terça-feira, 19 de julho de 2011

Brasil Maior - Por Benjamin Steinbruch


Passou da hora de o governo criar medidas para melhorar a competitividade da indústria brasileira


Entre 7.000 E 30 mil metalúrgicos, dependendo da fonte responsável pela estimativa, fecharam a pista local da rodovia Anchieta na sexta-feira, dia 8, no ABC paulista. Quem olhasse de longe certamente imaginaria que aquela fosse uma passeata de trabalhadores para reivindicar aumentos de salários.
Não era, diria um observador pouco atento, ao se aproximar da passeata. Nas faixas que os manifestantes carregavam, produzidas pelos sindicatos dos metalúrgicos do ABC e de Mogi das Cruzes, um da CUT e outro da Força Sindical, a maioria dos protestos era contra a importação desenfreada e a armadilha da desindustrialização.
Na fala das lideranças, apareceram frases sobre o risco da crescente valorização do real em relação ao dólar, a elevada carga tributária e a deficiência da infraestrutura, fatores que corroem a competitividade da indústria brasileira. Um discurso aparentemente muito mais frequente entre os empresários.
O observador mais atento, porém, veria não haver nenhuma incoerência no discurso dos metalúrgicos. No fundo, ao protestar contra a valorização do real, os impostos elevados e a falta de infraestrutura, eles estavam brigando mais uma vez por empregos e salários. E tocando no ponto mais sensível do atual momento da economia brasileira.
Nessa briga, como em muitas outras, trabalhadores e empresários estão no mesmo lado. É a briga pela indústria brasileira, que vem sendo fortemente golpeada pela concorrência estrangeira. Em quatro anos, a indústria de transformação, que tinha elevado superavit nas suas transações com o exterior, tornou-se altamente deficitária. O resultado do primeiro semestre é assustador: deficit de US$ 21 bilhões. No primeiro semestre de 2007, houve um superavit de US$ 11,5 bilhões.
O deficit é maior em segmentos de média e alta tecnologia, mas até setores tradicionalmente superavitários, como os de têxteis e calçados, já apresentaram resultados negativos no primeiro semestre. No setor de veículos, 1 em cada 3 unidades vendidas é fabricada no exterior. Neste ano, a importação de automóveis deverá atingir 1 milhão de unidades, um recorde histórico.
Esse cenário não pode ser considerado normal. A indústria perde força, e a balança comercial brasileira vem sendo sustentada pelas exportações de produtos primários, que, felizmente, estão com preços elevados no mercado internacional. Os próprios investimentos estrangeiros diretos na indústria começam a minguar. Nos primeiros cinco meses do ano, caíram 17% em relação ao mesmo período do ano passado.
Os investidores externos procuram colocar mais capital em agricultura, serviços e indústria extrativa mineral, numa demonstração de que não acreditam na performance da indústria de transformação.
Mais do que nunca, quando 60% a 70% do PIB mundial se encaminha para a estagnação, com graves problemas na Europa, no Japão e nos EUA, exige-se extremo cuidado com a preservação do mercado interno brasileiro e estímulo ao desenvolvimento de setores estratégicos da velha e da nova economia.
Na nova situam-se tecnologia da informação, bioenergia, energias renováveis e inovação em saúde. Na velha, entre os setores em que o país pode ser competitivo estão mineração, celulose, alumínio, siderurgia, têxtil, calçados e agrobusiness.
Essas áreas precisam urgentemente de programas específicos de apoio e proteção, com desonerações, desburocratizações e incentivos. Não há porque ter vergonha de preservar e cultivar a empresa brasileira. A afirmação nacional, nessa matéria, não significa voltar as costas para o mercado internacional, mas dar atenção aos setores tradicionalmente competitivos e aos setores inovadores.
Passou da hora de o governo criar medidas para melhorar a competitividade da indústria. Felizmente, pelo que se noticia, um conjunto de medidas nesse sentido deve ser anunciado em breve, com desoneração da folha de salários, revisão de regimes tributários, privilégio a empresas nacionais em compras governamentais e outros estímulos.
Um dos nomes aventados para o pacote de medidas é Brasil Maior. Um bom nome, que evoca a afirmação nacional, pela qual devem brigar trabalhadores, empresários e a sociedade em geral.

BENJAMIN STEINBRUCH, 58, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e primeiro vice-presidente da Fiesp. Escreve às terças-feiras, a cada 14 dias, neste espaço.

Nenhum comentário:

Postar um comentário