segunda-feira, 10 de julho de 2017

As “pré-verdades” das delações da Odebrecht



POR FERNANDO BRITO · 10/07/2017




Na Folha de hoje, intrigante reportagem de Letícia Casado e Camila Mattoso mostra que pouco ou quase nada andaram as investigações sobre as 77 delações premiadas dos executivos da Odebrecht.

O principal motivo, dizem elas, é a falta de provas do que foi alegado pelos delatores:

Pela leitura dos andamentos dos inquéritos, que são públicos, é possível verificar que a maior dificuldade tem sido de buscar provas sobre os pagamentos realizados.

Pelos montantes alegados, aqui e lá fora, é impossível que não haja registros bancários que, ao menos, antecedessem as transferências de dinheiro vivo ou as remessas para o exterior. Para receber um ordem de pagamento de três mil dólares do Google , preciso apresentar ao Banco do Brasil e uma declaração de próprio punho daquilo a que se refere . Não é possível que em transferências de milhões de dólares não haja registros.

E não é por falta de pedidos de comprovação:

Aos delatores, que também foram chamados a depor novamente, a PF pediu mais detalhes dos repasses, mas em geral teve respostas vazias.

Há casos, exemplifica a matéria, de que as denúncias sejam simplesmente falsas, como o da acusação do ex-executivo Alexandrino Alencar, que informou ter se reunido com a deputada Maria do Rosário (PT/RS) para tratar de doações em 2010 num escritório que ela comprovou só ter alugado em 2014!

Enquanto eram acusações, as delações da Odebrecht eram manchetes diárias. Agora, quando se trata de provar os pagamentos – e ninguém está duvidando que sejam muitos e grandes – passam a acumular poeira nos escaninhos da Justiça.

No tempo das “pós-verdades”, elas foram tratadas como “pré-verdades” vinda de bandidos desesperados por obter 600 anos de perdão neste estranho país da delação.



Tijolaço

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