Representando a categoria dos jornalistas, a Federação Nacional dos Jornalistas, a FENAJ, fez questão de contribuir ao debate. Mas o jornal Folha de São Paulo, razão da própria pauta da audiência, absteve-se de comparecer, assim como a nossa velha conhecida, a Associação Nacional dos Jornais (ANJ).
Mas não ficou nisso. A Folha preferiu enviar à Comissão uma carta, no mínimo, surpreendente. O texto, assinado por Otávio Frias Filho, diretor de redação, Sérgio Dávila, editor executivo, e Vinicius Mota, secretário de redação, alega que, apesar do “apreço” pelos trabalhos da Comissão, o jornal declinaria honrosamente o convite por “discordar dos seus pressupostos”.
Pérola dentre as pérolas
Os autores argumentam que o jornal entrou com uma ação contra o blog FalhadeSãoPaulo em função do uso de um logotipo virtualmente idêntico ao de sua marca e em função do uso de endereço eletrônico que poderia “beneficiar-se de audiência parasitária ao fazer réplica da marca agredida”.
Se seus argumentos ficassem nisso, até seria passável. Mas o texto, além de partidarizar o conflito entre o blog (atribuindo-o, indiretamente, ao PT), finaliza com uma pérola: “Sintomaticamente, o cidadão responsável pelo blog foi assessor da administração petista na cidade de São Paulo. Esse comportamento é legítimo no jogo de pressões democráticas. Mas não é “sátira”. Nem independente.”
Difícil de acreditar. Claro, Lino Bocchini reagiu. Ouvido por este blog, argumentou: “Em primeiro lugar, não sou filiado ao partido. Em segundo, mesmo que eu fosse o presidente de qualquer partido, e mesmo que o meu blog não fosse de paródia, e mesmo que ele tivesse como único intento chamar a Folha de São Paulo de tucana, nada mudaria”.
O jornalista ressalta que no Brasil, desde que dentro da lei, até o momento não é proibido fazer a crítica, ou ser filiado a um partido. “Essa carta é reveladora. Certamente, será uma peça para ser debatida em sala de aula como um documento valioso para revelar como agem e pensam as pessoas que chefiam a imprensa brasileira”.Desrespeito ao Congresso
Para Bocchini, o tom truculento do documento enviado pelo jornal é, ainda, um desrespeito ao Congresso Nacional, aos deputados presentes e a todas as pessoas que gostariam de debater o assunto. Ainda assim, a carta, para ele, traz um lado positivo, pois escancara a verdadeira face dos principais quadros da Folha de São Paulo. “Mostra, também, que o jornal acredita que uma pessoa que faça um blog como o FalhadeSãoPaulo precisa estar a serviço de alguém. Não consegue entender que uma pessoa possa fazer isso por acreditar em um ideal, em uma proposta”, acrescentou.
A carta da Folha de São Paulo à Comissão ainda afirma que seus autores chegam a “acreditar que tenham sido suscitados (a convocar a audiência pública) por desinformação da parte do proponente, o deputado Paulo Pimenta”.
Em resposta, o deputado Pimenta, do PT do Rio Grande do Sul, aliás, ele próprio um jornalista, descreveu a carta enviada pelo jornal como “absurda”. “Esses senhores criaram uma nova tese sobre o exercício do jornalismo: quem já trabalhou em alguma administração pública não poderia ser passível de isenção do exercício de seu trabalho, contaminando irremediavelmente a sua carreira jornalística”, ironizou o parlamentar.
“No entanto, mais da metade das redações, hoje, são ocupadas por profissionais que, em algum momento de suas carreiras, trabalharam em prefeituras, governos Estaduais ou na União. Se o argumento do jornal fosse válido, o Alexandre Garcia, que foi porta-voz do ex-presidente João Figueiredo, não poderia exercer a profissão”, exemplificou.
Confira, abaixo, as imagens das duas partes da carta enviada pela Folha de São à Comissão de Legislação Participativa da Câmara dos Deputados:
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