Postado em 03 ago 2014
por : Paulo Nogueira
A refinaria de Pasadena
Falta sentido à mais recente denúncia sobre a Petrobras.
Não exatamente sobre a Petrobras, aliás. Sobre a CPI que investiga a compra da refinaria em Pasadena.
Segundo a Veja, um vídeo mostraria que os convocados tiveram acesso às perguntas. E teriam se preparado para elas.
A história contada pela Veja tem tons rocambolescos, e adjetivos furiosos. O vídeo, diz a revista, foi gravado por alguém com uma microcâmara escondida numa caneta.
Coisa de Bond. James Bond. Tanto mais que a motivação do autor, sempre segundo a Veja, permanece um mistério.
Bem, ajudar a campanha de Dilma certamente não foi a intenção do dono da caneta espiã.
A fragilidade do alegado escândalo se revela quando você sai da superfície e tenta entender a história.
Você pode perguntar: os convocados a depor tiveram acesso a perguntas de arquiinimigos do PSDB e do DEM?
Não.
Não tiveram.
Numa decisão bizarra para quem defendera a CPI com tanto ardor, tanto o PSDB quanto o DEM decidiram não indicar integrantes para a CPI da Petrobras.
Se tivessem feito, PSDB e DEM teriam absoluto controle sobre as perguntas consideradas cruciais para a compreensão do caso.
Mas abdicaram de participar da CPI, por algum estranho cálculo.
Examinemos agora as questões supostamente antecipadas.
Em qualquer sabatina, você se prepara exaustivamente para responder toda sorte de perguntas.
Isso se chama media training.
Muitas vezes, neste treinamento, há uma figura chamada de “advogado do diabo”. Ele faz a você as perguntas que seu pior inimigo faria.
É uma prática também comum para candidatos quando se preparam para um debate.
Que perguntas sobre o caso Pasadena não teriam sido previstas pelos convocados a depor em sua preparação para o depoimento?
É virtualmente impossível imaginar uma “pergunta surpresa” em situações como aquela.
Não é uma prova de vestibular, em que pode cair uma questão sobre a Revolução Russa ou outra sobre a Revolução Francesa.
Na CPI é um assunto só. E um treinamento competente deixa você preparado para a sabatina.
Um esforço genuíno de investigação jornalística se centraria não nas perguntas, mas nas respostas.
Elas foram inconvincentes? Trouxeram informações erradas? Se sim, quais são as falácias e onde está a verdade?
É um trabalho duro para jornalistas, muito mais árduo que bater bumbo em torno de um vídeo tirado de uma caneta.
Você só entende a opção pelo caminho fácil jornalístico à luz de, simplesmente, tentar gerar um escândalo à beira das eleições.
O objetivo, nestes casos, não é esclarecer o público e sim confundi-lo.
Não tem sido fácil transformar Pasadena num novo Mensalão, ou coisa do gênero.
Empresários e executivos acima de qualquer suspeita como Fabio Barbosa, Jorge Gerdau e Claudio Haddad faziam parte do Conselho de Administração da Petrobras na época da compra e a chancelaram.
Por que ninguém os entrevista sobre o assunto?
Porque não interessa. Porque não ajudaria naquilo que se deseja: inventar um mar de lama.
Falta sentido à mais recente denúncia sobre a Petrobras.
Não exatamente sobre a Petrobras, aliás. Sobre a CPI que investiga a compra da refinaria em Pasadena.
Segundo a Veja, um vídeo mostraria que os convocados tiveram acesso às perguntas. E teriam se preparado para elas.
A história contada pela Veja tem tons rocambolescos, e adjetivos furiosos. O vídeo, diz a revista, foi gravado por alguém com uma microcâmara escondida numa caneta.
Coisa de Bond. James Bond. Tanto mais que a motivação do autor, sempre segundo a Veja, permanece um mistério.
Bem, ajudar a campanha de Dilma certamente não foi a intenção do dono da caneta espiã.
A fragilidade do alegado escândalo se revela quando você sai da superfície e tenta entender a história.
Você pode perguntar: os convocados a depor tiveram acesso a perguntas de arquiinimigos do PSDB e do DEM?
Não.
Não tiveram.
Numa decisão bizarra para quem defendera a CPI com tanto ardor, tanto o PSDB quanto o DEM decidiram não indicar integrantes para a CPI da Petrobras.
Se tivessem feito, PSDB e DEM teriam absoluto controle sobre as perguntas consideradas cruciais para a compreensão do caso.
Mas abdicaram de participar da CPI, por algum estranho cálculo.
Examinemos agora as questões supostamente antecipadas.
Em qualquer sabatina, você se prepara exaustivamente para responder toda sorte de perguntas.
Isso se chama media training.
Muitas vezes, neste treinamento, há uma figura chamada de “advogado do diabo”. Ele faz a você as perguntas que seu pior inimigo faria.
É uma prática também comum para candidatos quando se preparam para um debate.
Que perguntas sobre o caso Pasadena não teriam sido previstas pelos convocados a depor em sua preparação para o depoimento?
É virtualmente impossível imaginar uma “pergunta surpresa” em situações como aquela.
Não é uma prova de vestibular, em que pode cair uma questão sobre a Revolução Russa ou outra sobre a Revolução Francesa.
Na CPI é um assunto só. E um treinamento competente deixa você preparado para a sabatina.
Um esforço genuíno de investigação jornalística se centraria não nas perguntas, mas nas respostas.
Elas foram inconvincentes? Trouxeram informações erradas? Se sim, quais são as falácias e onde está a verdade?
É um trabalho duro para jornalistas, muito mais árduo que bater bumbo em torno de um vídeo tirado de uma caneta.
Você só entende a opção pelo caminho fácil jornalístico à luz de, simplesmente, tentar gerar um escândalo à beira das eleições.
O objetivo, nestes casos, não é esclarecer o público e sim confundi-lo.
Não tem sido fácil transformar Pasadena num novo Mensalão, ou coisa do gênero.
Empresários e executivos acima de qualquer suspeita como Fabio Barbosa, Jorge Gerdau e Claudio Haddad faziam parte do Conselho de Administração da Petrobras na época da compra e a chancelaram.
Por que ninguém os entrevista sobre o assunto?
Porque não interessa. Porque não ajudaria naquilo que se deseja: inventar um mar de lama.
Sobre o Autor: o jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Diário do Centro do Mundo
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