domingo, 6 de fevereiro de 2011
Os que mudam com a chegada ao poder
Já vi pessoas se deslumbrando com 20 anos, com 30, até com 40. O deslumbramento de José Serra com o governo do Estado foi a primeira que vi em pessoas com mais de 60 anos. Foi um deslumbramento completo, visceral, não apenas nas atitudes autoritárias (sempre foi um tanto autoritário), na falta de educação (sempre foi maleducado), mas até na maneira de andar e falar. Comportava-se como um imperador vistoso, onipotente e ridículo.
Certa vez, perguntado por amigo sobre a diferença entre trabalhar com Alckmin e Serra, o falecido ex-Secretário da Sáude Barradas explicou: o Alckmin fala bom dia.
As demonstrações de poder se davam nos menores detalhes. Nas companhias que levava nas inaugurações fechadas (como a do Metrô da Praça da República), nos desafios de derrubar jornalistas, na absoluta cegueira em relação à caricatura em que tinha se transformado - dois amigos íntimos chegaram a procurá-lo e a taxá-lo de "politicamente burro", quando passou a se valer dos seus esquemas na imprensa (particularmente no jornalismo de esgoto) para atacar indiscriminadamente adversários e aliados do mesmo partido.
Cheguei a conjeturar com conhecidos dele se havia algum componente de senilidade em suas atitudes, tal a mudança operada.
O pefil abaixo explica com maestria parte do que ocorreu com o ex-Serra.
Por Aldo Cardoso
Repassando,
Chegada ao "Pudê"
O psicólogo Ricardo Vieira, da UERJ, levanta os quatro(*) primeiros indicadores de mudanças que ocorrem com as pessoas que chegam ao poder:
1) no modo de vestir: o terno, a gravata, o blazer e o tailleur que, antes eram utilizados em circunstâncias especiais, passam a ser usados cotidianamente, mesmo quando não é necessário utilizá-los. Alguns demonstram certo constrangimento em trocar a surrada camiseta e passar a usar um blazer ou uma camisa de linho, pelo menos nas ocasiões especiais. Se antes usava um cabelo comprido, despenteado, logo é orientado a cortá-lo, penteá-lo, dar um trato. Na última eleição para prefeito de Maringá, um candidato foi orientado pelo seu marketeiro para mudar o cabelo enrolado por um penteado de brilhantina. Perdeu a eleição.
2) mudam as relações pessoais: os antigos companheiros poderão ser substituídos por novos, que o leva a sentir-se menos ameaçado. O sentimento persecutório de "ser mal visto", precisa ser evitado a qualquer preço por quem ocupa o poder.
3) altera o tratamento com o outro, que torna-se autoritário com seus subordinados; gritos e ameaças passam a ser seu estilo. Certa vez, perguntaram a Maquiavel se era melhor ser amado que temido? O autor de O príncipe respondeu que "os dois mas se houver necessidade de escolha, é melhor ser temido do que amado".
4) mudam os antigos apoios e alianças. Aqueles que o apoiaram a chegar ao poder, transformam-se em arquivos vivos dos seus defeitos. O poder leva a desidentificação com os antigos colegas de profissão. É o caso do presidente FHC e do seu Ministro da Educação Paulo Renato Souza, depois de executivos, ambos não se vêem mais professores.
5) Resistência em fazer auto-crítica. Antes, vivia criticando tudo que era governo ou tudo que constituía como efeito de governo. Mas, logo que passa a ocupar o poder, revela "sua outra face", não suportando a mínima crítica. O poder os torna cegos e surdos a crítica. Uma pesquisa de Pedro Demo, da Universidade de Brasília, constata que os profissionais de academias apreciam criticar a tudo e a todos, mas são pouco eficazes na crítica para consigo mesmos. Enquanto só teorizavam, nada resolviam, mas quando passam a ocupar um cargo que exige ação prática, terá que testar a teoria; agora é que "a prática se torna o critério da verdade" [5] . Por falta de referencial e por excesso de idealismo, é freqüente ocorrerem bobagens e repetições dos antigos adversários, tais como: fazer aumentos abusivos de impostos, aplicar multas injustas, discursos cínicos para justificar um ato imoral de abuso de poder, etc. Há um provérbio oriental que diz: "quem vence dragões, também vira dragão".
Os sujeitos quando no poder protege-se da crítica reforçando pactos de auto-engano com seus colegas de partido. Reforçam a crença de que representam o Bem contra o Mal, recusam escutar o outro que lhe faz crítica e que poderia norteá-lo para corrigir seus erros e ajudar a superar suas contradições. Se entrincheirarem no grupo narcísico, o discurso político tornar-se-á dogmático, duro, tapado, e podemos até prever qual será o seu futuro se tomar o caminho de também eliminar os divergentes internos e fazer mais ações de governo contra o povo, "em nome do povo".
Léo Mendes
Msn : liorcino@yahoo.com.br
PS - (*) Não seriam cinco e uns complementos?!
Blog do Luis Nassif
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