- 16 de julho de 2017
Ele
Publicado no Facebook de Antonio Salvador, estudante da Humboldt-Universität zu Berlin
ESSE TAL DE BRASIL
Finalmente o Brasil voltou aos noticiários da Alemanha. Eu já havia salientado aqui que, desde o impeachment da Presidenta Dilma, a imagem do Brasil foi lançada em queda livre. Na verdade, o país simplesmente deixou de despertar qualquer interesse na imprensa europeia. Hoje, todos os meios de imprensa, absolutamente todos, todos os jornais impressos, todas as tevês, todas as rádios noticiaram a condenação do Presidente Lula.
O clima, por aqui, é de estupefação total, não só porque Lula é o líder político mais importante do Brasil, mas também porque é considerado na Europa um dos líderes mais influentes da História contemporânea mundial. É do consenso geral, na Alemanha, que Lula ocupa o mesmo panteão de Obama, Merkel, Hatoyama, etc.
Durante esses anos todos que vivo por essas bandas, jamais encontrei um alemão que não soubesse quem era Lula e, mais, não o mencionasse espontaneamente com grande respeito. Em todos os congressos e eventos acadêmicos com foco em desenvolvimento socioeconômico dos quais participo, os programas de governo implementados por Lula para redução da pobreza e inclusão social são referência constante, posto que copiados em diversos países. Eu poderia citar centenas de trabalhos acadêmicos nesse sentido.
Hoje cedo, entro no departamento de direito público da Humboldt-Universität e dou a notícia à queima roupa – alguns ainda não haviam lido as notícias: “Lula foi condenado a nove anos e meio de prisão”. Reação unânime: Waaas?? (O quê??).
Nos jornais, os articulistas tentam, sem sucesso, explicar o caso. Falam de um tal apartamento de luxo numa praia, que teria sido reformado pela OAS, mas que não pertencia a Lula… Entre os comentários do jornal Zeit, um leitor indaga: “ Condenado a quase dez anos de prisão porque visitou um apartamento que, em seguida, recusou? País estranho esse tal de Brasil…”.
Na impossibilidade de explicar logicamente a condenação, todos os jornais, claro, aludem às eleições de 2018 e explicitam que Lula não só seria candidato, mas também é o favorito, segundo as pesquisas, muito à frente dos demais, o que certamente faz lançar sobre a condenação, concluem, “suspeitas de fundo político”.
Parênteses: nenhum jornal alemão é filiado ao Partido dos Trabalhadores.
O notório radialista Brendel, da Deutschlandradio, salientou que a condenação não era definitiva, mas fez questão de dizer que ela acentuava ainda mais o “caráter surreal” dos recentes acontecimentos no Brasil, já que, enquanto condenam o Presidente Lula, sem uma prova concreta que sacie a sanha midiática brasileira, os parlamentares brasileiros manobram para manter no cargo o presidente em exercício que foi, palavras do jornalista, “gravado em transações criminosas”.
Por fim, o NZZ fala em “tempos difíceis no Brasil” e diz que o que está em jogo é o “Comeback de Lula em 2018”.
Sem mais.
Diário do Centro do Mundo - DCM
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