Postado em 01 Jul 2016
por : Kiko Nogueira
O carro com a placa onde está escrito “PRESIDÊNCIA DO SENADO” está estacionado na garagem do subsolo do Palácio da Alvorada.
Dois seguranças olham desconfiados enquanto Olímpio Cruz, assessor de Dilma, e eu nos encaminhamos para a sala dele. Renan Calheiros está em reunião com ela, reunião definida horas depois como “para nada” por uma das partes.
Renan sabe que dançará cedo ou tarde e tenta deixar um pé em cada canoa. Investigado, quer desengavetar um projeto que pune abuso de autoridade. “Ela está triste, mas aguerrida”, disse o senador sobre o encontro.
Renan está frito e tem medo de algema. Dilma Rousseff vive seu melhor momento.
O DCM esteve no Palácio da Alvorada para uma entrevista exclusiva na tarde de quarta, 29. Vai ao ar no nosso programa na TVT no domingo às 20h. Posto no final deste texto um trecho. O programa é apresentado por Marcelo Godoy, o “Gogó de Ouro”, e dirigido por Max Alvim.
O afastamento conferiu a ela uma urgência e uma humanidade que não existiam no papel de “gerentona” que os marqueteiros criaram e que ela encarnou com vontade.
O fato de estar num limbo e na batalha lhe deu necessidade de agir e falar como nunca pôde. E, apesar do pacote de sanções do interino, mais liberdade.
Está mais agressiva. Não o Collor apoplético do “Não me deixem só”. Mas Michel Temer é “interino provisório usurpador”, assim mesmo, tudo junto.
Foram-se os tropeços no discurso, metáforas sem pé nem cabeça e as promessas de campanha. Foram-se, também, as circunstâncias e mordomias.
Não há séquito de seguranças. Faz piada com o fato de não ter avião.
Soluções aparecem nas emergências. Estava particularmente surpresa com o resultado de uma campanha de crowdfunding organizada por amigas do tempo da clandestinidade. Elas estão pedido, na plataforma Catarse, 500 mil reais para bancar as viagens de Dilma pelo Brasil.
A meta caminha para ser batida em três dias. “Eu não vou ficar parada”, avisa, repetindo um mantra sobre a vilegiatura de Temer: uma árvore infestada de praga, em oposição ao machado de golpes militares.
Dilma tem clareza da dificuldade de escapar do impeachment e dos desafios que virão com o mesmo Congresso. Diz-se otimista. (A vantagem do pessimista é que ele fica feliz duas vezes, quando acerta e quando erra).
A ideia do plebiscito perdeu força. “Não depende da vontade do presidente e eu não posso, sozinha, propor algo sem ter o apoio necessário”, afirma.
As conversas com os senadores têm sido frequentes. A perícia que apontou que não houve pedaladas lhe deu mais ânimo e mais argumentos sobre a fraude jurídica.
Supondo que ela voltasse, então: o que faria diferente? “Não vou mais fazer aquela composição. O presidencialismo de coalizão terminou”, aponta.
Mas como governará? “Teremos outras formas de relação com a população e o Congresso”. A tal “governabilidade” não pode ser motivo para impedimento. “O Obama governa sem maioria e ninguém tentou tirá-lo porque é uma democracia madura”, diz. “Aqui teremos também de lidar com esse fato. Não se trata de minha pessoa”.
“Eu cometi erros, mas não fui insensata”. A historiadora americana Barbara Tuchman é evocada.
O livro mais conhecido de Barbara é “A Marcha da Insensatez”, sobre governos que adotaram políticas contrárias aos próprios interesses e pagaram por isso. A Guerra de Troia e a do Vietnã, por exemplo.
Temer como vice presidente foi um erro? Ela não sabia de quem se tratava? “Faz parte da traição a pessoa não mostrar suas reais intenções. Se mostrasse, não seria traidor.”
Para Dilma, Cunha adquiriu um tamanho que não tinha a partir de janeiro de 2015, quando se elege presidente da Câmara. Ela deveria ter negociado com ele? “Não se negocia com o Cunha. Ele tem uma agenda que é dele. Ou você está de acordo com ele ou não tem acordo”, afirma.
Aqui, alguns excertos. Outros virão.
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