seg, 08/09/2014 - 10:22
Atualizado em 08/09/2014 - 11:09
Luis Nassif
Sobre a posição atual dos grupos de mídia
A atuação da mídia como partido foi liderada pelo falecido Roberto Civita, do grupo Abril, inspirado no modelo de atuação de Rupert Murdock nos Estados Unidos.
Sentindo o fim do monopólio virtual do mercado de opinião, com o avanço da Internet, Murdock montou uma frente política com os demais grupos de midia para eleger o seu presidente. Buscou na ultra-direita a retórica mais virulenta, inaugurou os ataques pessoais a políticos e jornalistas "inimigos", inundou o país de boatos e injúrias da pior espécie, disseminando-as pelas redes sociais. E valeu-se de todos os recursos dos grupos de mídia - dramatização da notícia, demonização do inimigo, aceno com o fim dos tempos - para emplacar seu candidato.
Perdeu e a primeira atitude de Barack Obama, eleito, foi convidar os presidentes da Apple, Google e Facebook para visitá-lo na Casa Branca.
Foi a marca das eleições brasileiras de 2006 e, especialmente, de 2010.
O padrão é cansativo, de tão previsível.
Veja saia na frente com seus factoides e o grupo repercutia em seguida. O fórum de orquestração se dava no Instituto Millenium. A um mês das eleições, aumentava-se a dose e tentava-se a bala de prata.
A morte de Civita acelerou o processo de perda de rumo dos grupos de mídia Pagou-se um preço caro com a orquestração contra a Copa do Mundo, que marcou o fundo do poço da credibilidade da mídia.
Sem a antiga orquestração, os jornalões passaram a agir com o fígado, sem obedecer a uma estratégia concatenada.
De um lado, perceberam que precisariam recuperar credibilidade para dar eficácia às rodadas de ataque que antecederiam as eleições. Aí um jornal levanta o caso do aeroporto de Aécio, os outros vão atrás, na crença de um escândalo menor legitimando os escândalos maiores contra o PT. De repente, o tema sai do controle, e Aécio se queima.
Depois, vêem Marina subindo, e ajudam na ascensão.
No meio do caminho dão-se conta de uma realidade:
1. Aécio lhes garante a volta ao controle do Estado.
2. Com Dilma, nada perdem, mas nada ganham. Dilma mantém a cartelização da publicidade mas não faz negócios.
3. Marina é uma incógnita. Seu programa aprofunda o conceito de democracia participativa ao mesmo tempo em que ela se curva às pressões de pastores evangélicos - o grupo que mais cresceu na mídia tradicional, enfrentando inclusive o poder da Globo. A política econômica é mercadista mas seus princípios ambientais são contra a economia real. Ora ela diz sim, ora ela diz não.
Sobre o álibi Veja
Em um segundo turno, entre ela e Dilma, o ódio ao PT fala mais alto. Embora o Estadão avente a hipótese de que Marina seja braço auxiliar de Lula - o que comprova que os jornalões estão pretendendo tirar da blogosfera até o monopólio das teorias conspiratórias.
Não mais que de repente, o factoide de Veja traz a esperança de uma respiração boca a boca capaz de ressuscitar a candidatura Aécio,.
O fato em si é simples.
Não se discute a existência do esquema Paulo Roberto Costa. É evidente que controlava uma organização criminosa incrustada na Petrobras e que tinha padrinhos políticos. E é fato que gravou depoimentos, dentro do acordo de delação premiada.
A reportagem da Veja não traz um indício de acesso ao relato. Pode ter enfiado na reportagem o que ela achasse melhor. Ou alguém acredita no respeito da revista pelos fatos?
O que importa é a maneira como os grupos de mídia tratam o escândalo.
Soltam a matéria, dão a repercussão e cobrem as páginas dos jornais com matérias sem fontes, informando que "o comando da campanha de Dilma entrou em pânico", "o PT vai ter que alterar sua estratégia e parar de falar no pré-sal", "fontes do Palácio temem que as revelações derrotem Dilma" e coisas do gênero.
Não há menção a nomes e isso lembra em muito a cobertura brasiliense do Planalto no período Geisel. O primeiro time da mídia ouvia Golbery em off. O segundo time, o Sargento Quinsan, personagem folclórico, espécie de ordenança de um dos secretários de Geisel. Na reportagem, tanto um quanto outro era "fonte do Palácio". Ou não? Aparentemente o fantasma de Quinsan voltou a frequentar o Palácio.
No centro da campanha de Dilma, a capa de Veja foi interpretada como um tiro de festim. E a repercussão da mídia atribuída à falta de experiência política das direções de redação, incapazes de avaliações mais aprofundadas sobre estratégias políticas do noticiário. Não se tem dúvida de que o segundo turno será entre Dilma e Marina.
Se houvesse algum efeito, seria a favor de Dilma. Há 12 anos, os eleitores de Lula e Dilma convivem com denúncias e factoides. Se continuam eleitores, é porque as denúncias não têm mais eficácia.
Já os simpatizantes de Marina, atraídos pela ideia de que ela é diferente, são bombardeados com factoides informando que Marina é igual ao PT.
Provavelmente os leitores aumentarão a convicção de que, com Dilma ou Marina, o jornal será sempre igual.
Atualizado em 08/09/2014 - 11:09
Luis Nassif
Sobre a posição atual dos grupos de mídia
A atuação da mídia como partido foi liderada pelo falecido Roberto Civita, do grupo Abril, inspirado no modelo de atuação de Rupert Murdock nos Estados Unidos.
Sentindo o fim do monopólio virtual do mercado de opinião, com o avanço da Internet, Murdock montou uma frente política com os demais grupos de midia para eleger o seu presidente. Buscou na ultra-direita a retórica mais virulenta, inaugurou os ataques pessoais a políticos e jornalistas "inimigos", inundou o país de boatos e injúrias da pior espécie, disseminando-as pelas redes sociais. E valeu-se de todos os recursos dos grupos de mídia - dramatização da notícia, demonização do inimigo, aceno com o fim dos tempos - para emplacar seu candidato.
Perdeu e a primeira atitude de Barack Obama, eleito, foi convidar os presidentes da Apple, Google e Facebook para visitá-lo na Casa Branca.
Foi a marca das eleições brasileiras de 2006 e, especialmente, de 2010.
O padrão é cansativo, de tão previsível.
Veja saia na frente com seus factoides e o grupo repercutia em seguida. O fórum de orquestração se dava no Instituto Millenium. A um mês das eleições, aumentava-se a dose e tentava-se a bala de prata.
A morte de Civita acelerou o processo de perda de rumo dos grupos de mídia Pagou-se um preço caro com a orquestração contra a Copa do Mundo, que marcou o fundo do poço da credibilidade da mídia.
Sem a antiga orquestração, os jornalões passaram a agir com o fígado, sem obedecer a uma estratégia concatenada.
De um lado, perceberam que precisariam recuperar credibilidade para dar eficácia às rodadas de ataque que antecederiam as eleições. Aí um jornal levanta o caso do aeroporto de Aécio, os outros vão atrás, na crença de um escândalo menor legitimando os escândalos maiores contra o PT. De repente, o tema sai do controle, e Aécio se queima.
Depois, vêem Marina subindo, e ajudam na ascensão.
No meio do caminho dão-se conta de uma realidade:
1. Aécio lhes garante a volta ao controle do Estado.
2. Com Dilma, nada perdem, mas nada ganham. Dilma mantém a cartelização da publicidade mas não faz negócios.
3. Marina é uma incógnita. Seu programa aprofunda o conceito de democracia participativa ao mesmo tempo em que ela se curva às pressões de pastores evangélicos - o grupo que mais cresceu na mídia tradicional, enfrentando inclusive o poder da Globo. A política econômica é mercadista mas seus princípios ambientais são contra a economia real. Ora ela diz sim, ora ela diz não.
Sobre o álibi Veja
Em um segundo turno, entre ela e Dilma, o ódio ao PT fala mais alto. Embora o Estadão avente a hipótese de que Marina seja braço auxiliar de Lula - o que comprova que os jornalões estão pretendendo tirar da blogosfera até o monopólio das teorias conspiratórias.
Não mais que de repente, o factoide de Veja traz a esperança de uma respiração boca a boca capaz de ressuscitar a candidatura Aécio,.
O fato em si é simples.
Não se discute a existência do esquema Paulo Roberto Costa. É evidente que controlava uma organização criminosa incrustada na Petrobras e que tinha padrinhos políticos. E é fato que gravou depoimentos, dentro do acordo de delação premiada.
A reportagem da Veja não traz um indício de acesso ao relato. Pode ter enfiado na reportagem o que ela achasse melhor. Ou alguém acredita no respeito da revista pelos fatos?
O que importa é a maneira como os grupos de mídia tratam o escândalo.
Soltam a matéria, dão a repercussão e cobrem as páginas dos jornais com matérias sem fontes, informando que "o comando da campanha de Dilma entrou em pânico", "o PT vai ter que alterar sua estratégia e parar de falar no pré-sal", "fontes do Palácio temem que as revelações derrotem Dilma" e coisas do gênero.
Não há menção a nomes e isso lembra em muito a cobertura brasiliense do Planalto no período Geisel. O primeiro time da mídia ouvia Golbery em off. O segundo time, o Sargento Quinsan, personagem folclórico, espécie de ordenança de um dos secretários de Geisel. Na reportagem, tanto um quanto outro era "fonte do Palácio". Ou não? Aparentemente o fantasma de Quinsan voltou a frequentar o Palácio.
No centro da campanha de Dilma, a capa de Veja foi interpretada como um tiro de festim. E a repercussão da mídia atribuída à falta de experiência política das direções de redação, incapazes de avaliações mais aprofundadas sobre estratégias políticas do noticiário. Não se tem dúvida de que o segundo turno será entre Dilma e Marina.
Se houvesse algum efeito, seria a favor de Dilma. Há 12 anos, os eleitores de Lula e Dilma convivem com denúncias e factoides. Se continuam eleitores, é porque as denúncias não têm mais eficácia.
Já os simpatizantes de Marina, atraídos pela ideia de que ela é diferente, são bombardeados com factoides informando que Marina é igual ao PT.
Provavelmente os leitores aumentarão a convicção de que, com Dilma ou Marina, o jornal será sempre igual.
Jornal GGN
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