sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A última pérola da Folha de São Paulo

“O silêncio da mídia no caso de censura imposta pelo jornal Folha de S.Paulo ao site www.falhadesaopaulo.com.br” foi o tema, ontem, de uma audiência na Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados. Concorrida, reuniu nada menos do que 15 parlamentares de dez diferentes partidos (PSL, DEM PT, PP, PSB, PRB, PDT, PSDB, PSOL e PCdoB). Tamanha e tão diversa presença comprovou o quanto a ação movida pelo jornalão da Barão de Limeira contra os irmãos Lino e Mario Bocchini, criadores do site de paródia Falha de São Paulo, suscita o interesse de representantes dos mais diversos espectros políticos (Leia mais neste blog).

Representando a categoria dos jornalistas, a Federação Nacional dos Jornalistas, a FENAJ, fez questão de contribuir ao debate. Mas o jornal Folha de São Paulo, razão da própria pauta da audiência, absteve-se de comparecer, assim como a nossa velha conhecida, a Associação Nacional dos Jornais (ANJ).



Mas não ficou nisso. A Folha preferiu enviar à Comissão uma carta, no mínimo, surpreendente. O texto, assinado por Otávio Frias Filho, diretor de redação, Sérgio Dávila, editor executivo, e Vinicius Mota, secretário de redação, alega que, apesar do “apreço” pelos trabalhos da Comissão, o jornal declinaria honrosamente o convite por “discordar dos seus pressupostos”.

Pérola dentre as pérolas

Os autores argumentam que o jornal entrou com uma ação contra o blog FalhadeSãoPaulo em função do uso de um logotipo virtualmente idêntico ao de sua marca e em função do uso de endereço eletrônico que poderia “beneficiar-se de audiência parasitária ao fazer réplica da marca agredida”.

Se seus argumentos ficassem nisso, até seria passável. Mas o texto, além de partidarizar o conflito entre o blog (atribuindo-o, indiretamente, ao PT), finaliza com uma pérola: “Sintomaticamente, o cidadão responsável pelo blog foi assessor da administração petista na cidade de São Paulo. Esse comportamento é legítimo no jogo de pressões democráticas. Mas não é “sátira”. Nem independente.”

Difícil de acreditar. Claro, Lino Bocchini reagiu. Ouvido por este blog, argumentou: “Em primeiro lugar, não sou filiado ao partido. Em segundo, mesmo que eu fosse o presidente de qualquer partido, e mesmo que o meu blog não fosse de paródia, e mesmo que ele tivesse como único intento chamar a Folha de São Paulo de tucana, nada mudaria”.

O jornalista ressalta que no Brasil, desde que dentro da lei, até o momento não é proibido fazer a crítica, ou ser filiado a um partido. “Essa carta é reveladora. Certamente, será uma peça para ser debatida em sala de aula como um documento valioso para revelar como agem e pensam as pessoas que chefiam a imprensa brasileira”.


Desrespeito ao Congresso

Para Bocchini, o tom truculento do documento enviado pelo jornal é, ainda, um desrespeito ao Congresso Nacional, aos deputados presentes e a todas as pessoas que gostariam de debater o assunto. Ainda assim, a carta, para ele, traz um lado positivo, pois escancara a verdadeira face dos principais quadros da Folha de São Paulo. “Mostra, também, que o jornal acredita que uma pessoa que faça um blog como o FalhadeSãoPaulo precisa estar a serviço de alguém. Não consegue entender que uma pessoa possa fazer isso por acreditar em um ideal, em uma proposta”, acrescentou.


A carta da Folha de São Paulo à Comissão ainda afirma que seus autores chegam a “acreditar que tenham sido suscitados (a convocar a audiência pública) por desinformação da parte do proponente, o deputado Paulo Pimenta”.

Em resposta, o deputado Pimenta, do PT do Rio Grande do Sul, aliás, ele próprio um jornalista, descreveu a carta enviada pelo jornal como “absurda”. “Esses senhores criaram uma nova tese sobre o exercício do jornalismo: quem já trabalhou em alguma administração pública não poderia ser passível de isenção do exercício de seu trabalho, contaminando irremediavelmente a sua carreira jornalística”, ironizou o parlamentar.

“No entanto, mais da metade das redações, hoje, são ocupadas por profissionais que, em algum momento de suas carreiras, trabalharam em prefeituras, governos Estaduais ou na União. Se o argumento do jornal fosse válido, o Alexandre Garcia, que foi porta-voz do ex-presidente João Figueiredo, não poderia exercer a profissão”, exemplificou.

Confira, abaixo, as imagens das duas partes da carta enviada pela Folha de São à Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados:

Parte 1

Parte 2

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Blog do Zé Dirceu

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