Postado em 04 ago 2014
por : Kiko Nogueira
Ele
Geraldo Alckmin voltou a dizer, numa sabatina do Estadão, que São Paulo não precisa de racionamento de água. Não seria “tecnicamente adequado”.
Segundo ele, há uma exploração política do tema. Seu governo teria feito investimentos vultosos nessa área.
A balela é derrubada pelos fatos. Já existe racionamento, de maneira mais ou menos escamoteada, em diversos bairros da capital. Santana, Vila Mariana, Vila Madalena, Lapa, Butantã, Casa Verde, Perus, Itaquera, Cidade Líder convivem com corte à noite.
No interior, a situação é mais dramática. Em Itu, por exemplo, o fornecimento ocorre apenas entre as 18h e as 4h. Em Holambra, toda uma economia voltada para o cultivo de flores está comprometida.
As causas, do ponto de vista ambiental, têm sido discutidas no DCM por nosso colaborador Edson Domingues numa série de posts. Edson apontou as fragilidades do Sistema Cantareira e a inação da Sabesp.
O uso político da crise é feito por Alckmin e não pela oposição. A razão para não falar em racionar e não dar respostas decentes é eleitoreira. Em janeiro, quando foi revelado que o Palácio dos Bandeirantes consumiu 22% a mais do que em dezembro, ele atribuiu o gasto ao calor excessivo. Mais tarde, revelou ao mundo que tem adotado práticas revolucionárias no banho e na hora de escovar os dentes (ele desliga a torneira).
Ora é o verão mais quente das últimas décadas, ora é o “fato climático atípico”. É uma manobra covarde. Em 2001, São Paulo passou por um racionamento. O que se apreendeu da experiência? O que ele pode contar sobre isso?
Digamos que ele encampe a tese de que a questão é a seca recorde. Ou o aquecimento global. Se assim for, ele precisa avisar a população de que algo precisa ser feito.
A título de ilustração: a Califórnia passa por uma seca histórica. O Projeto Hídrico Estadual, responsável pela distribuição, avisou que terá de fechar as torneiras pela primeira vez em 54 anos. Empresas e casas têm uma meta a cumprir. Gado morre nos pastos e há níveis de poluição alarmantes em algumas cidades.
O governador Jerry Brown não mentiu, não atribuiu nada a Odin ou contou que lava as mãos uma vez por semana com suco de laranja Maguary. Num encontro sobre desenvolvimento sustentável, fez um apelo: “Peço a todos os californianos, agências hídricas municipais e qualquer um que utilize água para fazer todo o possível para conservá-la”.
Alckmin faz o que faz porque conta, ainda, com a enorme complacência e ajuda dos suspeitos de sempre. No domingo, o Fantástico fez uma reportagem sobre a falta de água no estado. Mencionou a recomendação do MP Federal para começar de imediato um racionamento.
O nome de Alckmin simplesmente não é citado. Em compensação, ficou registrado que Guarulhos é administrada pelo PT, Saltinho, pelo PDT, e Itu pelo PSD.
No final, ao falar da “região abastecida pelo sistema Cantareira, que inclui a cidade de São Paulo”, é lida uma nota da Sabesp, garantindo “o abastecimento de toda região até março de 2015” graças ao apoio da população e a uma “série de medidas adotadas pela companhia”.
Se Alckmin cresceu de algum maneira nessa crise, foi num outro setor: no talento de tratar o eleitor como um idiota, chova ou faça sol.
Sobre o AutorDiretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.
Geraldo Alckmin voltou a dizer, numa sabatina do Estadão, que São Paulo não precisa de racionamento de água. Não seria “tecnicamente adequado”.
Segundo ele, há uma exploração política do tema. Seu governo teria feito investimentos vultosos nessa área.
A balela é derrubada pelos fatos. Já existe racionamento, de maneira mais ou menos escamoteada, em diversos bairros da capital. Santana, Vila Mariana, Vila Madalena, Lapa, Butantã, Casa Verde, Perus, Itaquera, Cidade Líder convivem com corte à noite.
No interior, a situação é mais dramática. Em Itu, por exemplo, o fornecimento ocorre apenas entre as 18h e as 4h. Em Holambra, toda uma economia voltada para o cultivo de flores está comprometida.
As causas, do ponto de vista ambiental, têm sido discutidas no DCM por nosso colaborador Edson Domingues numa série de posts. Edson apontou as fragilidades do Sistema Cantareira e a inação da Sabesp.
O uso político da crise é feito por Alckmin e não pela oposição. A razão para não falar em racionar e não dar respostas decentes é eleitoreira. Em janeiro, quando foi revelado que o Palácio dos Bandeirantes consumiu 22% a mais do que em dezembro, ele atribuiu o gasto ao calor excessivo. Mais tarde, revelou ao mundo que tem adotado práticas revolucionárias no banho e na hora de escovar os dentes (ele desliga a torneira).
Ora é o verão mais quente das últimas décadas, ora é o “fato climático atípico”. É uma manobra covarde. Em 2001, São Paulo passou por um racionamento. O que se apreendeu da experiência? O que ele pode contar sobre isso?
Digamos que ele encampe a tese de que a questão é a seca recorde. Ou o aquecimento global. Se assim for, ele precisa avisar a população de que algo precisa ser feito.
A título de ilustração: a Califórnia passa por uma seca histórica. O Projeto Hídrico Estadual, responsável pela distribuição, avisou que terá de fechar as torneiras pela primeira vez em 54 anos. Empresas e casas têm uma meta a cumprir. Gado morre nos pastos e há níveis de poluição alarmantes em algumas cidades.
O governador Jerry Brown não mentiu, não atribuiu nada a Odin ou contou que lava as mãos uma vez por semana com suco de laranja Maguary. Num encontro sobre desenvolvimento sustentável, fez um apelo: “Peço a todos os californianos, agências hídricas municipais e qualquer um que utilize água para fazer todo o possível para conservá-la”.
Alckmin faz o que faz porque conta, ainda, com a enorme complacência e ajuda dos suspeitos de sempre. No domingo, o Fantástico fez uma reportagem sobre a falta de água no estado. Mencionou a recomendação do MP Federal para começar de imediato um racionamento.
O nome de Alckmin simplesmente não é citado. Em compensação, ficou registrado que Guarulhos é administrada pelo PT, Saltinho, pelo PDT, e Itu pelo PSD.
No final, ao falar da “região abastecida pelo sistema Cantareira, que inclui a cidade de São Paulo”, é lida uma nota da Sabesp, garantindo “o abastecimento de toda região até março de 2015” graças ao apoio da população e a uma “série de medidas adotadas pela companhia”.
Se Alckmin cresceu de algum maneira nessa crise, foi num outro setor: no talento de tratar o eleitor como um idiota, chova ou faça sol.
Sobre o AutorDiretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.
Diário do Centro do Mundo
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