Postado em 05 ago 2014
por : Jura Passos
Isto é Serra
O Mercado de Notícias, do cineasta Jorge Furtado, está chegando aos cinemas nesta quinta-feira, 7 de agosto, em várias cidades brasileiras.
O filme é baseado na peça de teatro elisabetano The Staple of News, que descreve o surgimento da imprensa. Foi escrita em 1625 por Ben Jonson, o segundo maior dramaturgo inglês da época.
O primeiro era William Shakespeare…
Quatrocentos anos depois, pouca coisa mudou. O filme traz algumas das “barrigas” mais famosas e divertidas do noticiário recente.
Uma delas – praticamente inédita, apesar de publicada pela Folha – aborda o valioso quadro de Picasso pendurado nas paredes do INSS em Brasília ao lado de um retrato de Lula. Não vou entrar em detalhes para não estragar a diversão de quem for ao cinema.
Mas há uma barriga de Furtado no filme. A bolinha de papel do Serra foi incluída entre as barrigas da imprensa.
A bolinha de papel e a bobina do Molina não foram uma barriga.
Foram uma nova versão de outra novela da Globo: Barriga de Aluguel.
O Mercado de Notícias confirma que havia cinco câmeras gravando a imagem de Serra, sob ângulos diferentes. Todas elas mostram que alguém atira delicadamente uma bolinha de papel no candidato.
Possivelmente, um de seus próprios seguranças.
Serra posou de vítima de agressão “petista” e fez até tomografia, requisitada por Jacob Kligerman, um médico carioca que foi secretário de César Maia e presidente do Instituto Nacional do Câncer nomeado pelo próprio Serra.
Não há uma imagem única que mostre o rosto do arremessador, mas todas mostram a bolinha sendo atirada por alguém de pele escura e manga azul, ao lado de alguém de camisa vermelha. Ambos eram seguranças de Serra.
Embora essas cinco imagens não possam comprovar quem atirou a bolinha, trata-se de evidências mais fortes do que as suposições que levaram os manifestantes paulistas Fabio Hideki Harano e Rafael Lusvarghi à prisão. As perícias do Gate e da Polícia Científica já comprovaram que eles não portavam explosivos.
Já a perícia da bolinha de Serra nunca foi feita pela Justiça. Foi feita pelo perito Ricardo Molina para o Jornal Nacional, da Globo, a pedido de Ali Kamel.
Molina concluiu que a bolinha que foi gravada cinco vezes, inclusive pela Globo, era na verdade um rolo de fita adesiva, ainda assim inofensivo.
O rolo de fita tornou-se famoso como a “bobina do Molina”.
A Globo dedica uma página inteira de seu site de memórias para se justificar, incluindo até mesmo, como Furtado, as imagens da concorrência. E diz que houve duas agressões: primeiro a bolinha que pode ter sido lançada pelo segurança e, depois, a bobina do Molina.
A verdade é que não temos prova de nada, por que nada disso nunca foi investigado.
A prova desse crime contra a boa fé pública, em rede nacional de televisão, não está nas imagens da bolinha.
Está na edição da bobina do Molina, encomendada pela Globo, que também encomendou outro laudo pericial para respaldar o primeiro, antes mesmo que ele fosse contestado.
Preventivamente.
Tudo por conta própria, sem qualquer incômodo contraditório por parte do Ministério Público.
Nem sequer a justiça eleitoral tomou qualquer providência a respeito, seja para apurar, seja para evitar a repetição.
Apenas o Dr. Kligerman recorreu ao STF, por Lula ter sugerido a farsa. O ministro Celso de Mello mandou arquivar o processo.
Ficou por isso mesmo.
Enquanto essa investigação não for feita, o Brasil continuará nas mãos de Pecúnia, a bela, valiosa e poderosa estrela do Mercado de Notícias, que jornalistas e poderosos não desistem de tentar conquistar a qualquer preço.
Sobre o AutorJura Passos é jornalista. Formou-se na Escola de Comunicações e Artes da USP e fez especialização em comunicação e políticas públicas no Hubert H. Humphrey Institute of Public Affairs da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. É um eterno aprendiz de capoeira, samba e maracatu e adora viajar de bicicleta por ai, menos em São Paulo.
O filme é baseado na peça de teatro elisabetano The Staple of News, que descreve o surgimento da imprensa. Foi escrita em 1625 por Ben Jonson, o segundo maior dramaturgo inglês da época.
O primeiro era William Shakespeare…
Quatrocentos anos depois, pouca coisa mudou. O filme traz algumas das “barrigas” mais famosas e divertidas do noticiário recente.
Uma delas – praticamente inédita, apesar de publicada pela Folha – aborda o valioso quadro de Picasso pendurado nas paredes do INSS em Brasília ao lado de um retrato de Lula. Não vou entrar em detalhes para não estragar a diversão de quem for ao cinema.
Mas há uma barriga de Furtado no filme. A bolinha de papel do Serra foi incluída entre as barrigas da imprensa.
A bolinha de papel e a bobina do Molina não foram uma barriga.
Foram uma nova versão de outra novela da Globo: Barriga de Aluguel.
O Mercado de Notícias confirma que havia cinco câmeras gravando a imagem de Serra, sob ângulos diferentes. Todas elas mostram que alguém atira delicadamente uma bolinha de papel no candidato.
Possivelmente, um de seus próprios seguranças.
Serra posou de vítima de agressão “petista” e fez até tomografia, requisitada por Jacob Kligerman, um médico carioca que foi secretário de César Maia e presidente do Instituto Nacional do Câncer nomeado pelo próprio Serra.
Não há uma imagem única que mostre o rosto do arremessador, mas todas mostram a bolinha sendo atirada por alguém de pele escura e manga azul, ao lado de alguém de camisa vermelha. Ambos eram seguranças de Serra.
Embora essas cinco imagens não possam comprovar quem atirou a bolinha, trata-se de evidências mais fortes do que as suposições que levaram os manifestantes paulistas Fabio Hideki Harano e Rafael Lusvarghi à prisão. As perícias do Gate e da Polícia Científica já comprovaram que eles não portavam explosivos.
Já a perícia da bolinha de Serra nunca foi feita pela Justiça. Foi feita pelo perito Ricardo Molina para o Jornal Nacional, da Globo, a pedido de Ali Kamel.
Molina concluiu que a bolinha que foi gravada cinco vezes, inclusive pela Globo, era na verdade um rolo de fita adesiva, ainda assim inofensivo.
O rolo de fita tornou-se famoso como a “bobina do Molina”.
A Globo dedica uma página inteira de seu site de memórias para se justificar, incluindo até mesmo, como Furtado, as imagens da concorrência. E diz que houve duas agressões: primeiro a bolinha que pode ter sido lançada pelo segurança e, depois, a bobina do Molina.
A verdade é que não temos prova de nada, por que nada disso nunca foi investigado.
A prova desse crime contra a boa fé pública, em rede nacional de televisão, não está nas imagens da bolinha.
Está na edição da bobina do Molina, encomendada pela Globo, que também encomendou outro laudo pericial para respaldar o primeiro, antes mesmo que ele fosse contestado.
Preventivamente.
Tudo por conta própria, sem qualquer incômodo contraditório por parte do Ministério Público.
Nem sequer a justiça eleitoral tomou qualquer providência a respeito, seja para apurar, seja para evitar a repetição.
Apenas o Dr. Kligerman recorreu ao STF, por Lula ter sugerido a farsa. O ministro Celso de Mello mandou arquivar o processo.
Ficou por isso mesmo.
Enquanto essa investigação não for feita, o Brasil continuará nas mãos de Pecúnia, a bela, valiosa e poderosa estrela do Mercado de Notícias, que jornalistas e poderosos não desistem de tentar conquistar a qualquer preço.
Sobre o AutorJura Passos é jornalista. Formou-se na Escola de Comunicações e Artes da USP e fez especialização em comunicação e políticas públicas no Hubert H. Humphrey Institute of Public Affairs da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos. É um eterno aprendiz de capoeira, samba e maracatu e adora viajar de bicicleta por ai, menos em São Paulo.
Diário do Centro do Mundo
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