhos frios e rancho indigesto – destinados, por exemplo, a Roberto Jefferson – e vão lamentar a sorte em mansões de milhares de metros quadrados, quadras desportivas, piscinas espetaculares, vistas estonteantes. Vale a pena delatar! Vale a pena roubar?

Só falta agora o deputado afastado Eduardo Cunha delatar todo mundo, devolver um bocado de verdinhas das suas trustes na Suíça e aderir a uma tornozeleira eletrônica para curtir férias douradas num apartamento milionário, abastecido com os melhores uísques e os vinhos mais caros, com a mulher desfilando suas bolsas Prada do quarto para a sala e da sala para a cozinha. Pronto, Justiça feita!”

Pois é, D. Eliane: “só falta” o Cunha? “Delatar todo mundo”, inclusive aquele que vinha para “unir o Brasil”?

Nós, desgraçados esquerdistas, dizemos há meses e meses que é um absurdo não só a delação em série, como a obtenção de delações – do tipo “sob medida” – e repetiam, por isso, que éramos “protetores de corruptos”, quando não corruptos também.

Agora, derrubado o governo, é preciso mesmo dar um fim nessa sangria.

Se puderem, porque a horda do moralismo fascista – há algo mais imoral e incivilizado que o fascismo? – anda assanhada até com o STF.



Tijolaço

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